quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A MIGRAÇÃO DE AVES E OUTROS BICHOS.

Um dos fenômenos que os moradores do sul do Brasil temos o privilégio de observar anualmente é o da migração de aves. Todos, algum dia, já tomamos um tempo para levantar os olhos ao céu, especialmente num fim da tarde emoldurado por um belo pôr-do-sol, e ficar acompanhando o voo dos pássaros na típica formação de flecha em que um vai na frente abrindo o ar para que os outros que o seguem possam movimentar-se com mais facilidade.

E quando o da frente está cansado, o seguinte o substitui e assim sucessivamente num disciplinado balé que encanta os olhos e nos faz pensar na importância da cooperação harmoniosa para o bom êxito de um empreendimento.

Na primavera, a migração é do norte para o sul. Fugindo do frio ártico, os pássaros deslocam-se em busca de temperaturas mais amenas e de alimentação. Há espécies, como o maçarico-de-papo-amarelo, que partindo do norte do Canadá, em sucessivas escalas, percorre mais de 13.000 quilômetros até o sul da Argentina. Em uma das escalas, da Bahia de Hudson até o Caribe, eles percorrem nada mais nada menos que 5.000 quilômetros em oito dias!

Para realizar tamanha proeza, o maçarico-de-papo-amarelo tem uma preparação remota e outra imediata. A remota lhe é fornecida pela própria evolução e está inserida na sua genética: corpo aerodinâmico, ossos pneumáticos, sistema respiratório e cardiovascular eficiente, musculatura bem desenvolvida... A preparação imediata consiste em comer o máximo possível nas semanas que antecedem a grande viagem para acumular gordura e, consequentemente, energia que será dispendida ao longo do caminho. No fim do percurso, o animal perde, em média, a metade do peso que ao alçar voo no norte. Por isso, as paradas no caminho não são aleatórias. Os pit stop são feitos onde há possibilidade de alimentação abundante e descanso tranquilo.

No Rio Grande do Sul, um dos lugares frequentados por estes turistas anuais é a região lacustre litorânea. A Lagoa do Peixe e o Banhado do Taim vivem anualmente a algazarra produzida por várias espécies de aves migratórias, entre elas o nosso maçarico-de-peito-amarelo. Setembro e outubro são os melhores meses para observá-los de perto já que na volta, no outono, a viagem é muito mais rápida e as paradas ainda mais breves.

Além das aves, outra espécie animal realiza, anualmente, no Rio Grande do Sul, um significativo movimento migratório. Mais curto, é certo e, diferentemente dos nossos pássaros, eles não se movem no eixo norte-sul, mas no leste-oeste. Alguns grupos destes bípedes implumes que normalmente residem na região metropolitana da capital não se deslocam muito mais que cem quilômetros. Outros, da região serrana, entre duzentos e trezentos. Os do centro e oeste do estado, entre quatrocentos e seiscentos quilômetros. Em alguns anos aparecem grupos provenientes da distante Argentina. Mesmo que ainda não haja comprovação científica, muitos afirmam que esta migração também é motivada por predisposições genéticas.

Para observá-los, o melhor posto é a beira da estrada nas tarde de sexta-feira, quando acontece a ida, e no domingo pela tarde, quando se dá a volta. Mas, diferentemente das aves, o movimento, infelizmente, não é sincronizado e cooperativo. Cada qual quer chegar antes que os outros e pouco se preocupa com aqueles que ficam para trás. E por causa da insana competição que se estabelece, alguns resultam mortos. E por isso, diferentemente daquele dos pássaros, o espetáculo nem sempre é prazeroso...

Nenhum comentário:

Postar um comentário