sexta-feira, 24 de junho de 2016

PELA VISÃO DO LEÃO

A floresta vivia em crise e, por isso, criou-se um consenso sobre a necessidade de uma melhor organização, levando em conta a área social e religiosa. Como novo líder, foi aclamado o leão. Seu porte altivo, sua juba e sua liderança faziam dele o candidato natural. Em seu primeiro pronunciamento, o leão garantiu que o amor seria a base de seu governo. Foi aclamado por todos.

O leão explicava: o amor é fundamental. O amor é tudo. Sem amor, as criaturas se tornam más. Por isso observou: temos que acabar com os maus! Eu odeio os maus e vou castigar, e mesmo matar, os maus. E, empolgado, garantia: precisamos eliminar da face da terra, sem dó nem piedade, os maus, os intolerantes, os fanáticos e os que não amam.

Seu primeiro decreto foi no sentido de eliminar todas as armas. Os animais deviam abandonar as garras, o bico, os dentes afiados e tudo aquilo que pudesse ser ameaça aos outros. E do alto de seu poder, o leão determinou que fossem mortos todos os que não cumprissem suas sábias determinações. Assim aconteceria a desejada paz

Essa fábula se repete com os humanos. Vale o ponto de vista do mais poderoso. A partir daí sempre é possível legitimar o ilegítimo, justificar o que é injusto. Um muro proclama, em letras garrafais: é proibido escrever nesta parede. Numa comunidade, alguém se justifica: eu gritava para que os outros parassem de gritar.

No passado existiu uma heresia chamada de maniqueísmo. Segundo seu fundador, o persa Manes, o mundo estava dividido em duas forças distintas e em eterna luta – o bem contra o mal. E não havia meio termo. Na prática, o maniqueísmo partia do princípio que ele e seus seguidores eram absolutamente bons e os outros totalmente maus. Essa tendência não desapareceu. Ela se encontra em toda parte, sobretudo nos meios religiosos e políticos. Seus seguidores são donos da verdade.

O Evangelho nos lembra que o trigo e o joio, o bem e o mal, se misturam e, por vezes, se confundem. O joio pode parecer bom trigo, enquanto este pode ser tido por joio. O mestre Jesus recomenda: “Não julgueis”, lembrando que seremos julgados com a mesma medida que julgarmos os outros.

E a luta do bem contra o mal acontece também em nosso interior. Chega a ser surpreendente a confissão do apóstolo Paulo: Vejo o bem que quero fazer e não faço; vejo o mal que não quero fazer e faço. Agostinho dizia: Tenho medo do homem que leu um só livro. É sempre perigoso quando o leão se torna apóstolo do amor.

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