Começamos lembrando o que São Francisco disse de si
mesmo: “O Senhor me disse que queria fazer de mim um novo louco no mundo e Ele
não quer dar-me outra sabedoria, a não ser essa” . Francisco sabia
que a pessoa não é só razão, ou trabalho, ou adoração, ou palavra, ou somente
corpo. A pessoa é também festa, celebração, espontaneidade, humor, fantasia,
criatividade etc...
Ao natural, Francisco era alegre e de um temperamento
jovial e festivo. A conversão não anulou essa tendência, mas a potencializou a
ponto de transbordar no cântico das criaturas, composto no momento mais crítico
de sua vida, quando nada o favorecia. Francisco sabia que a alegria é um dom de
Deus. Merece ser respeitado, acolhido e comunicado. Isso o fazia uma pessoa de
fina cortesia e fineza de espírito. O primeiro biógrafo diz que ele “acolheu a
morte cantando”.
A literatura do Romantismo atribui a Francisco
o título de trovador, jogral, cavalheiro e artista . Esse novo modo de
aparecer no cenário da história poderia ter enterrado Francisco no esquecimento,
se apenas fosse visto na ótica da eficiência e da produtividade. Um olhar
utilitarista e capitalista jamais se interessaria por um tipo de louco
assim.
Com suas loucuras e extravagâncias, Francisco se inseria no ambiente
sócio-cultural mais popular, porém, sem se identificar com o mesmo. Assume a
ironia, o cômico, o festivo e a jovialidade, como caminho de aproximação para
alcançar os seus objetivos humanos e evangélicos. Toda essa estrutura
cavalheiresca revelava a sua maneira singular de relação com Deus, com a Igreja,
com as pessoas, com a pobreza, com a vida e com a morte.
Na alegria de
Francisco há uma forma de profecia. De um lado ele anuncia um jeito livre e
feliz de viver, mas também denuncia a escravidão da ganância, do poder e do
nervosismo desgastante do insaciável desejo de acúmulo. Todos percebiam que ele
era muito mais alegre e feliz do que seu pai, dominador e ganancioso. Ele
“gostava de alegrar-se e cantar, andando a toa em Assis, dia e noite, com um
grupo de amigos”.
O temperamento festivo de Francisco não se
manifestava somente quando a vida lhe sorria e a boa sorte o acompanhava, mas
também nos momentos de infortúnio, solidão e desespero. Assim o confirmou na
prisão durante a guerra entre Perúgia e Assis onde “zombava e ria das correntes”.
Quando se sente envolvido com a presença total de Deus, sabe que
Ele o convida a uma nova viagem em sua existência. Francisco vê-se tomado de um
incontida alegria, expressa em saltos, cantos e gestos. Deus não era símbolo da
lei, mas uma festa e uma celebração constante de vida e amor.
Quem assistiu o
filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, lembra Francisco inaugurando a igrejinha de São
Damião e a festa da criação que celebrava o Deus próximo do povo, e a
proximidade do povo com seu Deus.
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