terça-feira, 6 de novembro de 2012

PROGRESSO NÃO ELIMINA DISTORÇÕES

Por mais que evolua, o Brasil não consegue se livrar de seus contrastes. Pelo contrário: novos surgem, em alguns casos desmontando lógicas e desafiando a identificação correta da origem.
O Censo Agropecuário divulgado recentemente pelo IBGE fornece mais mercadorias para o balcão das distorções. Como um país avança pelo caminho da modernização agrícola, rompe a barreira de máquinas e insumos e chega ao capital intelectual mantendo parcela significativa de seus agropecuaristas na classe de analfabetos? Ou, ainda: como um país adota sistemas sofisticados de irrigação, usa sementes certificadas, assistência técnica, transferência de embriões, rastreamento, inseminação... e não consegue que 39% dos responsáveis por este avanço saibam pelo menos ler e escrever? Algo está errado, obviamente. Um setor que bate recordes em sequência, que serve de exemplo para boa parte do planeta, que fatura centenas de bilhões de reais por ano, convive com um dos problemas mais primários de uma sociedade.
Talvez a própria tradição de desigualdades possa explicar este descompasso. A concentração de terras dá a poucos muito e a muitos pouco ou quase nada. Não é sem razão que a agricultura familiar, responsável por 84,4% dos estabelecimentos agropecuários, ocupe menos de 15% da área destinada a essa atividade. Ou seja: é parca terra para muitos, o contrário da agricultura empresarial. Mas, é bom frisar, ambas são importantes e não excludentes.
Historicamente, agricultores e pecuaristas limitavam suas preocupações à produção do campo. Uma política para o setor ampliaria a visão de todos envolvidos. É nesse ponto que o governo precisa intervir. Ainda há tempo de aliar às habilidades a informação e o conhecimento que são oferecidos somente a quem têm acesso à leitura e à pesquisa. No fundo, trata-se de um direito sonegado por quem deveria garanti-lo.

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