sábado, 22 de junho de 2013

É O DOENTE E NÃO O SÃO QUE PRECISA DE MÉDICO

O refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, no norte da Itália, guarda uma das mais extraordinárias e famosas pinturas do mundo. Trata-se da Última Ceia, assinada pelo imortal Leonardo da Vinci, que consumiu três anos (de 1495 a 1497) neste impressionante trabalho. A obra foi imitada por outros pintores e reproduzida milhões de vezes. Retrata um dos momentos mais tensos da vida de Jesus, quando Ele anuncia aos doze apóstolos que um deles o haveria de trair . Cristo está no centro e nos rostos dos apóstolos aparecem a preocupação, o espanto e a tristeza.
Os monges reclamavam pela demora na conclusão da pintura. O quadro estava quase completo, faltando apenas um personagem: Judas. Da Vinci recusava-se a continuar o trabalho antes de encontrar um modelo que personificasse, em seu rosto, os traços misteriosos, mesquinhos e maldosos de traidor. Por fim o personagem foi encontrado: um certo Pietro Bandinelli, que aceitou servir de modelo. No final do trabalho, Bandinelli fez uma revelação: ele já servira de modelo a outro personagem do quadro: cerca de dois anos antes, Leonardo usara seus traços para a figura do apóstolo João, o discípulo amado.
Nesses dois anos sua vida havia mudado. Esquecera seus valores, sua vida cristã e afundara em toda espécie de vícios. Dois anos foram suficientes para ver seu projeto de vida ser substituído por uma realidade desordenada e miserável.
Nossa vida é feita de escolhas e as escolhas fazem nossa vida. Escolhas bem feitas encaminham para a felicidade e para a realização; escolhas mal feitas levam para a frustração e para a infelicidade. Enquanto temos tempo, nossas escolhas podem ser refeitas, para o melhor e para o pior.
O livro do Apocalipse ilumina este quadro. O Anjo da Igreja de Éfeso, avaliando a conduta da comunidade, após ressaltar pontos positivos, adverte: “Devo reprovar-te, contudo por teres abandonado teu primeiro amor. Recorda-te pois, de onde caíste, converte-te e retoma a conduta de outrora” 
O Evangelho é um permanente convite para recomeçar. Nossas escolhas podem ser refeitas. O fatalismo não tem lugar no projeto de Jesus. O cego recupera a visão, o surdo começa a ouvir, o mudo a falar, a mulher adúltera readquire sua dignidade e a própria morte é obrigada a ceder diante da vida. Na cruz, ao lado do Senhor, o bom ladrão percebe sua chance, refaz sua vida 
e alcança o paraíso.
Em vez do Deus da ira, do Senhor dos exércitos, Jesus anuncia um Pai que perdoa setenta vezes sete vezes. Garante que Ele não veio para condenar, mas para salvar, exemplificando: “É o doente, e não o são, que precisa do médico”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário