sábado, 19 de dezembro de 2015

JAMAIS SE ESQUEÇA DO CÉU

As duas meninas tinham aguardado ansiosamente o grande dia: seriam aias na cerimônia de casamento. Estavam impecáveis. Ambas seguravam balão vermelho, em formato de coração. Com o olhar um pouco tímido, percorreram o longo corredor. Assim, cumpriram honrosamente o papel de coadjuvantes do momento ímpar do jovem casal. No término do cerimonial, uma insistente brisa fez com que um balão se soltasse da trêmula mãozinha. Os olhares acompanharam o coração vermelho alcançando as alturas. De imediato alguém consolou a menina, prometendo outro balão.

Enquanto o balão se afastava, o olhar alcançou, aos poucos, o céu. Fazia tempo que não contemplava tal imensidão. Quanto mais o balão tomava distância, tornando-se minúsculo, mais o céu mostrava a sua porção de infinito. Além de enorme, o céu é maravilhoso. Dizer céu é dizer muitas coisas. Usa-se com facilidade a palavra céu, mas nem sempre nos damos conta do quanto o céu nos remete para uma outra realidade que pode ser internalizada. A espiritualidade nos recorda que o céu é também uma atitude que eleva e que se torna fonte de esperança.

Ao longo dos dias, praticamente nos esquecemos de olhar para o céu. Ocupados e preocupados excessivamente com as coisas da terra, não elevamos o olhar para reavivar a chama da fé, que elimina a distância entre o céu e a terra. A vida aguarda por equilíbrio. Céu e terra necessitam de harmoniosa conjugação. O céu inspira e alimenta a dimensão espiritual. Tudo o que existe de melhor pode ser inserido na dinâmica do céu. Impossível viver bem sem carregar dentro de si um pouco do céu.

Novamente o olhar tenta encontrar o balão que se soltou da pequena mão. Nem rastro deixou. Talvez um anjo estivesse procurando algo para brincar. Aquele balão cumpriu seu papel: além de adornar as festividades do matrimônio, fez com que os convidados, mais atentos, olhassem para o céu. Feliz de quem se permite olhar para o céu. Os pés devem pisar firmemente o solo existencial, mas o olhar pode e deve buscar o infinito. Tomara que muitos balões alcancem as alturas e que incontáveis corações olhem para o céu. Claro, o céu até pode esperar. Mas que essa espera não se transforme em esquecimento. Talvez a aia, ao longo da festa, tenha esquecido do balão que voou. Que o olhar e o coração, de todas as idades, jamais se esqueça do céu.

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