quarta-feira, 20 de abril de 2016

O FIM É O COMEÇO.

Algumas semanas antes da morte, utilizando as redes sociais,uma senhora mandou às amigas uma foto, colhida 35 anos atrás. Bronzeada, cabelos ao vento, shortinho branco, num iate tendo ao fundo o mar e o céu. A legenda pedia: por favor, lembrem de mim assim!

Não sei se o pedido foi aceito. E mesmo que tenha sido aceito, não mudaria a realidade. Uma fotografia pode cristalizar apenas um momento. A vida não pode ser resumida neste momento. Sempre existe um antes e um depois. As estações também se sucedem na vida: primaveras, invernos, verões e outonos, cada uma com sua beleza, começo e fim. Fotografias bem diferentes compõem o álbum da vida. Lá estão cenas da infância risonha, da adolescência cheia de sonhos e dúvidas, cenas gloriosas do casamento, os filhos, os netos. E o tempo implacável nada respeita.

A vida precisa ser assumida como um projeto maior do que ela mesma. Não podemos negar nenhuma das etapas, não podemos negar as rugas do corpo e da alma, a doença, os cabelos brancos. Somos aquilo que vivemos, o passado é uma realidade definitiva. Nada é mais definitivo que ele. E o corpo é nosso companheiro, em todas as etapas, sempre numa marcha descendente, apontando o fim.

A biologia tem uma marcha previsível: infância, adolescência, vida adulta, depois o declínio até o fim. Mas há outra dimensão em nossa vida. A alma não envelhece, não morre, e se projeta eternidade a dentro. Brigitte Bardot, na melhor fase da vida, foi considerada a mulher mais bonita do mundo. Dela é o desabafo: passamos trinta, quarenta anos cuidando do corpo e, de repente, ele apodrece.

Para a pessoa de fé, a morte não tem a última palavra. A vida continua depois da morte. A larva oportunista e gulosa se transforma numa esplêndida borboleta. Para os que creem, garante Jesus, a vida não é tirada, mas transformada. Companheiro na luta, o corpo será também nosso companheiro na glória, sem as cicatrizes das batalhas.

A vida merece ser vista não do começo para o fim, mas do fim para o começo. É um projeto que só pode ser avaliado no fim, mesmo porque o fim é o começo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário