domingo, 11 de setembro de 2016

O TATO É DIVINO.

O tato é divino. É divino porque procede de Deus e é divino porque nos conduz a Deus. É de Deus porque é graça sua. Nos conduz a Deus, pois é através dele, da pele, do con-tato que acessamos o outro que, de outro em outro, nos conduz à transcendência, ao totalmente Outro. O tato nos põe em contato com Deus, através do contato com o outro.

O tato é o primeiro e mais remoto dos sentidos. Antes de vermos, ouvirmos, saborearmos e cheirarmos, tocamos e somos tocados. É pelo tato, pela pele que, já no ventre materno, entramos em relação com o mundo dos corpos e suas fronteiras. O tato é, exatamente, o encontro das fronteiras dos corpos.

O tato é o sentido da relação, do convívio, da amizade e do amor. Sem ele, essas dimensões antropológicas permanecem abstratas, pobres, vazias. Dá para imaginar uma relação de amizade sem o toque, sem a carícia, sem o contato? Pobre seria! E o amor? O mais íntimo do mais íntimo entre pessoas que se amam é, precisamente, a experiência da pele a pele, no beijo e na relação sexual. Haverá algo mais divino do que isso?

O tato é o sentido do conforto, reconforto, do consolo e da cura. Nas horas mais alegres ou nas mais tristes, um abraço, e pronto! O tato é o contato físico que, pelo toque, proporciona a pacificação e a harmonização necessárias para a segurança afetiva e efetiva de indivíduos em falta ontológica como é o ser humano. No contato, no encontro de corpos, a impressão que fica é de completude e restauração de uma perda, de uma falta constitutiva de todos os corpos separados que somos, com vida individualizada, mas em permanentes encontros, dos quais, o corpóreo é o mais intenso. Além disso, o toque é curativo e milagroso, pois restaura separações, exclusões, doenças sociais e corporais, como exaustivamente aparece na ação de Jesus. Jesus toca, toca-nos e não só na pele, toca também o coração....

A solidão, a ausência, a falta e a separação são experiências da singularidade dos corpos que provocam saudade de uma possível unidade primordial. Os materialistas pensam essa unidade primordial na partícula elementar de onde tudo passou a ser, pelo Big Bang. Os cristãos pensam a unidade primordial no seio do criador, donde tudo saiu pela ação do Espírito de amor.

Agora vivemos separados, em falta, em carência, vivendo experiências em corpos separados (dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo), mas no desejo e na saudade do futuro que, em enfim, na morte, nos reconduzirá ao aconchego da mãe Terra ou nos braços acolhedores de Deus. O céu só pode ser um abraço bem apertado de Deus em cada um dos seus filhos e filhas, humanos e animais não humanos. Até lá, viveremos tateando....

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