sexta-feira, 7 de junho de 2013

TECNO-CIÊNCIA MODERNA, O PARADIGMA DOMINANTE

O interesse desse modo de ser é como são as coisas, como funcionam e como nos podem ser úteis. Não é o milagre de que as coisas são, confrontadas com o nada. Perdemos a relação orgânica com as coisas, as plantas, os animais e com os próprios seres humanos. Tudo se transforma em instrumento para alguma finalidade. Não vemos o ser humano como pessoa, portadora de um propósito, mas a sua força de trabalho, física ou intelectual, que pode ser explorada.
Se algo pode ser feito, será feito sem qualquer justificação ética. Se podemos desintegrar o átomo não há por que não fazê-lo e construir uma bomba atômica. Se podemos lançá-la sobre Hiroshima e Nagasaki, quem o impedirá? Se posso manipular o código genético, não há limite moral ou ético que o possa coibir.
Heidegger nos adverte que esta tecno-ciência criou em nós um dispositivo (Gestell) que considera tudo como coisa ao nosso dispor. Subjugou todos os saberes e transformou-se num motor que se acelerou de tal forma que já não sabemos como pará-lo. Tornamo-nos reféns dele.
Neste ponto Heidegger aponta o altíssimo risco que corremos como natureza e como espécie. A tecno-ciência afetou as bases que sustentam a vida e criou tanta força destrutiva que nos pode exterminar a todos. Os meios estão aí à nossa disposição. Quem segurará a mão para não deslanchar um armagedon natural e humano? Essa é a questão magna que nos deveria ocupar como pessoas e humanidade e menos as taxas de juros. 
A resposta tentada por Heidegger é uma Kehre, uma “Volta” que significa uma revira-Volta. Este é o propósito final de todo o seu pensamento, como o revelou numa carta a Karl Jaspers: ser um zelador de museu que tira a poeira sobre os objetos para que se deixem ver. Como filósofo se propunha remover o que encobre o habitual e o cotidiano da vida. Pela sofisticação técnico-científica ele ficou esquecido, abstrato ou enrijecido. Ao fazer isso o que se revela então? Nada senão aquilo que nos rodeia e que constitui o nosso ser-no-mundo-com-os outros e com a paisagem, com o azul do céu, com a chuva e o sol. É deixar ver as coisas assim como são; elas não nos oprimem mas estão, tranquilas, conosco em casa. Foi buscar inspiração para esse modo de ser nos pré-socráticos, que viviam o pensamento originário antes de se transformar com Platão e Aristóteles em metafísica, base da tecno-ciência.
Mas suspeita que seja tarde demais. Estamos tão próximos do abismo que não temos como voltar. Na sua última entrevista ao Spiegel, publicada post-mortem, diz: “Só um Deus nos pode salvar”. A questão filosófica sobre o destino de nossa cultura se transformou numa questão teológica. Deus vai intervir? Vai permitir 
a autodestruição da espécie?
Como  cristão direi como São Paulo: “A esperança não nos engana”  porque “Deus é o soberano amante da vida” Não sei como. Apenas espero.

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