terça-feira, 26 de abril de 2016

QUANDO DEUS QUIS SE REVELAR

Diz o povo e dizem os entendidos que, enquanto a humanidade inventa grandes progressos, também cria grandes complicações. Geralmente isto acontece porque se começa a desconhecer o que é simples, pequeno e próximo. A cultura do encontro “coração a coração” se vê substituída por interferências que, subliminarmente, vão distanciando e esvaziando as relações mais humanas e humanizantes.

Com Deus acontece o contrário. Sendo rico se faz pobre; sendo divino se faz humano; sendo Senhor se faz servo. Na verdade, quando Deus quis se revelar em pessoa, o que se apresentou foi uma face humana. “Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem”. Tamanha simplicidade revelou-se no rosto de uma criança. “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”, disse o anjo aos pastores.

Partindo desta revelação tão próxima, o cristianismo se acha indissoluvelmente ligado à nossa condição humana. “Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação”. Jesus trouxe ao mundo uma nova compreensão da vida humana. Essa compreensão é um convite a viver profundamente a nossa existência.

No momento em que nós, humanos de nosso tempo, descobrirmos toda a dimensão antropológica do acontecimento Jesus Cristo, nos deixaremos seduzir, irresistivelmente, por Ele. Fascinados pela liberdade; afeiçoados às nossas conquistas e sedentos de uma global qualidade de vida, ao descobrir “quem é esse homem” e qual é sua proposta de vida e convivência, nos encantaremos por encontrar o Cristo, capaz de compreender e assegurar com êxito, até o fim, a aventura que é a vida humana na terra.

É lamentável, quando nos damos conta que vivemos e convivemos num mundo que treina viver sem Deus e, consequentemente, vai criando vazio de sentido para a vida e aumentando a cultura do medo na convivência social. Em grande parte, isto se deve a uma reação contra um Deus sem homem e sem mundo que, muitas vezes, nos foi e nos é apresentado. “A resposta para as dificuldades que detêm muitos de nossos contemporâneos no caminho da fé e na escolha do ateísmo, exige entre outras coisas, que manifestemos sempre o impacto humano das coisas de Deus” (Yves Congar).

Todas as obras de Deus têm necessariamente uma ressonância humana. Deus não se revelou para si, mas para os humanos, a fim de confirmar o que desejava ser para eles. O Reino que Deus inaugura na terra, em Cristo, é o Reino para o homem a quem sacrificou, de certo modo, a sua divindade. “Ele que era de condição divina não reteve ciosamente a posição que o igualava a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se semelhante aos homens. E, reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais obedecendo até à morte.

Tamanha proximidade de Deus torna-se o argumento mais convincente de nossa proximidade a Ele. Em Cristo, o rosto da misericórdia do Pai, encontramos a razão para a verdadeira promoção da dignidade humana.

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