domingo, 12 de junho de 2016

ESCOLHER O NOME DO FILHO

Numa fria noite de quarta-feira decidi perder um pouco de meu tempo para assistir a um jogo da seleção brasileira. Não foi por causa da equipe verde-amarela que, todos sabemos, vai de decadente a despencante. Uns dizem que é pela “má safra” de jogadores. Outros, pela incompetência dos dirigentes. Outros opinam que a culpa é da mediocridade do treinador. Como não sou do mundo do futebol, abstenho-me de dar minha opinião. O fato é que quase ninguém mais perde tempo assistindo aos jogos da seleção.

Mas o jogo daquela quarta tinha algo de especial. O Brasil enfrentaria o Haiti, a poderosa seleção do Caribe que, no ranking da Fifa, aparece em 74º lugar. Narradores e comentaristas repetiam a todo instante o óbvio de que o Brasil com certeza superaria o temível desafio e, para comprovar as habilidades do treinador e dar confiança aos jogadores, venceria por goleada.

O jogo começou morno e a poderosa canarinho mostrava suas deficiências ao ter imensa dificuldade em chegar na área adversária. Minha atenção foi se concentrando nos jogadores brasileiros. Havia dois ou três dos quais já tinha ouvido falar. A maioria, por ter iniciado sua carreira na Europa ou estarem na China, eram-me completamente desconhecidos. Chamou-me a atenção, pelo inusitado da grafia, um jogador chamado Philippe. Pensei nas dificuldades que o rapaz enfrenta no seu dia a dia quando é convidado a dar o seu nome para alguém que tem que escrever. Com certeza, a cada vez, ele é obrigado a dizer: Philippe com “ph” e dois “p”. Não teria ficado tudo mais simples se seus pais o tivessem nomeado, simplesmente, Felipe? Assim, normal, como se escreve em língua portuguesa do Brasil...

Lembrei-me então dos meus colegas que se chamam Wallysson, Wenderson, Jayson, Wellington, Frankinsen, Alliweriton, Richarlisson ou Wenkley, só para citar alguns exemplos no masculino. Que passaria na cabeça dos pais quando registraram seus filhos com esses nomes?

Sem falar, é claro, dos nomes que se tornam epidêmicos por causa de algum personagem de novela. Encontrei uma menina há poucos dias que leva o nome de Amora. De onde tiraram isso? De uma novela das seis... Imagina daqui a 20 anos, quando ela, já moça, na universidade, for chamada pela professora: Amora! O bulling será inevitável... Culpa de quem? Dos pais, evidentemente, que acreditaram que Amora é nome de gente e não de fruta.

Por outro lado, há nomes estranhos que são significativos. Um colega historiador batizou seu filho como Artigas, o Pai da Pátria uruguaia que liderou a formação do primeiro estado laico e livre da escravidão na América Latina. Um outro deu à filha o nome de Dandara, a líder do quilombo de Palmares que, ao lado de Zumbi, lutou pela libertação dos negros escravizados no Brasil. São nomes que, mesmo não habituais, são significativos.

Pensando no momento atual da política brasileira e no filho que eu não vou ter, será que, daqui há vinte anos, ele teria orgulho em ser chamado de Aécio, Cunha, Temer Renan, Jucá ou Dilma? O futuro dirá...

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