sábado, 10 de setembro de 2016

A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE.

Um interiorano deslocou-se para a capital por compromissos profissionais. Resolvido o problema, teve de sujeitar-se a um longo período de espera na rodoviária. Para encher o tempo, entrou num majestoso templo, sem altar e no lugar dos tradicionais bancos, confortáveis poltronas. Calculou que o local poderia acolher, confortavelmente, mil pessoas

O culto já estava em andamento e um pastor, terno e gravata, explicava à plateia que Deus tem riquezas infinitas e não precisa do nosso dinheiro, mas as obras de Deus, essas sim precisam. Ele esclareceu aos fiéis: de tudo o que vocês ganham 10% é de Deus. E provocava: vocês querem roubar o dinheiro de Deus? Em seguida, quis testar o grupo: quem de vocês tem 100 reais para as obras de Deus? Um dos presentes levantou o braço. O pastor pediu que ele levasse a verdinha ao altar.

Mostrando-se bom estrategista, fez outra proposta: Quem tem 50 reais para as obras de Deu? Alguns tinham. E quem daria 50 reais se pudesse? A maioria levantou as mãos. Ele continuou: quem tem 10 reais para as obras de Deus? Muitos tinham. Depois veio a cartada final: quem de vocês está guardando dinheiro para comprar remédios? E proclamou: deem a Deus este dinheiro e Ele curará sem remédios.

Essa é uma amostra da teologia da prosperidade. Encontramos suas raízes históricas em João Calvino (1509-1564), discípulo dissidente de Martinho Lutero. Ele elaborou sua “teologia” a partir de alguns princípios: todos nascemos predestinados, ou para o céu ou para o inferno. A riqueza é sinal de bênção e salvação e a pobreza sinal de condenação. É a teologia da riqueza, contrapondo-se à opção preferencial pelos pobres da Igreja católica.

A maioria das religiões evangélicas históricas, espantadas, perguntam-se: onde Calvino e seus seguidores atuais foram buscar os fundamentos evangélicos para estas absurdas afirmações? Pelo contrário, o evangelista Mateus resume os sinais do Reino: os cegos enxergam, os surdos ouvem, os mudos falam, os leprosos são curados e a Boa Nova é anunciada aos pobres (Mt 11,4). E a pobre viúva do Evangelho que superou os que possuíam moedas de ouro com duas pequeninas moedas de cobre?

Deus não quer a pobreza, mas ama os pobres e os desafia, nas bem-aventuranças: avante, vós pobres, avante vós que estais a caminho. Prevalecendo a teologia da prosperidade, o próprio Jesus poderia ser considerado maldito e condenado por não possuir riquezas e por condená-las. Deus não é um negociante e define-se como Amor
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