quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

50 TONS DE SANGUE E CINZAS

Cinco jovens, com idade entre 16 e 25 anos, foram assassinados em Costa Barros, no Rio de Janeiro. O carro no qual eles estavam foi fuzilado. Cinquenta tiros de fuzil foram disparados. Qualquer semelhança entre o Fiat Palio que conduzia as vítimas e um queijo suíço não é mera coincidência. A execução foi tão cruel e sanguinária, que até o Estado Islâmico ficaria envergonhado de assumir a autoria de um atentado tão covarde. E o mais triste nessa história toda é saber que o crime foi praticado por quem deveria proteger.

Muito se fala que a nossa polícia não tem preparo suficiente. Pode ser que sim. Também pode ser que o problema não seja esse. A maioria das vítimas fatais de ações policiais são moradores de comunidades. A maior parte delas é negra. Sabemos o que ocorre dentro de muitas comunidades. O comando paralelo dita as regras. Mas é preciso saber separar o joio do trigo. Ou não é esse o papel da polícia? É inadmissível que vidas inocentes continuem a serem ceifadas dessa maneira. Quem está revestido pela autoridade que uma farda lhe confere e tem uma arma em mãos, não pode deduzir nada. Tem que ter certeza do que faz e assumir a responsabilidade por suas ações. A vida não tem preço e quando destruímos uma, não tem como voltar atrás.

A forma pela qual esses cinco jovens foram executados, é aviltante a nossa compreensão. Diz a lenda que o policial só tem permissão de atirar quando estiver com a sua integridade física em risco ou observar algum risco a integridade física de terceiros. Mas como alguém estando desarmado e em sã consciência poderia atentar contra a integridade física de quatro agentes da lei armados de fuzil? Que tipo de periculosidade apresentava esses cinco jovens a ponto de serem disparados contra eles, nada mais, nada menos do que cinquenta tiros de fuzil? Será que o prazer de matar é maior do que a responsabilidade de ser um defensor da sociedade?

Ela deveria nos ajudar, mas nem sempre o faz. Ela deveria nos proteger, mas às vezes representa um perigo bem maior do que o mal a ser combatido. Volto a frisar que não podemos classificar todos os policiais como sendo maus profissionais. Isso seria leviano. O problema é que os erros se sucedem e inocentes continuam a pagar por eles. E por que os erros continuam a se repetir? O Governador e o Secretário de segurança mandam exonerar o comandante do batalhão e expulsar os policiais da corporação, como se isso fosse solucionar o problema. E quem vai exonerar os dois? Não seria a tropa o espelho de quem a comanda? Ou quem comanda não está impondo respeito suficiente aos seus subordinados ou a metodologia que eles dizem que é aplicada não está sendo compreendida. Eu até concordo com a declaração do Secretário, quando ele diz que não há capacitação ou formação que se sobreponha ao caráter do indivíduo. Mas alguma coisa precisa ser feita. O que não está dando certo precisa ser mudado.

Cinquenta tiros em cinco jovens desarmados. Cinquenta atos de covardia explícita. Cinquenta vezes em que o dedo no gatilho se sobrepôs a razão e comandou as emoções das quais o coração estava cheio. O sangue, de todos os tipos, jorra vermelho e fluente, contrastando com o azul do céu aberto. Às vezes ele jorra no asfalto, outras vezes se mistura a lama e até mesmo se confunde com a água suja do esgoto mais próximo. Em ambos os casos restam apenas cinzas. As cinzas de quem se foi e as cinzas da esperança de dias melhores e menos injustos.

Justiça para quem precisa! Justiça para quem precisa de justiça!

Negô Tom

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