domingo, 11 de março de 2012

OS JÓVENS SÃO OS PRIMEIROS A VIRAR A MESA

Hoje em dia as pessoas em geral, ao invés de projetar sua vida, tendem a buscar respostas imediatas para problemas pontuais. O planejamento lento e laborioso é facilmente substituído pelos remédios que o marketing expõe em profusão de luzes, cores e apelos. Como os analgésicos são muitos e muito diversificados, e estão sempre à mão, poucos se dão ao trabalho de digerir o próprio fracasso ou sofrimento, dele tirando novas lições. Mais fácil que ruminar a dor é correr à primeira farmácia da esquina!

Evidente que isso não ocorre somente com a juventude. Esta apenas costuma ser mais vulnerável e mais espontânea às vibrações ocultas do momento. Uma espécie de termômetro da sociedade em que vivemos. Ou um violão cujas cordas são mais sensíveis à música da moda. De fato, os jovens são os primeiros a “virar a mesa” para escancarar as debilidades, máscaras e hipocrisias de um determinado tempo histórico. Normalmente são também os primeiros a sair às ruas quando percebem “algo de podre no reino da Dinamarca”, para usar a expressão de Shakespeare.
Os exemplos a esse respeito poderiam ser multiplicados à exaustão. É o caso dos Beatles e, de modo particular, de John Lennon. Mas é também o caso da brasileiríssima banda dos Mamonas Assassinas. É o caso dos movimentos juvenis de 1968, em especial na França, mas é também o caso das multidões de “caras pintadas”, que contribuíram decisivamente para o impeachement do ex-presidente Fernando Collor.
O que marca a juventude atual, segundo Galimberti, é uma alfabetização díspar: desenvolvida precocemente em termos tecnológicos, informacionais e sexuais, por um lado, protelada no que se refere ao amadurecimento afetivo e emocional, por outro. Numa palavra, os jovens hoje costumam chegar simultaneamente muito cedo e muito tarde. Muito cedo, quando se trata de um aprendizado técnico ou informático; muito tarde, quando está em jogo um projeto de longo prazo envolvendo a própria vida. É mais cômodo realizar experimentos provisórios e descartáveis do que firmar compromissos definitivos. Daí a substituição, em não poucos casos, do “namorar” pelo “ficar”, para citar um exemplo bem prático.
Namorar implica relacionamento profundo. Exige mudanças de comportamento, que interpelam e questionam o cotidiano de cada um. Expõe o indivíduo ao confronto consigo mesmo e com a alteridade. Exige o difícil aprendizado do perdoar e aceitar o perdão. Obriga a pensar o passado e o futuro, numa perspectiva relacional. Já o ato de ficar se caracteriza por um momento de prazer passageiro, que não deixa maiores conseqeências nem cria raízes mais fundas. Até o nome e o endereço do outro/a podem ser ignorados. No caso de não dar certo, é bem mais fácil romper do que um compromisso sólido.





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