Por mais que evolua, o Brasil não consegue se livrar
de seus contrastes. Pelo contrário: novos surgem, em alguns casos desmontando
lógicas e desafiando a identificação correta da origem.
O Censo Agropecuário
divulgado recentemente pelo IBGE fornece mais mercadorias para o balcão das
distorções. Como um país avança pelo caminho da modernização agrícola, rompe a
barreira de máquinas e insumos e chega ao capital intelectual mantendo parcela
significativa de seus agropecuaristas na classe de analfabetos? Ou, ainda: como
um país adota sistemas sofisticados de irrigação, usa sementes certificadas,
assistência técnica, transferência de embriões, rastreamento, inseminação... e
não consegue que 39% dos responsáveis por este avanço saibam pelo menos ler e
escrever? Algo está errado, obviamente. Um setor que bate recordes em sequência,
que serve de exemplo para boa parte do planeta, que fatura centenas de bilhões
de reais por ano, convive com um dos problemas mais primários de uma
sociedade.
Talvez a própria tradição de desigualdades possa explicar este
descompasso. A concentração de terras dá a poucos muito e a muitos pouco ou
quase nada. Não é sem razão que a agricultura familiar, responsável por 84,4%
dos estabelecimentos agropecuários, ocupe menos de 15% da área destinada a essa
atividade. Ou seja: é parca terra para muitos, o contrário da agricultura
empresarial. Mas, é bom frisar, ambas são importantes e não
excludentes.
Historicamente, agricultores e pecuaristas limitavam suas
preocupações à produção do campo. Uma política para o setor ampliaria a visão de
todos envolvidos. É nesse ponto que o governo precisa intervir. Ainda há tempo
de aliar às habilidades a informação e o conhecimento que são oferecidos somente
a quem têm acesso à leitura e à pesquisa. No fundo, trata-se de um direito
sonegado por quem deveria garanti-lo.
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