quinta-feira, 28 de abril de 2016

TODO O DIA A MESMA PERGUNTA.

Gosto de colecionar frases e pensamentos. Como são úteis, pois nem sempre somos capazes de criar algo novo. Arrisco dizer que são as reflexões dos outros que aguçam o gosto que desenvolvi pela escrita. Escrever, então, é mais um acrescentar ou divagar em outra direção, a partir do que já foi dito. O contato com algumas postagens expande ainda mais a admiração pela questão existencial. Tudo o que é dito, de um jeito ou de outro, diz respeito à vida. Sem dúvida, o melhor da vida se dá no cotidiano. Momentos extraordinários são ótimos. Mas o desafio está em afastar a rotina, expulsar o desânimo, garantir bom humor para os dias que aparentemente são iguais.

Num dia desses recebi de alguém que se ocupa com as questões existenciais um pensamento que me instigou à reflexão. Com palavreado próprio da cultura local, a frase, assinada por Carlos Edu Bernardes, dizia: “Meu pai tem Alzheimer e todo dia me pergunta que dia é hoje. Eu digo que é dia dos pais e tasco-lhe mais um abraço.” Para além do riso, a expressão contém uma dolorida verdade, um tanto difícil de ser assimilada. Quando nos tornamos estranhos para as pessoas mais íntimas, um misto de tristeza e de impotência machuca a alma.

Conviver com as limitações da saúde e com as sequelas de determinadas doenças é um exercício muito exigente. Acredito que ninguém está preparado para o sofrimento. Ver e continuar estabelecendo relações com um familiar com diagnóstico de Alzheimer é um desafio que supõe muito preparo, além da abertura ao aprendizado diário de como lidar com as manifestações. Mesmo sabendo que se trata de um quadro progressivo, a vida deverá ser encaminhada dentro do que se denomina de normalidade. A lamentação, ao dar-se conta que há pouco a ser feito, não pode durar mais do que um instante. Afinal, um quadro irreversível não deve inviabilizar totalmente a convivência.

Cedo ou tarde, as doenças ou limitações próprias da idade batem à porta. Para alguns, é como se o mundo tivesse desabado. Outros, apesar do sofrimento, conseguem acrescentar uma boa dose de humor para dar sequência aos dias. Diante da pergunta, ‘que dia é hoje’, do pai com Alzheimer, é possível abraçar e responder que é dia dos pais. Com certeza não é nada fácil, mas pode amenizar as dores advindas das manifestações de tal doença. Ainda bem que há abraços e filhos que sabem abraçar.

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