quinta-feira, 29 de setembro de 2016

HOSPEDAR OS PEREGRINOS.

Dar ou não dar hospedagem aos peregrinos, responde a um dos critérios para nosso juízo final. “Então o Rei dirá aos da direita: ‘Venham benditos do meu Pai!... Pois era estrangeiro e me acolheram!”. Aos que estiverem à esquerda dirá: “Afastem-se de mim!... Pois eu era estrangeiro e vocês não me acolheram” (Mt 25,34-35; 41,43). Na experiência histórica do povo de Israel o peregrinar e o sentir-se estrangeiro faz parte de uma realidade vivida, marcada por escravidões, inseguranças, amarguras e exílio. O Deus da Aliança é sempre acolhedor e misericordioso. Nós humanos, nem sempre! Nossas contradições também tramam exclusões, exílios e abandonos.

Nas prescrições morais, culturais e éticas registradas no livro do Levítico, confirmando a santidade de Javé que suscita o amor solidário entre as pessoas, pede-se: “Se um estrangeiro habita convosco na vossa terra, não o molestareis. O estrangeiro que habita convosco será para vós como um compatriota, e tu o amarás como a ti mesmo, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Eu sou Javé o vosso Deus”.

Não só a própria experiência angustiante da brevidade da vida e seus sofrimentos, mas também por lembrar suas raízes e sua história, o salmista lança a Deus um grande desafio: “Ouve a minha prece. Javé, dá ouvido aos meus gritos, não fiques surdo ao meu pranto! Pois eu sou um forasteiro junto a ti, um inquilino como todos os meus pais. Afasta de mim o teu olhar, e eu me alegrarei, antes que eu me vá e não exista mais” (Sl 39,13).

Ser peregrino ou ser migrante é uma situação humana que estremece todas as seguranças da pessoa e a coloca suspensa e sem chão, sem terra e sem aconchego. Uma vida assim é uma vida exposta a todo o tipo de indigência que clama por misericórdia. Se, para uma pessoa, esta experiência causa uma dramática sensação de estar perdida, imaginemos o que significa para uma família, onde não só adultos, mas também crianças se sentem no mesmo abandono.

O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, assim se expressa: “Os migrantes representam um desafio especial para mim, por ser Pastor de uma Igreja sem fronteiras que se sente mãe de todos. Por isso, exorto os países a uma abertura generosa, que, em vez de temer a destruição da identidade local, seja capaz de criar novas sínteses culturais. Como são belas as cidades que superam a desconfiança doentia e integram os que são diferentes, fazendo desta integração um novo fator de progresso! Como são encantadoras as cidades que, já no seu projeto arquitetônico, estão cheias de espaços que unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro".

Na tradição cristã, a acolhida aos peregrinos sempre foi uma preocupação decorrente do compromisso da fé. Por ser Cristo o fundamento de nossa fé e a razão de nossa esperança, Ele também é o argumento de nossas obras de misericórdia. O Cristo do Evangelho, da Eucaristia e da comunidade reunida, é também o Cristo que se apresenta a nós como forasteiro, peregrino e tantas vezes andarilho e morador de rua.

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