quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

SOFRER...

Passar a vida sem sofrimento é sonho da sociedade moderna. No intento deste sonho as dores são anestesiadas, os sofrimentos suprimidos e registra-se uma autoprivação da paixão pela vida. Faz parte do labor das ciências este sonho da sociedade moderna de alcançar a felicidade sem sofrimento. Porém, a vida humana é marcada por sofrimentos de toda natureza. Responder a cada sofrimento aproxima a vida humana da cruz de Cristo.

O termo sofrimento deriva do latim sufferre, formado de sub – “sob”, “embaixo” — e ferre – “levar”, “conduzir”. Os antigos romanos usavam o termo para designar quem estava “sob ferros”, submetido à força, o que é próprio do escravo ou prisioneiro. É a experiência de sentir-se por baixo, empurrado para o chão. O sofrimento é fruto de situações de medo da morte, das impotências, das doenças, das perdas, etc. Infelizmente temos dificuldade em lidar com o sofrimento e consequentemente não sabemos como ajudar aos sofredores.

Nos sofrimentos confrontamos a natureza humana completa e limitada em carne, espírito e psique. O sofrimento assume também o confronto com o potencial presente nas pessoas. A luta contra os sofrimentos demonstra a estima e resistência da natureza humana. Na tentativa de superação dos sofrimentos apresenta-se a expectativa de irrupção do novo, consciência da fragilidade e de possibilidade de reflexão para um novo nascimento. Isto é, o sofrimento adquire um significado capaz de determinar nova expectativa de vida. Ante o sofrimento, por um lado a sociedade moderna busca meios de superá-lo ou reduzi-lo ao mínimo. E por outro lado, parecer ser essa luta inglória perante um cenário social, humano, que revela cruéis e novas faces de sofrimentos infrutíferos.

Ademais, criar situações de sofrimento às pessoas — tais como escravidão, opressão, exploração humana e social — é postura eticamente abominável. O teólogo contemporâneo alemão Jürgen Moltmann lembra que “os sistemas de injustiça humana na economia mundial e na hegemonia política custam, anualmente, a vida de milhões de pessoas, em primeiro lugar de crianças no terceiro mundo”. Também são refutáveis os sistemas de exploração técnico-científico que destroem a biosfera da Terra e centenas de espécies da flora e fauna, lembra o papa Francisco na encíclica Laudato Si. Nesta direção, igualmente são detestáveis a alienação e a manipulação das pessoas.

A sociedade moderna busca rejeitar a teologia da cruz e as tribulações da vida. Contudo, é incapaz de evitar o sofrimento infrutífero da fome, da injustiça, da miséria. Logo, é preciso buscar o sofrimento frutífero por uma nova humanidade alicerçada no amor e na solidariedade. O ensinamento do sofrimento que vem da cruz de Jesus indica essa condição, justifica esperança futura de nova vida para toda a humanidade.

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