sexta-feira, 7 de junho de 2013

"A VIDA É CURTA DEMAIS PARA SER GASTA E AMARGURAS, QUEIXAS, INVEJA E CIÚMES.

Uma inesquecível lenda oriental fala de dois amigos, empenhados numa difícil viagem em direção à sua aldeia natal. Nagib e Mustafá percorreram juntos milhares de quilômetros em áreas desertas ou enfrentando montanhas e pantanais. Um guia nativo os acompanhava. A fadiga e o calor eram quase insuportáveis. Num determinado momento, os amigos discutiram e Nagib golpeou no rosto seu amigo. Não longe dali, o agredido escreveu na areia: “Aqui, Nagib agrediu seu amigo Mustafá”.
Numa certa manhã chegaram a um rio caudaloso e Mustafá ia se afogando. Mais jovem, Nagib salvou o amigo e companheiro. Agradecido, na rocha que ladeava o rio, em letras indeléveis, ele escreveu: “Neste local, durante uma viagem, Nagib salvou heroicamente seu amigo Mustafá”.
A diferença de atitudes surpreendeu o guia: quando foste ofendido, escreveste a acusação na areia e agora fixas a gratidão na eternidade da rocha? E Mustafá explicou: o benefício recebido ficará para sempre, enquanto que as pequenas traições cotidianas devem ser sepultadas nas areias do esquecimento.
A vida é uma longa e nem sempre fácil caminhada. Não caminhamos sozinhos, a cumplicidade e o apoio dos outros são essenciais. Cada um carrega sua história, suas possibilidades e limitações. Os desencontros fazem parte da caminhada e precisam ser aceitos com tranquilidade. Dom Hélder Câmara garantia: “Se discordas de mim, tu me enriqueces”.
Em sua diversidade, a vida traz muito mais coisas positivas que negativas. É importante deixar que as areias sepultem rapidamente as pequenas contrariedades de cada dia, mas a gratidão merece a rocha da perenidade. A vida é curta demais para ser gasta em queixas, ressentimentos, amarguras, invejas e ciúmes.
Em sua sabedoria jamais superada, os Evangelhos nos apontam o caminho que deve nortear toda a nossa vida. Trata-se da capacidade de perdoar e pedir perdão. Trata- se da capacidade de recomeçar, a capacidade de refazer escolhas. E o perdão, lembra o Mestre, precisa ser sem limites. Simbolicamente é preciso perdoar “setenta vezes sete vezes” (Mt 18,21). Isso deve ser traduzido em perdoar sempre.
Só o perdão consegue zerar o mal, só o perdão pode recuperar uma vida, só o perdão nos torna humanos e divinos. É o perdão que damos aos demais que fixa a misericórdia de Deus: “Perdoai-nos assim como nós perdoamos”. É o perdão que nos faz passar da categoria de condenados para a situação de redimidos. E o detalhe é significativo: o perdão, sobretudo, favorece aquele que perdoa e a recompensa imediata é a paz.

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