sexta-feira, 29 de abril de 2016

SAUDAR O SOL TODOS OS DIAS.

Santidade e humildade eram as virtudes mais salientes de um monge. Certo dia um anjo ofereceu-lhe o dom das curas. Deixe que Deus cure, foi a resposta humilde do homem de Deus. Os milagres converterão muita gente, argumentou o anjo, e muitos pecadores se converterão. A tarefa de mudar os corações pertence a Deus, desculpou-se o santo.

Insistente, o anjo prosseguiu: os milagres levarão muita gente a imitá-lo. Não, disse o santo. Eles devem imitar apenas a Deus. O anjo retirou-se sem se dar por vencido. A partir daí, a sombra do santo começou a curar as pessoas. O monge nunca soube, apenas alegrou-se que as pessoas tivessem deixado de lado a sua pessoa e se contentassem com a sombra.

Posição nada parecida era assumida por um belo galo vermelho, dotado de melodiosa voz e de uma exagerada auto-imagem. Notou que sempre que cantava, surgia o sol. Depois de algum tempo convenceu-se que a noite terminava e o dia começava obedecendo ao seu comando. Era ele que determinava o nascer do sol.

Num belo dia, o galo dormiu demais e, ao acordar, deu-se conta que o sol havia surgido sem a sua intervenção. Restaram-lhe duas possibilidades: passar o resto da vida amargurado porque sua missão fracassara ou continuar cantando. Seu canto não faria nascer o sol, mas ele podia saudar o sol que surgia. Conhecer o próprio lugar faz parte da sabedoria da vida. Uma auto-imagem exagerada ou uma auto-imagem muito baixa não ajudam a viver e conviver. Há pessoas que se imaginam como o centro do mundo e consideram invejosas as que não admitem isso. Mas há pessoas que se julgam inúteis, sem dons, sem sorte, inferiores às demais. Conhecer e assumir o próprio lugar contribui para a maturidade pessoal e sua correta inserção na comunidade.

Para aquele que tem fé, Deus é sempre a referência. Santa Teresa de Ávila garantia: o muito sem Deus é nada, mas o pouco com Deus é muito. O Evangelho situa nossa correta posição: “Quando fizerdes tudo o que vos foi mandado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Somos servos inúteis, mas não ociosos ou dispensáveis. Deus decidiu contar conosco. Ele aceita nossa medida. Ele pode agir com nossa sombra.

Nunca é cedo para começar, mas também nunca é tarde demais. A sabedoria simples de São Francisco recomendava, na hora da morte, aos frades: comecemos hoje, porque até agora quase nada fizermos.

Começar hoje, fazer o pouco que podemos, enquanto podemos, é um excelente programa. Não temos o poder de fazer surgir o sol, mas podemos e devemos saudá-lo a cada dia quando surge no horizonte.

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