terça-feira, 10 de maio de 2011

A INVISIBILIDADE NÃO É UMA LIMITAÇÃO, MAS FAZ PARTE DA CURA CONTRA O ORGULHO E O EGOISMO

Na vida as perdas acontecem aos poucos. Os sentidos vão diminuindo, sobretudo a visão e a audição. Juliana, mãe de três filhos, começou a perceber que estava se tornando invisível. Um dia pediu às crianças: por favor, desliguem a televisão. Foi necessário repetir a ordem três vezes, sempre com maior intensidade. Depois, ela mesma desligou a TV. Na escola, tentou falar com a diretora. Outras mães que chegavam depois eram prontamente atendidas. Dias depois, numa festa, quase todos os convidados já se haviam retirado. Ela também estava pronta para sair. O marido falava com um amigo e não viu a esposa aguardando. Sua conclusão: ele não me enxerga, sou invisível.

Numa noite, o círculo de amizades de Juliana se reuniu na casa de uma amiga que fizera uma viagem à Europa. No fim, cada uma recebeu um brinde. Trouxe isso para ti, disse a anfitriã e entregou a ela um livro sobre catedrais. Ela não entendeu até que viu a dedicatória: com admiração por tudo o que você constrói e ninguém vê. O livro falava das catedrais da Europa. Algumas foram construídas ao longo de 100 ou mais anos. Milhares de operários haviam trabalhado e não sabemos seus nomes. O mais significativo: autor desconhecido. O construtor de uma destas catedrais esmerou-se em pintar um anjo, que ficaria oculto sob o telhado. Alguém observou que ninguém enxergaria o anjo, mas ele esclareceu: Deus vê!
Fechou o livro e viu iluminar-se dentro dela uma certeza: Deus te vê. Nenhum trabalho, nenhum sacrifício, nenhuma lágrima são perdidos, você está construindo uma catedral. Você não a verá concluída, nunca habitará nela, mas Ele está vendo cada gesto por pequeno que seja. Entendeu que a invisibilidade não é uma limitação, não é uma doença, mas faz parte da cura contra o orgulho e o egoísmo.
Não importa que seus filhos não digam aos amigos: vocês não acreditam quantas coisas a mãe faz. E isso desde o despertar: preparar o café, ver se os uniformes das crianças estão limpos, a hora do dentista, a compra de um presente que o filho levará no aniversário do amigo. Depois tem a limpeza, o almoço, as compras, devolver um livro, visitar a sogra que saiu do hospital, trocar a camisa do marido, que prefere outra cor. Mais: a janta, saber como foi o colégio dos filhos, os problemas do marido no escritório e preparar o dia seguinte. O importante é que os filhos tragam os amiguinhos para casa e que o marido sinta-se feliz no lar. Ela não trabalha com estatísticas, nem pede aplausos, nem espera ser vista. Ela está construindo uma catedral. E tem certeza que Deus a está vendo.
Na Grécia antiga, o pintor Zeuxis continuava pintando mesmo idoso e doente. E quando insistiam que não devia expor-se a tanto sacrifício, ele explicou: eu pinto para a eternidade.

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