sexta-feira, 16 de novembro de 2012

NO OUTRO LADO DO RIO


Há poucos dias, ouvi um conto que me chamou muito a atenção pela simplicidade e profundidade das palavras. Era a história de dois monges que iam atravessar um rio. Quando chegaram à margem do rio, havia uma menininha que lhes pediu ajuda para poder atravessá-lo. Entretanto, havia uma regra para essa congregação de monges: eles não podiam tocar em uma mulher. Apesar de estar infringindo essa regra, um dos monges pôs a menina nos ombros e a levou até a outra margem do rio. Ao chegarem ao monastério, o outro monge estava muito contrariado e disse que teria de tomar providências, pois uma das regras havia sido transgredida e ele deveria ser punido por isso. O monge que havia levado a menina nos ombros lhe disse: “eu atravessei o rio com a menina e a deixei na outra margem, você ainda a está carregando” . Apesar de saber que minha tradução do conto não é tão fiel quanto a versão original, o impacto dele permanece. Não sei dizer ao certo se pelo simbolismo ou se também pelo contexto: sábias palavras proferidas por uma grande mulher, até hoje ele ecoa em meus pensamentos.
Acho que uma das mensagens mais interessantes contidas nessa parábola é a questão de como e o quanto nos apegamos a regras e leis. É certo que necessitamos delas para viver em sociedade, mas precisamos aprender a relativizar. Outra e talvez a mais interessante das mensagens contidas nesse conto é sobre o quanto carregamos coisas, de como custa livrarmo-nos de pré-conceitos, avaliações e de tudo aquilo que não nos serve, mas que passamos a vida carregando.
O que somos hoje foi construído ao longo dos anos que vivemos, um amontoado de crenças, regras, auto-conceitos, tudo o que utilizamos para fazer referência ao que somos e quem somos e todos os “porquês” daquilo que fazemos.  Mas, dentre todas essas coisas que utilizamos e, muitas vezes, a que nos apegamos para fazer referência a nós mesmos, algumas delas foram incorporadas sem nenhuma avaliação prévia, não filtramos, apenas absorvemos. E, dessas coisas, muitas não nos servem mais, e sobre elas precisamos colocar nossa atenção, pois carregar aquilo que não corresponde ao que acreditamos, somente nos impede de sermos mais fluidos e leves.
Carregar pré-conceitos, que apenas são uma repetição de hábitos culturais ou familiares, é só uma forma de mantermos as coisas como sempre foram, engolindo sem mastigar, e isso pode ser realmente indigesto. É fato que olhar para nossas próprias crenças e formas de viver pode gerar uma certa apreensão e ansiedade, mas livrarmo-nos do peso desnecessário que carregamos nos ombros pode ser compensador: quero ser aquele que faz o que julga correto e segue seu caminho.

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