quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

FALTA ÁGUA LIMPA PARA APLACAR A NOSSA SEDE

Sendo imagem e semelhança do Deus Criador, o ser humano é chamado a ser cocriador juntamente com Deus. Se se turva algum dos elementos do cosmos fica turvo também o seu reflexo. Assim como a água representa simbolicamente o recanto inconsciente do espírito humano, onde as memórias rejeitadas são alojadas e a origem primordial dorme esquecida, nós - seres humanos - fizemos dela o depósito da impureza e da poluição que produzimos ao longo da nossa história.

Falta água limpa para aplacar nossa sede, falta consciência para zelar, preservar e despoluir nossas fontes e reservas de água de superfície e subterrânea.
Neste caos em que estamos transformando o planeta perdemos primeiro o contato espiritual com a água e, posteriormente, o contato com o elemento físico da mesma água. Como contato espiritual entendemos a compreensão profunda da natureza simbólica da água. Pois a água é a matriz de todos os processos circulatórios, dotada de plasticidade, adaptabilidade, elemento sensorial por excelência, meio privilegiado de trocas, misturas e encontros.
Diante da perda de contato com a dimensão simbólica e espiritual da água não é difícil perceber a razão pela qual a crise mundial espelha a crise de consciência da nossa civilização, que tem profundas raízes espirituais. Se não aceitamos o reflexo que a água nos devolve, nem a revelação das metáforas, não podemos recusar o que nos diz o nosso corpo, que contém em média 70% de água. Dentro de nós circula o elemento líquido em artérias, veias e capilares de modo muito semelhante ao sistema de irrigação das bacias hidrográficas. Faltam critérios éticos e decisão política para cuidar das nossas águas, assim como da sobrevivência planetária: as degradações de gente e de ambiente são verso e reverso da nossa inconsequente gestão da vida.
Revestir de cuidado os gestos cotidianos com que lidamos com a simbologia e a materialidade da água poderá reverter essa magia insana que irriga de morte o tecido da vida. Uma ética do cuidado e a estratégia ecológica dos três R (reutilizar, reciclar e reduzir o consumo) conseguirão, quem sabe, um dia, deter o avanço desse gigante moderno de mil tentáculos, de muitos nomes e nenhuma alma.

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