quarta-feira, 31 de março de 2010

OS QUE ALARGARAM OS HORIZONTES HUMANOS

Mais ou menos no tempo do Imperador Tibério, ninguém sabe exatamente onde, nem quando, um personagem do qual se ignora o nome abriu uma brecha no horizonte da humanidade. Ele não foi um filósofo, nem um tribuno, mas ele deve ter vivido de tal modo que toda a sua vida significasse uma certeza: cada um de nós pode, a cada momento, começar um novo futuro.
Dezenas de narradores do povo nos relatam esta boa nova. Nós conhecemos três ou quatro. O choque que receberam, eles relataram com algumas imagens. Pessoas simples, humilhados, ofendidos, martirizados sonham que tudo se torna possível: o cego começa a ver, o paralítico a caminhar, os famintos do deserto recebem pão, a prostituta recupera a dignidade e um menino morto volta à vida. Para firmar, sem fronteiras, a boa nova foi necessário que ele mesmo, por sua ressurreição, anunciasse que todos os limites, inclusive os limites da morte, fossem vencidos.
Um ou outro erudito pode negar alguns fatos desta existência, mas isto não muda nada, não altera esta certeza que transforma a vida. Um braseiro foi e continua aceso. Isto prova a fagulha inicial. Este braseiro teve uma consistência imensa, sem a qual teria sido apagado por Nero, Diocleciano e todos os poderes do mundo.
Neste homem o amor foi intenso e militante, subversivo, sem o qual não teria sido crucificado. Toda a sabedoria, até então, repousava sobre o destino, sobre a necessidade confundida com a razão. Ele mostrou a loucura desta proposta: ele é o contrário do destino. Ele é a liberdade, a criação, vida; ele destruiu o fatalismo da história. Cumpriu as promessas dos heróis e dos mártires, e o grande sonho da liberdade. Todos os muros, imagens míticas do destino, foram derrubados. O fatalismo terminou, o homem começa a viver. De alguma maneira é um novo nascimento do homem.
Eu olho esta cruz que é o símbolo daqueles que alargaram os horizontes humanos: São João da Cruz, que nos espanta na teimosia de nada ter; Karl Marx, que nos mostra como é possível mudar o mundo; Van Gogh e todos aqueles que nos fizeram tomar consciência de que o homem é demasiadamente grande para bastar a si mesmo.
Ao longo da história, tantos, a partir de Constantino, tentaram roubar o rosto deste homem. Devolvam-no! Sua vida e sua morte nos pertencem. Sem ele não haveria nenhum sentido.
Poder crer, atributo divino do homem! É a minha hóstia, minha presença real, que se renova cada vez que algo de novo nasce para engrandecer o homem, no amor mais louco, numa descoberta científica, num poema ou numa revolução.

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