sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ESTIVE NA CADEIA E ME VISITASTES;

Quando o evangelista Mateus, no capítulo 25, vai declarando os critérios do julgamento das nações, tudo nos parece claro e razoável. Porém, quando chega ao versículo 36b e 43b ficamos perplexos e questionamos o Cristo: “Quando foi que te vimos preso e te visitamos, ou não te visitamos?”. Não cabe no imaginário que temos de Cristo pensá-lo como merecedor de tal punição. Então, ele mesmo nos recorda que todas as vezes que fizemos, ou não fizemos isto a um nosso irmão, ou irmã, foi a Ele que visitamos ou não visitamos.

Diante desse apelo que nos é feito por esta obra de misericórdia, a questão que nos inquieta não é a visita, em si, mas o que vem antes e depois, a causa e o efeito de uma condenação prisional. Que tipo de humano é preso? Qual é o motivo de sua prisão? A sociedade quer de volta alguém que foi preso? É possível recuperar alguém na prisão? E o potencial de uma liberdade consciente e responsável, como reage dentro de uma prisão? E mesmo na visita a um prisioneiro, que sentimento vai conosco? Qual remédio vamos oferecer? Quais palavras ou gestos vamos comunicar?

Diariamente ficamos estremecidos com notícias que nos inquietam. Além de aumentarem os crimes e delitos, comprova-se que o modo como isso acontece está ficando cada vez mais recrudescido, repugnante e grotesco. Além disso, confirma-se que os autores desses desmandos são pessoas de carne e osso, cujas vítimas igualmente o são. Não é difícil ouvir responsáveis pela segurança da sociedade proclamarem, em alto e bom tom, que precisamos construir mais presídios de segurança máxima. No meio de tudo isso, parece aumentar sempre mais a torcida dos que acham que a única solução é a pena de morte.

Ficamos chocados com as denúncias sobre superlotação de cadeias e prisões, maus tratos infligidos aos presos, torturas, massacres, fugas, chacinas, excessos de guardiães da ordem, revoltas nas prisões, dificuldades de reintegração no convício social e reprovação dos gastos públicos na manutenção de cada condenado etc. Não é difícil ouvir julgamentos com dois pesos e duas medidas. Enfim, a misericórdia humana sente-se muito enredada neste campo de relações com o mundo da criminalidade, da corrupção e do delito.

Os fatos violentos mexem com os sentimentos profundos do ser humano, tanto em nível pessoal quanto coletivo. Despontam as mais controvertidas reações, desde a indiferença, a rejeição, o medo, o desejo de vingança, até a misericórdia e a compaixão. É muito fácil ceder ao medo ou deixar-se levar pelo primeiro impulso do preconceito.

Os meios de comunicação social, com sua força de convencimento e de formação da cultura, servem-se, com frequência e de forma ampla, do sensacionalismo da violência para temas de filmes, novelas, reportagens e comentários. Tanta divulgação, mais do que formar, deforma a relação humana, generalizando a desconfiança, dificultando a serenidade necessária para refletir e perdoar e desmotivando a obra de misericórdia relacionada à visita dos encarcerados.

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