terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NOVO MENSALÃO, VELHA IMPRENSA – Observatório da Imprensa.

Se a imprensa brasileira avançou muito nas últimas décadas, a de Brasília, capital federal e quarta maior cidade do país, parou no tempo. O caso envolvendo o governador José Roberto Arruda, tornado público pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, é apenas o exemplo pronto e acabado do nível de compromisso ético do principal jornal local, o Correio Braziliense, e de seu (distante) concorrente Jornal de Brasília. A cobertura, nos dois dias seguintes à divulgação das acusações feitas pelo ex-secretário Durval Barbosa, fartamente documentadas com gravações de áudio e vídeo, traz saudades dos casos mais pitorescos – e absurdos – protagonizados por Assis Chateaubriand, o Chatô, fundador dos Diários Associados.

No sábado, um dia após o caso se tornar público, o Correio Braziliense saiu-se com a seguinte manchete: "GDF e distritais são alvo de investigação". À parte a impossibilidade de o "governo do Distrito Federal", por razões óbvias, ser alvo de uma investigação criminal, a ausência de menção a José Roberto Arruda, inclusive na submanchete ("PF e Justiça apuram suposto esquema de propinas a parlamentares"), ignora qualquer critério jornalístico conhecido. A manchete do Jornal de Brasília, o presumido concorrente, foi ainda mais surreal: "Arruda exonera secretários".

De olhos bem fechados

Apenas para efeito de contraste, confira as manchetes dos três jornais mais vendidos no país, no mesmo dia:

O Globo: "Governador do DEM é suspeito de pagar propina a deputados"

PF grava José Roberto Arruda negociando repasse de dinheiro com assessor

Folha de S.Paulo: Governador do DF é acusado de corrupção

Segundo a PF, secretário gravou pedido de distribuir R$ 400 mil a aliados; Arruda (DEM) nega acusação

O Estado de S. Paulo: Polícia flagra "mensalão do DEM" no governo do DF

Suposto esquema teria até mesmo participação do governador Arruda

No domingo, o Jornal de Brasília, talvez convencido de que o envolvimento de Arruda no caso era indisfarçável, admitiu citá-lo em sua manchete: "DEM pressiona o governador". No entanto, o Correio, líder absoluto do mercado brasiliense, não só manteve os olhos fechados, como pôs no alto da primeira página sua série especial sobre o crack. Abaixo da dobra, veio o tema secundário, e novamente por vias oblíquas: "OAB-DF pede explicações sobre denúncias". O nome de Arruda, ou mesmo o cargo de governador, não apareceu nem no imenso texto abaixo do título: "Instituição determina abertura de processo para analisar suposto esquema de corrupção no GDF. Com vários distritais citados no inquérito, Câmara não chega a consenso. TV divulga vídeos gravados pelo ex-secretário Durval Barbosa, exonerado do cargo".

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