terça-feira, 3 de novembro de 2009

VARGAS, LULA E A COMUNICAÇÃO



Lições da história, os presidentes mudam a comunicação. Casos positivos: Perón criou a TV que já nasceu pública na Argentina; Guevara tomou o exemplo da Agência Latina de Perón e criou a Agência Prensa Latina em Cuba: o general Alvarado no Peru foi além nacionalizando os meios de comunicação e entregando-os aos sindicatos que, sem saber operá-los, os devolveu ao Estado. Chávez criou a Telesur.

A grande transformação comunicativa de sentido público havida no Brasil ocorreu na Era Vargas. Juntamente com a industrialização, a nacionalização do subsolo, a criação das empresas estatais estratégicas, do Instituto do Açúcar e do Álcool para abrir a era da energia da biomassa, e da legislação trabalhista que começava a tirar os trabalhadores da senzala oligárquica do direito trabalhista-zero, Vargas sentiu também a necessidade de mudanças no plano comunicativo e cultural.

Tendo criado o Instituto Nacional do Livro, o Instituto Nacional do Cinema, do Teatro, o ensino público obrigatório, o presidente gaúcho, que também havia sido redator de jornal no movimento estudantil, assume a criação da Rádio Nacional, da Rádio Mauá - a Emissora do Trabalhador -, do jornal A Manhã, A União, na Paraíba, tendo inclusive nacionalizado outros periódicos como A Noite, até mesmo O Estado de S.Paulo, durante o período em que o Tenente João Alberto, ex-integrante da Coluna Prestes esteve à frente do governo paulista.

Vargas criou ainda outras publicações, mas duas delas merecem registro: O Pensamento da América, destinado à integração latino-americana, e a Revista Cultura, cuja excelência, em ambas, devia-se à qualidade de seu quadro de redatores, entre os quais Carlos Drummond de Andrade, Gustavo Capanema, Nestor de Hollanda, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, etc. Estas publicações desapareceram soterradas pela mesma ação demolidora do patrimônio nacional que buscou acabar com a Era Vargas.

É verdade que o sindicalista Lula fez muitas críticas a Vargas, quiçá pela proximidade que tinha com uma certa sociologia paulista, inspirada em valores coloniais-oligárquicos, que mais tarde veio a privatizar a Vale do Rio Doce, a CSN, a Telebrás, a Portobrás, e, em boa medida a Petrobras. Tentaram rebatizá-la de PetrobraX, lembram-se?

Faz muito tempo, Lula chegou mesmo a declarar que "se Vargas era o pai dos pobres, era a mãe dos ricos". Talvez, com a experiência de quem tem que tocar o barco, não as repita hoje. Basta dizer, é o próprio presidente que hoje fala que nunca antes os banqueiros ganharam tanto dinheiro como em seu próprio governo.

Mais importante é, debaixo do tiroteio das declarações, numa caminhada de décadas, que fazem a alegria de uma mídia que quer condenar para todo o sempre a Era Vargas, descobrir linhas de coincidências históricas entre Vargas e Lula. Lembrando que Lula chegou a se emocionar quando visitou o túmulo de Vargas em São Borja, acompanhado de Leonel Brizola. E, mais recentemente, baixou decreto criando a Semana Vargas para que, segundo explicou, todos conheçam profundamente a obra daquele que foi o maior dos presidentes. Declaração dele.

Pois se Vargas criou a Rádio Nacional, a Rádio Mauá, a Voz do Brasil - instrumento de democratização da informação via rádio acessível a uma esmagadora maioria de brasileiros que ainda hoje, como há décadas, continua proibida da leitura de jornal -, Lula, com o mesmo sentido histórico, criou a TV Brasil, a TV pública brasileira, cujo projeto estava sendo trabalhado por Vargas como desdobramento da Rádio Nacional, tendo sido sepultado junto com o gaúcho, para a alegria do capital estrangeiro, das oligarquias nacionais, dos inimigos eternos dos direitos trabalhistas e também da comunicação pública. Hoje continuam tramando contra a Voz do Brasil, atacam o jornalismo chapa-branca, mas perdoam o jornalismo chapa-oligopólio.

Há outras identidades, mantidas as diferenças de épocas históricas: Vargas deu início ao pró-alcool, montou o trem do álcool, Lula o retoma, o valoriza, o expande contra a pressão das potências estrangeiras, ambos os presidentes buscando a independência nacional energética. Vargas concretizou a campanha "O petróleo é nosso", Lula afirma agora que "o Petróleo Pré-Sal é do povo brasileiro não das transnacionais", as mesmas que levaram Vargas ao suicídio-golpe. E ainda convocou a UNE a sair às ruas para uma nova campanha "O petróleo é nosso".

Vargas criou o BNDES, o maior banco de fomento do mundo, que FHC usou contra o Brasil na privataria, mas não conseguiu demolir. Lula recupera parcialmente a função social do BNDES, o fortalece enormemente, fortalece o sistema financeiro público. Outras coincidências: a política externa da Era Vargas, como a da Era Lula, afirmativas da integração latino-americana, da soberania nacional, da independência, não são de tirar os sapatos e rebaixar-se ante ordens de qualquer guardinha de alfândega dos Estados Unidos...

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