Barack Obama representa a 
esperança mitigada, o que - noves fora - não quer dizer coisa alguma. A 
esperança é uma dimensão do sonho da cidadania que jamais pode ser sonegada, nem 
na parte nem no todo. Se ela se constitui numa mera peça de propaganda para 
captar votos no espetáculo bilionário do processo eleitoral, se trata de uma 
esperança prostituída, portanto, sem nenhuma validade corrente para a cidadania. 
Quem protagonizou essa farsa é um fraudador daquilo que é o bem maior dos 
despossuídos e desassistidos - a aposta e a luta por um futuro digno e menos 
injusto de milhões de trabalhadores jovens, aposentados, idosos, negros, latinos 
e uma faixa crescente da classe média que resvala para a indigência e a 
necessidade. 
O primeiro presidente negro 
dos EUA é o mesmo que vai ratificar sua política militarista e agressiva pelo 
mundo afora, o mesmo que permitirá que os seus mariners cometam mais massacres 
de civis nas aldeias famintas e empoeiradas do Afeganistão, o mesmo que vai 
manter as cerca de mil bases militares do País pelo mundo afora, o mesmo que irá 
continuar expulsando imigrantes, o mesmo que irá fazer vista grossa para 
execução em massa das fatídicas hipotecas imobiliárias (usina de 
homeless) e favorecer o sistema especulativo de Wall Street sem nenhuma 
contrapartida social pelo auxílio que o Estado lhe prestou no momento crítico e 
falimentar de sua existência.
A aparência de Obama, sua 
negritude, seu charme, sua simpatia, sua popularidade, sua performance como ator 
dramático e sobretudo como mediador do contrato social (leonino e 
desequilibrado) cai como uma luva para o establishment branco e 
endinheirado estadunidense. Ele representa uma síntese da nacionalidade 
multicultural do País, representa a imagem (e somente esta) que o verniz 
democrático do Império quer exibir ao mundo, representa com riqueza de detalhes 
a terra de oportunidades que o capitalismo ianque quer brindar a civilização 
ocidental, representa a legitimação de uma ética social que promete glórias aos 
vencedores, mas infunde perseverança infinita aos perdedores (especialmente 
quando estes aumentam em proporção geométrica a cada crise do capital).  
Mais um bilionário show 
eleitoral terminou nos Estados Unidos. Venceu o mais do mesmo, ainda que esse 
mesmo não tenha se dado conta que se encontra num plano inclinado, sem rota de 
retorno.
 
 
 


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