segunda-feira, 26 de novembro de 2012

UM DIA AS ELITES VÃO FAZER CONOSCO O QUE FAZEM EM GAZA



Gaza é a janela de nossa futura distopia. A crescente divisão entre a elite do mundo e sua miserável massa de humanidade é mantida por meio de uma violência em espiral. Muitas regiões empobrecidas do planeta, que caíram no abismo econômico, começam a assemelhar-se a Gaza, onde 1,6 milhões de palestinos vivem no maior campo de concentração do planeta.
Essas zonas de sacrifício, cheias de pessoas deploravelmente pobres, presas em favelas miseráveis ou em aldeias cujas casas têm paredes de barro, cada vez mais vêm sendo sitiadas por cercas eletrônicas, monitoradas por câmeras de vigilância e drones, e rodeadas por guardas de fronteira ou unidades militares que atiram para matar.
Essas distopias de pesadelo se estendem da África subsaariana ao Paquistão e à China. Nesses locais, assassinatos propositais são executados, ataques militares brutais são feitos a pessoas deixadas sem defesa, sem exército, sem marinha e sem força aérea. Todas as tentativas de resistência, embora ineficazes, deparam com a carnificina que caracteriza a moderna indústria da guerra.
No novo cenário global, como nos territórios ocupados por Israel e nos projetos imperialistas dos EUA no Iraque, no Paquistão, na Somália, no Iêmen e no Afeganistão, massacres de milhares de inocentes indefesos são classificados como “guerra”.
A resistência é denominada provocação, terrorismo ou crime contra a humanidade. O respeito às leis, assim como as mais básicas liberdades civis e o direito à autodeterminação, é uma ficção usada como relações-públicas para aplacar a consciência de quem vive nas zonas de privilégio.
Prisioneiros são rotineiramente torturados ou “desaparecidos”. A falta de alimentos e de suprimentos médicos são uma tática de controle aceita. Mentiras permeiam as ondas eletromagnéticas (rádios e TVs). Grupos religiosos, raciais e étnicos são demonizados. Chovem mísseis sobre casebres de alvenaria, unidades mecanizadas atiram em aldeões desarmados, canhoneiras esmagam campos de refugiados com bombardeios pesados, e os mortos, incluindo crianças, enfileiram-se em corredores de hospitais aos quais faltam eletricidade e medicamentos.
O colapso iminente da economia internacional, os ataques ao clima e suas consequências, como secas, alagamentos, declínio rápido de safras e aumento no preço dos alimentos estão criando um universo onde o poder se divide entre elites restritas, que têm nas mãos sofisticados instrumentos de morte, e massas enraivecidas.
As crises vêm incentivando uma guerra de classes que sobrepujará tudo aquilo que Karl Marx poderia ter imaginado. Elas estão construindo um mundo onde a maioria terá fome e viverá com medo, enquanto poucos irão se empanturrar com delícias em fortins protegidos. E mais e mais pessoas serão sacrificadas para manter esse desequilíbrio.
Por ter poder para isso, Israel – assim como os Estados Unidos – desrespeitam o direito internacional para manter na miséria uma população dominada. A presença continuada das forças de ocupação israelenses [nos Territórios Palestinos Ocupados- TPOs] desafia quase cem resoluções do Conselho de Segurança da ONU pedindo sua retirada [dos TPOs].
O bloqueio israelense a Gaza, estabelecido em junho de 2007, é uma forma brutal de punição coletiva que viola o artigo 33 da IV Convenção de Genebra, que determina as regras para a “proteção de civis em tempo de guerra”.
O bloqueio transformou Gaza num pedaço de inferno, num gueto administrado por Israel onde milhares morrem, incluindo os 1,4 mil [são quase 1,5 mil] civis assassinados na incursão israelense de 2008. Com 95% das fábricas fechadas, a indústria palestina virtualmente parou de funcionar. Os restantes 5% operam com 25% a 50% de sua capacidade. Até o setor pesqueiro está moribundo. Israel recusa-se a permitir que os pescadores ultrapassem três milhas náuticas da costa, e dentro desse limite os barcos pesqueiros com frequência são alvo dos tiros israelenses.
As patrulhas de fronteira israelenses confiscaram 35% das terras cultiváveis de Gaza para criar nelas zonas-tampões.

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