terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O VENTO LEVOU...

Ele fora um orador de renome. Na mocidade fizera pregações memoráveis e muitos vinham de longe para ouvi-lo. Agora, velho e adoentado, estava recolhido num convento. Deixara para trás a vaidade dos primeiros anos e o pessimismo era seu companheiro. Fizera pouco, muito pouco, para o Reino de Deus. Foi isso que ele disse a um visitante. Indicou num canto centenas de papéis escritos - seus famosos sermões e, sobre eles, colocara uma sentença: E o vento levou!
O visitante contou-lhe, então sua história. Há muitos anos, num período difícil de sua vida, escutara uma de suas pregações sobre a semente. Seu coração machucado era terra dura, cheia de pedras e espinhos. Aparentemente, o vento levou a pregação. Mas uma pequena e teimosa semente encontrou um pouco de terra. Passaram-se meses, anos, e essa semente germinou. Aquele coração machucado e duro tornara-se terra fértil e a semente acabou multiplicada. Ele era a prova de que o vento não levara tudo.
Vivemos no século da eficiência. Tudo o que tem sucesso é bom. Não ter sucesso é sinal de fracasso. Mas no Reino de Deus não é assim. Deus tem paciências infinitas e os seus dias não têm fim. O grande profeta Isaías, um dia avaliou sua atuação: “Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto”.
O próprio Jesus experimentou o fracasso. Na hora decisiva foi traído, abandonado e morreu na solidão da cruz.
A dinâmica da semente e do Reino são bem diferentes das realidades terrenas. É por isso que o Evangelho manda semear a semente sem preocupações, beirando a irresponsabilidade. E ela pode cair no solo duro da beira do caminho ou na terra pedregosa e cheia de espinhos. Mas sempre haverá um canto de terra fértil. Entre dois tijolos, na fresta de um muro ou num cantinho de rocha, aparentemente contra todas as possibilidades, a semente – levada pelo vento – germina. O Reino de Deus é visibilidade, mas também mistério, balança entre o já e o ainda não, é tempo e eternidade.
Um conhecido canto religioso exorta: “Põe a semente na terra e não será em vão! Não te preocupe a colheita, plantas para o irmão”. O vento levará essas sementes até lugares improváveis e inimagináveis. Sem pressa. Mas nunca podemos duvidar do poder da semente. E um dia, Deus não nos perguntará quanto colhemos, mas quererá saber quanto semeamos. E por isso, continuo escrevendo.

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