quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

OS DOIS TEMPOS

As crianças haverão de entender

Aquilo que o tempo comeu, o tempo trará de volta. Como diz absurdamente o livro do Eclesiastes: "Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás..." Pão sobre as águas do rio. As águas do rio passam e dissolvem o pão. As águas voltam – porque o rio é circular – e com elas volta também o pão. Tudo se repete. Não leio de novo o jornal de ontem. Ele está morto. Mas leio de novo, muitas vezes, o poema que já li, e sempre que o faço a vida ressuscita.

Os homens racionais devem ter paciência com os sonhadores. Porque esse tempo eterno são os sonhadores que o sentem na sua alma e o transformam em literatura. Fernando Pessoa se perguntava: "Ah, quem sabe, quem sabe, se não parti outrora, antes de mim, dum cais... Quem sabe se não deixei, antes de a hora / Do mundo exterior como eu a vejo / Raiar-se para mim, / Um grande cais cheio de pouca gente..."

Por que estou escrevendo essas coisas sobre o tempo do jornal e da notícia e sobre o tempo da poesia e da repetição? Porque estou com vontade de ressuscitar coisas que já publiquei. Foi o fracasso da conferência de Copenhague. Quero escrever de novo o que escrevi. Se os grandes políticos, economistas e cientistas não se entendem, as crianças haverão de entender...


 

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