segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A VIDA NA SUA TOTALIDADE

Uma característica da antropologia cristã moderna reside na superação da inimizade da alma contra o corpo, do espírito contra a matéria ou a carne. A modernidade tão palatável aos olhos acentua a natureza corporal. O estilo moderno não apenas acentua a corporalidade, mas também afastou todos os tropeços da carnalidade. Isto é, sacrificar o corpo diminui as esperanças de dias melhores. Essa postura não deixa de ser anseio por novos paradigmas de vida humana.

Sacrificar o corpo em benefício da natureza espiritual encontra poucos adeptos na cultura moderna. As concepções modernas de valorizar a natureza corporal não são meras fantasias do prazer e sim desejo de novas relações com a própria vida. Ela tem relevância ao valorizar a natureza carnal em favor da personalidade das pessoas. A natureza humana corporal não é um cativo desnatural de corruptibilidade, como pensavam os teóricos gregos e a teologia cristã reforçou por bom tempo.

Desde Platão até os modernos, desvaloriza-se o corpo e privilegiam-se dimensões subjetivas: eu, sujeito, consciência, razão, ideia, etc. Na antropologia platônica, a natureza do homem é racional. A razão realiza o homem e a sua humanidade. Somente a razão realiza o sumo bem, que para Platão é, ao mesmo tempo, felicidade e virtude. O corpo humano é obstáculo para a natureza racional. O intelecto encontra obstáculo nos sentidos, na vontade dos impulsos, nos desejos. A realização humana consiste na superação destes obstáculos, morrerem os sentidos, o corpo, para o espírito, o inteligível, a ideia. Explica-se assim o dualismo filosófico-religioso da alma e do corpo. Já o filósofo Nietzsche, na contramão desse pensamento, valoriza o corpo, entendido como fio condutor para a compreensão de todas as questões humanas. As duas visões podem ter exagerado em dimensões opostas, mas o essencial é entender que o ser humano é constituído por forças vitais, como intelecto, afetivas, espirituais, instintivas, psíquicas, corporais. Em todo o caso, essas concepções não podem roubar o sentido e o que suporta a existência humana.

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