quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

ACONTECERÁ

Nos tempos atuais, parece temerário ou diletante falar em futuro".

Temerário, porque a crise ecológica que o ser humano está provocando sobre o planeta Terra parece conduzir à impossibilidade de futuro dada a provável extinção da espécie humana e de outras espécies animais em um futuro não muito distante. Se os humanos continuarmos com o mesmo estilo de vida e consumo, o tempo que nos resta não é longo. Em alguns séculos, não haverá mais humanidade para ficar sonhando com o futuro.

Pensar no futuro, para outros é diletante na medida em que a presente geração de humanos não mais se coloca a questão do futuro. Vivemos a época da exacerbação do presente. Nossa civilização tem como objetivo viver o presente sem se importar nem com o passado e nem com o futuro. O que importa é viver o hoje, o agora, o momento, o instante... As novas gerações tem cada vez mais dificuldade em se conectar com o passado de onde viemos e imaginar o futuro que nos espera.

Mas é na compreensão de futuro que está o problema. Nossa civilização ocidental, especialmente a partir da modernidade, construiu um modo de pensar onde imaginamos que nós humanos somos os construtores de nossa própria história e, por consequência, do futuro de toda a criação. Teríamos então a possibilidade de fazer história – e isso era a demonstração da nossa humanidade – ou a irresponsabilidade de negarmo-nos a construir a história. Seria a negação do humano, sim, mas também uma possibilidade que se apresenta.

O surgimento da ciência ecológica veio mostrar que a compreensão de que o ser humano é centro, senhor e fazedor da história não é um fato, mas uma absurda pretensão que não tem fundamento no modo como a vida se reproduz e sustenta. Quem observa com cuidado o modo como o conjunto da vida se mantém sobre o planeta, constata e afirma que, com ou sem os humanos, a vida sobre o planeta terra continuará e, talvez, seja até melhor sem nós!

Livres da pretensa capacidade de determinar o futuro da vida sobre a terra, nos damos conta que o que a espécie humana pode fazer é, no curto espaço de tempo de nossa existência, tanto individual como coletiva, atrapalhar o futuro da vida ou então colaborar para que o futuro da vida sobre o planeta Terra, tanto humana como a de outras espécies, seja mais favorável.

Entre a pretensão de construir o futuro com o risco de inviabilizá-lo - o que de fato está acontecendo - e a irresponsabilidade de não nos preocuparmos com ele, há uma terceira possibilidade: colocarmo-nos na humilde posição de convivermos com as outras criaturas e, utilizando a capacidade particular ao ser humano que é o de ter consciência e capacidade de decisão, assumir a condição de cuidadores da nossa vida e da vida dos outros.

E aceitarmos com humildade a constatação de que, mais do que fazermos o futuro, somos feito pelo futuro da vida que, sem nós ou com nós, acontecerá.

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