Tales
de Mileto foi um dos chamados Sete Sábios da Grécia. Numa oportunidade,
refletia o significado dos astros para a existência. Absorto, em
contemplar o céu estrelado, caiu num buraco e quebrou uma perna. Uma
mulher do povo, que tudo assistiu, comentou: esse aí preocupa-se tanto
com o que se passa no céu e não sabe o que existe debaixo dos seus pés.
A primeira frase da Bíblia proclama: “no início Deus criou o céu e a
terra”. Seria perigoso separar o que Deus uniu. Ele criou o céu e a
terra. Na prática, essas duas realidades aparecem separadas. Há os que
dão importância absoluta ao céu e esquecem a terra. Outros, ao
contrário, tudo apostam na terra, ignorando completamente o céu.
A
corrente materialista garante que tudo acontece na terra, o céu é uma
utopia, ou seja, lugar nenhum. Karl Marx fala que o céu é uma alienação
com objetivos bem definidos: iludir os pobres da terra, o que interessa
aos poderosos. O céu da igualdade, sustenta o pensador alemão, deve
acontecer aqui com pão, terra e liberdade para todos. Para ele, a
religião se constituía no ópio do povo.
A corrente espiritualista só
aposta no depois, ignorando totalmente a terra. Vale a pena sofrer
agora, aguardando a felicidade definitiva do céu. Nesta perspectiva, a
terra é apenas uma estrada, em péssimas condições, mas que nos leva à
pátria desejada. O devoto ergue, com fervor, os braços para o alto, mas
esquece de estendê-los aos irmãos. Nessa teologia seria suficiente
celebrar festivamente, ter uma vida mortificada e de acordo com as leis
da Deus e da Igreja. Vale de lágrimas, o mundo não teria jeito.
A
terra sem céu se transforma num deserto sem vida e sem horizontes. De
alguma maneira, justificaria o absurdo e a vida sem sentido. Mas o céu
sem a terra se transforma em religião alienada e triste. De nada
adiantaria lutar contra o fatalismo, marcado pela supremacia do mal no
mundo. A consciência e a vida individual seriam o santuário de Deus.
Uma religião viva e dinâmica só pode assumir a ligação do céu e da
terra, do hoje terreno e do amanhã divino. Tudo o que acontece na terra
tem ligação com o céu. E o céu será o resultado daquilo que se viveu na
terra. É unir fé e vida. É unir aquilo que celebramos no domingo e
aquilo que realizamos durante a semana. É unir festa ao cotidiano. É
olhar para o céu, mas cuidar onde caminhamos.
Existe a tendência de
separar o sagrado do profano. O templo e as coisas de Deus seriam
sagradas, enquanto as demais realidades seriam profanas. Na realidade,
podemos profanar as melhores coisas, mas podemos - e devemos – tornar
sagradas todas as coisas. O céu se constrói aqui. É uma casa que
construímos aqui na terra, mas que habitaremos depois. Devemos, ao longo
da vida, olhar as realidades do céu, mas cuidando onde pisam nossos
pés.
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