terça-feira, 22 de março de 2011

OBAMA DEVERIA TER FEITO MAS NÃO FEZ NO CHILE

Quando Barack Obama desembarcou no Chile para uma visita de 24 horas, algo crucial faltaou em sua agenda. Havia mariscos suculentos, discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e encontros com poderosos e celebridades, mas não havia planos, sem dúvida, de que o presidente dos Estados Unidos tomasse contato com o que foi a experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo do país sofreu durante os quase dezessete anos do regime do general Augusto Pinochet.Por mais importante que foi a experiência de Obama na visita a América do Sul, há outra que seria ainda mais significativa. À noite, que ele foi jantar no mesmo Palácio Presidencial onde Salvador Allende morreu muitos anos atrás, em defesa do direito de seu povo escolher seu próprio destino. Allende está enterrado em um cemitério não muito longe de onde a elite do país estava brindando pela amizade eterna entre Chile e os Estados Unidos. Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu escrupuloso protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Se ele simplesmente parasse neste lugar, ficasse de pé diante dos restos de quem foi, como ele, um presidente eleito por seu povo, e dedicasse um par de minutos solitários?


Não seria imprescindível que pedisse perdão ou expressasse remorso pela intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. Essa homenagem a um presidente que entregou sua vida lutando pela democracia e a justiça social mandaria uma mensagem a América Latina e a todo o planeta que seria mais eloquente que cinquenta discursos retóricos. Seria um sinal de que talvez seja mesmo possível uma nova era das relações entre os Estados Unidos e seus vizinhos, ao sul do rio Bravo, que o passado tão amargo e injusto nunca mais há de voltar, nunca, nunca mais.








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