Acabou Avenida Brasil. O país parou para ver o último 
capítulo e saber quem matou Max e qual seria o destino final de Carminha. Ao chegar ao fim quero trazer aqui minha 
leitura, uma a mais na enxurrada de comentários já feitos sobre a grande obra de 
João Emanuel Carneiro. 
Jamais me convenceu a interpretação de que Carminha 
era a vilã e Nina a mocinha da trama. Vejo minha intuição confirmadíssima. 
Carminha vilã? Quem somos nós para apontar o dedo na direção de uma mulher que 
ainda em tenra idade viu com seus olhinhos virgens de maldade o pai matando 
friamente a mãe com um tiro no peito? E que depois foi atirada por esse pai no 
lixão como quem se livra de um traste, de um escolho indesejável? 
Onde 
estamos com a cabeça – e com o coração? - ao condenar Carminha, essa mulher não 
medíocre, essa sobrevivente do próprio pai bandido, que um dia fugiu do lixão em 
busca de uma vida mais digna? E teve que viver na rua, mendigar até ser 
recolhida por uma cafetina que a empregou como prostituta na Vila Mimosa? Alguém 
se atreve a fazer a radiografia desse coração de menina e mulher para ver o 
tamanho das chagas que o feriram de morte para sempre e lhe deram a garra 
sobre-humana para superar qualquer obstáculo a fim de manter-se viva e com a 
cabeça fora da lama?
Todos esses horrores a levaram a uma trajetória 
impiedosa para alcançar seus objetivos. E esses se resumiam em sair da pobreza 
asquerosa onde a haviam jogado a irresponsabilidade e a crueldade paternas e 
encontrar um lugar ao sol. É verdade que ela procedeu sem dó nem piedade com 
Nina e muitos outros.
Enquanto isso, qual o itinerário de Nina? Sofrido 
também, com a perda da mãe, a entrada de uma madrasta odiada em sua casa e a 
perda do pai e a ida para o lixão levada por Max, sob a orientação de Carminha. 
É compreensível a raiva que a menina sentiu. Porém Nina – aliás, Rita – tem amor 
a recordar. Pode lembrar-se do amor da mãe, do desvelo do pai, do carinho de 
ambos que lhe foram subtraídos pela morte e não a abandonaram a um destino 
implacável. Nina ficou pouco tempo no lixão, sendo logo adotada por um rico e 
carinhoso argentino, que a criou entre os montes e vinhedos de Mendoza. Ali ela 
pôde participar da colheita da uva, e pisoteá-la com seus pés, juntamente com as 
irmãs e os amigos. Ali ela descobriu sua vocação de “chef” e aprendeu a fazer 
iguarias. Ali recebeu uma herança que lhe permitiu voltar ao Brasil e viver com 
conforto, para poder trabalhar por diletantismo, enquanto preparava a vingança 
que desfechou sobre Carminha. 
Nina está longe de ser uma pessoa ética. Fica 
à vontade com Max e com os garotos de programa da cafetina Neide. Trama e faz 
alianças com Deus e o diabo para levar adiante seus planos. Envolve Nilo e 
outros pobres diabos do lixão em sua trama. Cheia de ódio, centra a vida na 
vingança que quer perpetrar. E nem o amor de e por Jorginho consegue afastá-la 
daquilo que se tornou o centro de sua vida: acabar com Carminha. 
Quem 
condenará Carminha, quem lhe atirará a primeira pedra? O devasso Leleco ou a 
neo-burguesa deslumbrada Muricy? O egoísta Tufão, que durante doze anos prestou 
tão pouca atenção à mulher com quem se casara que sequer percebeu que ela o 
traía debaixo de seu teto? E que atropelou o pobre Genésio e omitiu socorro para 
não atrapalhar sua vida de super craque?
Quem, no lugar de Carminha, seria 
capaz de ter a nobre atitude final do último capítulo? Quem abriria mão do 
último golpe em nome da vida dos outros, inclusive da pior inimiga? Continuar 
chamando Carminha de malvada é ter o próprio entendimento e sensibilidade 
distorcidos. Entre Carminha e Nina existe uma coisa que é clara. A vilã não é 
Carminha.
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