terça-feira, 1 de novembro de 2016

UM CENÁRIO DIFERENTE

Sempre gostei de cenários. O mundo é recriado com algum ou nenhum toque humano. Os detalhes quase sempre roubam a cena. A imaginação acaba completando o que, por um lapso, ficou faltando. Mas cenários precisam de enredos e personagens. Talvez mais de personagens, pois há histórias sobrando, no aguardo de uma harmoniosa e sequencial redação. Em alguns dias, os cenários se alternam rapidamente. Nem sempre é possível fechar a gaveta de determinados sentimentos e abrir aquela que está na urgente sequência. A pressa não gosta de incrementos. O olhar de quem está apressado é desprovido da verdadeira percepção. Ainda bem que o maior de todos os cenários, a natureza, sempre será capaz de surpreender.

Num dia desses, experimentei uma profunda alegria, num cenário atípico. Nesses anos todos de vivência, não imaginei que o quarto de um hospital poderia ter o aspecto de uma catedral, ornada para uma cerimônia. As circunstâncias levaram o jovem casal a efetivar somente o casamento civil. Para o sacramento do matrimônio almejavam reunir os familiares e os numerosos amigos. Impossibilitados por questões financeiras, adiaram o sonho de ‘casar na igreja’. É bonito interligar o matrimônio com a festa. Porém, a maior festa é o próprio sacramento que santifica o amor entre duas pessoas e o diviniza.

Aquele leito nem parecia cama hospitalar. Havia tapete vermelho. Muitas flores, familiares e padrinhos. Ela estava com um belo vestido de noiva. A equipe de enfermagem permitiu leve maquiagem. Segurava um singelo buquê. Tocou a marcha nupcial. Entrou o noivo e o filho de 4 anos, com as alianças. Muitos sorrisos, incontidas lágrimas, muitas lágrimas. A cerimônia foi simples. As coisas de Deus sempre têm a marca da simplicidade. Os noivos, apesar de tudo, disseram com convicção: ‘na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...’ O Pai-Nosso de mãos dadas elevou aos céus gratidão por aquele momento tão especial e súplicas pela recuperação da saúde.

Guardarei para sempre esse momento celebrativo. O amor não precisa de requintado cenário. O amor é tudo, é mais do que um cenário. A noiva até jogou o buquê. Por uns instantes, o hospital tornou-se festivo, palco de um amor eterno. Não importa como serão os outros dias. Aquele momento resumiu e reuniu o tempo suficiente para confirmar que família é tudo. Aprendi: o quarto de um hospital também pode ser uma catedral. Basta que haja amor e muita fé.

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