sexta-feira, 1 de abril de 2016

ESTOU AQUI SÓ DE PASSAGEM

Conta-se que, no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco. Onde estão seus móveis? Perguntou o turista. E o sábio, bem depressa, olhou ao seu redor e também perguntou: e onde estão os seus móveis? Os meus?! Surpreendeu-se o turista. Mas estou aqui só de passagem! Eu também, disse o sábio. O turista trocou mais algumas palavras e seguiu pensativo.

A transitoriedade da vida nem sempre é assimilada adequadamente. Não se trata de pensar unicamente na finitude. Porém, não convém viver como se não existisse um término. O fato de estar neste mundo somente de passagem, não deve angustiar e muito menos entristecer. Pelo contrário, deve deixar a vida mais leve e particularmente centrada no essencial. A materialidade é uma das dimensões humanas. Há algo que ultrapassa a realidade física e remete à eternidade.

Viver com o necessário deveria ser um sonho coletivo. Algumas poucas coisas são suficientes para alcançar à vida o sustento e o equilíbrio. O supérfluo em nada agrega. Ter mais do que o necessário é colocar em risco o desejo infinito de realização. De uma forma até assustadora, as coisas materiais roubam a serenidade e comprometem a liberdade. A felicidade nem sempre está atrelada ao que cada um possui. A necessidade material não resume as buscas mais profundas do ser humano.

Estar aqui só de passagem é uma sensação interessante, inspiração para adequar posturas e encaminhar escolhas. Não ter bagagem excessiva evita transtornos, favorece a leveza, confirma o essencial. Não ter o coração apegado deixou de ser palavreado para tornar-se condição de felicidade. Fomos feitos para a eternidade. Para além do horizonte, contemplamos um mistério que nos convoca à transcendência e à esperança.

Assim como o turista se afastou pensativo daquele nobre sábio, por uns instantes meu coração se recolhe para rever algumas atitudes e reinventar a relação com os bens materiais. Para viver bem não há a necessidade de acumular muitas coisas. Viver um pouco mais leve, com menos preocupações e sem apegos é questão de escolha. É interessante recordar diariamente: estamos aqui só de passagem.

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