sexta-feira, 13 de maio de 2011

2700 VEÍCULOS ESTÃO RETIDOS NA FRONTEIRA. IMPORTAÇÕES AUTOMÁTICAS ESTÃO SUSPENSAS

Apesar de o Ministério do Desenvolvimento ter negado que alguma medida tenha sido adotada em retaliação ao país vizinho, o fato é que o governo brasileiro pediu providências para a presidente Cristina Kirchner visando a liberação da entrada de produtos brasileiros na Argentina e não foi atendido. Em resposta, proibiu a entrada no Brasil de 28 produtos argentinos.

Mais de 70 caminhões-cegonha já estão parados na fronteira da Argentina com o Brasil desde a última terça-feira (10), esperando a autorização para entrar no Brasil. São 2.700 veículos das marcas Toyota, Chevrolet e Mercedez Benz. A licença automática para automóveis foi suspensa e as licenças de importação poderão demorar até 60 dias para serem concedidas.
Os empresários argentinos das montadoras de automóveis estão preocupados. A fabricação de veículos é o principal produto da indústria argentina. Em 2010, o Brasil importou 634 mil veículos (18% da demanda brasileira). Deste total, 358 mil foram fabricados na Argentina (56% de toda a importação brasileira de veículos).
A ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, disse ontem (12) logo após reunião de emergência realizada em seu ministério, que “este é tipo de comportamento que vai contra o diálogo natural entre os dois sócios majoritários do Mercosul e afeta o compromisso que assumiram as presidentes de equilibrar a balança comercial”. A declaração da ministra argentina demonstra todo o ressentimento contra a medida brasileira. Conhecida como “senhora protecionismo”, a ministra sustentou que ficou sabendo da medida brasileira através de empresários argentinos. Débora Giorgi é autora de várias medidas de protecionismo contra produtos brasileiros. Segundo analistas argentinos, esta medida é a que mais prejudica a economia do país e atinge a indústria que “é a menina dos olhos de Cristina Kirchner”.
Ainda ontem à noite, a Associação de Fabricantes de Automotores (Adefa) manifestou surpresa com a medida brasileira, dizendo que não houve nenhuma informação para as montadoras argentinas e nem para as brasileiras. Já o ministro da Indústria e Desenvolvimento do Brasil, Fernando Pimentel, disse que o Brasil alertou o país vizinho, ao qual deu prazos para respostas, sem recebê-las.
A ação do governo brasileiro, não confirmada oficialmente, é uma contrapartida à medida adotada pela Argentina ainda no ano passado, de cancelar as “licenças automáticas” de importação de produtos brasileiros, especialmente máquinas agrícolas e produtos da chamada “linha branca” (refrigeradores, fogões e lavadoras). No começo de 2011, a Argentina tinha uma relação de 400 produtos que não tinham licença automática de importação. Em março, acrescentou mais 200 produtos. A ministra da Argentina disse ontem que seu ministério avisou o Brasil da determinação com grande antecedência. “Agora foi diferente, não fomos avisados”.
Técnicos do ministério do Brasil disseram que “a paciência chegou ao limite”. Em março, o vice-chanceler Ruy Nogueira esteve em Buenos Aires com o objetivo de agendar um encontro com os ministros da Indústria dos dois países. A reunião não aconteceu por culpa da Argentina. O governo de Cristina Kirchner também não cumpriu o acordo de até 3 de maio liberar a importação de 200 produtos brasileiros que ainda estão sujeitos a licenças prévias, não automáticas.
O meio empresarial argentino considera que a retaliação brasileira é resultado de pressão dos empresários, que estão com dificuldades para exportar por causa do dólar baixo em relação ao real.
Em 2010, o Brasil exportou para a Argentina 18 bilhões de dólares (44% a mais que em 2009) e importou 14 bilhões de dólares (28% a mais que 2009). Estes valores foram recordes nos negócios bilaterais entre as duas maiores economias do Mercosul. A medida tomada pelo governo brasileiro vai afetar 50% do total do comércio bilateral entre os dois países.
Economia argentina sem rumo
Logo o cancelamento das “liberações automáticas de importação”, o deputado e candidato a presidência argentina, Ricardo Alfonsín disse que a “a política econômica da Argentina está sem rumo”. Ele disse que esta falta de rumo se reflete, mais uma vez, “na relação com o Brasil”. Alfonsín advertiu que a “medida adotada pela presidenta Dilma Rousseff vai impactar na população porque haverá uma diminuição nas exportações e na produção”. O candidato de oposição à presidência da Argentina ressaltou que o Brasil pediu reuniões para tratar do assunto mas o governo de Cristina Kirchner não lhes teria “dado ouvidos”.
Indústria automobilística saiu do fundo do poço
Nos últimos 10 anos, a indústria de veículos da Argentina saiu do fundo do poço. Em 2002, em meio a maior crise econômica e social, as montadoras produziram apenas 90 mil unidades. A partir do ano seguinte a indústria iniciou uma recuperação que alcançou, no ano passado, 724 mil unidades, a maioria exportada para o Brasil.



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