segunda-feira, 27 de junho de 2016

A INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA III

A teologia interpreta a Sagrada Escritura mediante um método exegético, hermenêutico e histórico crítico. Isto é para evitar uma leitura legalista, fundamentalista e herética da Bíblia. A exegese explica o texto bíblico no contexto em que foi escrito. A hermenêutica interpreta e compreende o real sentido do texto bíblico. O método critica e analisa as dificuldades de aplicação em termos de resultados. Houve um período em que se negou ao povo o acesso às Escrituras. Naquela época a Bíblia virou artigo de museu, mas hoje a realidade é outra. Eis uma conquista e um desafio.

O moderno movimento religioso arrebentou o lacre que impedia o acesso à Sagrada Escritura. Devolveu-se aquilo que é do povo. A Bíblia é a palavra do “Deus do povo e do povo de Deus”, afirma o biblista Carlos Mestres. Devolveu-se uma enorme força libertadora ao povo. Teólogos e biblistas latino-americanos redescobriram o jeito de ler a Escritura a partir das pessoas oprimidas, empobrecidas, vítimas da violência. O lugar para fazer a hermenêutica é o contexto da vida humana e das comunidades latinas. Este é o lugar que se encontra “embaixo”, na margem da sociedade. Para a correta interpretação das Escrituras Sagradas é preciso se aproximar deste lugar. A leitura relevante da Bíblia no contexto latino-americano pressupõe um ato de conversão, de solidariedade com as pessoas excluídas. Libertar os cativos. De nenhum modo a Bíblia é neutra. Por isso a Igreja faz a opção preferencial pelos pobres, e não é só uma postura ética, mas também de fé, de amor a Deus e as suas criaturas.

É diante da situação de sofrimento, penúria, opressão, carência ou das pessoas “de fora” que a Igreja e o movimento ecumênico latino americano interpretam as Sagradas Escrituras, fiéis ao povo oprimido, destinatários privilegiados das promessas de Deus. Vista sob esta hermenêutica teológica a Sagrada Escritura não é apenas inspirada, mas também inspiradora. Para Deus a fé e a vida andam de mãos dadas. Para o biblista Carlos Mesters o “livro da vida” e o “livro da Bíblia” se correlacionam devidamente. O livro da Bíblia torna-se importante quando liberta e renova a vida. Da mesma forma, é este o imperativo para acontecer o Reino de Deus. Decorrente disto, um crente ou uma pessoa de fé é levada a agir nesta responsabilidade. Neste sentido a leitura das Sagradas Escrituras liberta, resgata autoestimas, tem utopias, sonha com uma sociedade mais justa e humana, livre dos flagelos da exclusão, da pobreza, da violência étnica. Então, as duas leituras, a popular e a dos especialistas exegetas não se excluem, mas se completam, pois o sujeito da leitura permanece sendo o povo e a Igreja é povo.

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