quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O MUNDO ESTÁ DENTRO DE NÓS

Todos os dias, invariavelmente, um grande mestre ia até à margem do rio, sentava e ficava horas naquela atitude. Aparentemente não fazia nada. Não pescava, nem parecia importar-se com o marulho das águas ou com beleza das flores e do canto das aves. Depois de um certo tempo, levantava e ia para casa. Essa estranha rotina despertou curiosidade num vigia de uma luxuosa mansão, diante do qual o mestre passava.

Depois de observar por algum tempo esta rotina, aparentemente, sem sentido, o vigia resolveu interrogar o estranho personagem. Desculpe-me a curiosidade; muitas vezes vejo o senhor descer até o rio, mas não faz nada. Só fica sentado junto às águas e depois volta para casa. O mestre não respondeu, mas fez uma pergunta: eu também tenho observado o senhor, que fica parado diante da porta. O que mesmo o senhor faz? Ora, é muito simples, eu sou o vigia.

Que coincidência, disse o mestre, eu também sou vigia. Mas existe uma pequena diferença, o senhor vigia uma casa e eu vigio a mim mesmo. Estranho, observou o vigia, e quem lhe paga por isso? O meu ganho é a tranquilidade que não pode ser medida por nenhum tipo de remuneração deste mundo.

Conhecer a si mesmo é o ponto mais alto da sabedoria, a mais difícil das artes, observava o filósofo grego Sócrates. E Santo Agostinho ironizava os que viajavam para conhecer países, montanhas, lagos, templos, mas não conheciam a sis mesmos.

A pressa, a velocidade e o barulho marcam nossa civilização. As agendas, quase sempre, estão lotadas. Em função disso, acabamos dispensando o que nos parece menos importante. E esta lógica nos leva a dispensar as coisas do espírito e gastar o tempo todo com tarefas. Nosso tempo é caracterizado pelo saber. Dominamos a técnica e sabemos tudo o que acontece no mundo, mas ignoramos o que está dentro de nós.

A cada noite, milhões ficam magnetizados diante do vídeo. Queremos saber o que aconteceu no mundo. Ou seguimos com emoção os capítulos das novelas e o drama pessoal de cada personagem. E como estamos habituados ao fazer, nem mesmo sabemos usar o tempo ocioso, disponível. Ativistas, nos sentimos culpados quando nada estamos fazendo. O silêncio nos assusta, pois temos medo de encarar a nós mesmos.

As coisas são importantes, as tarefas precisam ser feitas, mas não podemos pagar um preço absurdo por isso. Temos direito de tempos na fascinante caminhada pelo nosso interior, povoado de tesouros. São esses tempos que acabam por dar sentido às coisas que fazemos. É, sobretudo, no silêncio iluminado de nosso interior que está Aquele que dá sentido ao tempo e à eternidade - Deus. Só Ele pode dar significado à nossa vida. Deus é silêncio, Deus é música, Deus é paz, Deus é a chave para entender a nós mesmos e nosso agir.

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