sexta-feira, 8 de abril de 2016

O ULTIMO DOS ROMANOS E O PRIMEIRO DOS MEDIEVAIS

Apresento um filósofo do período medieval: Boécio. Mas poderá estar se perguntando: o que tem haver um pensador medieval em pleno século XXI? Vamos lá, pois descobriremos juntos a sua importância para o mundo ocidental.

Boécio (480-524) é um filósofo cristão romano, tradutor e comentador dos tratados de lógica de Aristóteles. Ele é considerado uma “ponte” entre o período medieval e o pensamento clássico da filosofia grega, ficando conhecido como o “último dos romanos e o primeiro dos escolásticos”. Além disso, era um dos altos funcionários da corte do rei Flávio Teodorico, mas por um deslize foi condenado à morte.

Na prisão, antes de ser executado, escreveu uma obra intitulada Consolação da filosofia. Nela, expõe sua concepção filosófica com ênfase ao ponto de vista ético e cosmológico. Em seu tratado é possível de perceber uma mistura de concepções clássicas e medievais.

Uma das contribuições de Boécio ao mundo ocidental é o conceito de pessoa. Seu conceito de pessoa perdurou na Idade Média. Para Boécio, “a pessoa é uma substância individual de natureza racional”. Etimologicamente, o termo pessoa provém da palavra prosôpon (grega) e persona (latina). Ambas dizem respeito à máscara usada pelo ator no teatro na Antiguidade Grega, ao representar o papel principal da peça. Daí, pois, surgiu a expressão ‘pessoa’ que com Boécio ganhou a compreensão de individual e racional.

O conceito de Boécio elevou a dignidade da pessoa humana pelo fato de vê-la como um todo, isto é, o ser. O ser é merecedor de dignidade na integralidade humana. O essencial numa pessoa é o fato de ela ser, existir, e não suas características. É uma realidade ontológica, ou melhor, o ser enquanto ser.

O pensamento marcado pelo Cristianismo compreende a pessoa como ser humano racional, livre pela sua dimensão moral e espiritual, consciente do bem e do mal e responsável pelos seus atos. Refletindo um pouco mais sobre a pessoa, hoje ela é muito valorizada pelo ter e o fazer. Nesse olhar perde-se o seu valor essencial que é o ser, porque o ser pessoa vem primeiro.

Toma-se o ter e o fazer como superiores, em detrimento do ser, ou seja, troca-se o essencial pelo acidental. Desse modo, a pessoa perde o seu verdadeiro sentido, pois não se dá valor a ela pelo fato de ser pessoa, mas por ter posses, por tal profissão ou titulações que, por sua vez, não trazem garantia de felicidade a ninguém que se apóia unicamente nesses parâmetros.

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