quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O FIM DA FARSA.

A farsa chegou ao fim. O tribunal de exceção encerrou seus trabalhos. Consumado está o golpe de estado. Não se esqueçam, porém, os traidores: o impeachment de Dilma Rousseff, longe de solucionar, agravará a crise brasileira.

A presidenta da República do Brasil foi oficialmente afastada e o Congresso Nacional - onde todos os representantes chegam pelo voto popular - numa crise de esquizofrenia política, considerou esbulho a vontade de 54 milhões de brasileiros.

É sim esquizofrênico, um processo onde a ré Dilma Rousseff, contra quem não se provou crime de responsabilidade, é julgada por uma quadrilha cujo chefe, Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, chantageou o governo para salvar a própria pele, após uma explosão de denúncias contra ele.

Dilma não cedeu, por isso sofreu impeachment. Se tivesse cedido e se unido aos mensageiros do atraso entraria para a história como entrarão agora seus algozes.

Seus filhos e netos deles se envergonharão, será difícil caminhar nas ruas porque cidadãos honestos vão escrachá-los ou até cuspir neles.

Que chances tinha Dilma de encontrar justiça num tribunal onde senadores envolvidos na trama do golpe são juízes? Nenhuma, porque este foi um jogo de cartas marcadas. Deputados e senadores pisaram na Constituição e incluíram em seus currículos o título de traidores do Brasil.

O que está por traz de tudo isso é a disputa política entre a luta do PT pelo fim das desigualdades sociais no país e as forças do atraso, de defesa dos interesses das elites. Batalha histórica não só aqui, mas em todo o mundo.

O golpe contra Dilma é também o recado do machismo, do patriarcado, do colonialismo. Em pleno século XXI, eles continuam dizendo: mulher não pode.

Dilma nunca coube no esboço de presidente desenhado pela elite conservadora deste país, que prega o ditado de recatadas e do lar para as ricas e domésticas escravizadas para as pobres.

Página infeliz de nossa história... como diz a música... sobre um outro golpe – aquele militar que prendia, torturava, matava e escondia os cadáveres – este, se repete com uma cara nova: seus aliados são a imprensa, o parlamento e setores do Judiciário.

Suas armas são a omissão, a mentira, o engôdo, os vazamentos seletivos de dados de processos na Justiça, a publicação de gravações telefônicas legais e ilegais, com ou sem permissão da justiça.

Testemunha da última cena do teatro de horrores, na plateia, o autor da canção, Chico Buarque divide lado a lado com o ex-presidente Lula e o ex ministro de Dilma, e ex-governador da Bahia, Jacques Wagner, o cenho franzido e, provavelmente, tristeza na alma.

Aqui os algozes de Dilma não colocaram as mãos nos rostos como na sua juventude, mas a certa altura reclamaram de estarem sendo filmados e fotografados pelos celulares da plateia.

Com certeza prefeririam ficar invisíveis neste momento em que enfrentam uma mulher sexagenária que discursou por 40 minutos e durante horas a fio, cerca de 14 horas, no primeiro dia, derrubou de forma clara e precisa cada uma das falsas acusações ou provocações baratas por parte de senadores intrujões, potoqueiros, engabeladores de seus eleitores e da Nação.

Do lado de fora, sob um sol escaldante desde a manhã da segunda feira, na chegada de Dilma ao Senado, uma multidão resistia, cantando ou gritando palavras de ordem em apoio a ela e ao que representa: a defesa à democracia e à continuidade dos avanços sociais, políticos e econômicos no Brasil.

Dentro do plenário do Senado, Dilma encarou os senadores que a atacavam com a mesma altivez que enfrentou o tribunal militar na época da ditadura.

Quem esperava encontrar uma mulher fragilizada, a ponto de se suicidar, renunciar, ou fugir para o Uruguai, se surpreendeu com uma Dilma altiva e segura.

Dilma não agia como ré, não demonstrava cansaço, desânimo ou impaciência. Em muitos casos suas respostas fizeram suas excelências parecerem decrépitos e confusos.

Surpreendeu a muitos demonstrando didatismo extremo ao responder, sem exceção, a todas as perguntas e comentários, com leis, datas e cifras, derrubando um a um os argumentos contra ela, com firmeza e segurança.
É claro, os golpistas declaravam à imprensa mais tarde que Dilma se repetia, que decorou as respostas, que não convenceu ninguém. Mentira.

Eles sim, faziam as mesmas perguntas, misturavam as estações, jogavam para a plateia um discurso de acusações que nem parte parte do processo fazia. Em muitos casos me perguntei: onde está a assessoria destes senhores que lhes permite se transformar em mico para a Nação?

Em dois dias de julgamento muitas declarações me marcaram pela beleza das palavras, pela lucidez do raciocínio e pela compreensão histórica desse momento, muitas dessas por parte de mulheres senadoras.

O olhar feminino consciente no Senado da República acusou o governo golpista, sem mulheres, de ter tirado do poder a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da República no Brasil, pelo voto direto e democrático.

Houve manifestações, no entanto, que chocaram a mim e certamente ao Brasil pela hipocrisia, pela reincidência de argumentos falsos, pela prepotência em sugerir a retirada de parlamentares que falavam do golpe no plenário, ou pela perfídia das lágrimas de crocodilos vertidas por acusadores, quando a ré se mantinha serena e focada.

Aquela advogada de acusação, até pouco tempo ilustre desconhecida, vaiada em sala de aula por seus próprios alunos e paga pelo PSDB para montar o processo, caiu mais uma vez no ridículo.

Tentou no Senado, criar outro factóide e renovar seus 3 minutos de fama conseguidos na sessão de abertura do impeachment na Câmara, quando gritava em nome de Deus e rodopiava descontroladamente com uma bandeira do Brasil.

Infelizmente, este julgamento foi um jogo de cartas marcadas, com resultado definido antes de começar. Ali não se buscava a verdade, convencer ou ser convencido. O que estava sendo considerado eram os cargos a serem ocupados, as melancias, como disse um senador, que não teve um voto sequer em Brasília, o senhor Hélio José.

O mais grave é que 61 senadores que votaram a favor do impeachment de Dilma se transformaram num colégio eleitoral para substituir 110 milhões de eleitores colocando na presidência da República um impostor, sem legitimidade para ocupar o cargo.

No Brasil não se vota em vice. Os brasileiros votaram em Dilma e em seu programa de governo, que com certeza não será aquele aplicado por Michel Temer.

Claro que não. Temer é cúmplice de Cunha e come no mesmo prato de Romero Jucá, o senador que se licenciou após o vazamento de gravação onde confessa que uma mudança no governo federal resultaria em um pacto para estancar a sangria representada pela operação Lava Jato, onde todos eles deveriam ser investigados.

Deveriam ser, mas com o golpe tudo ocorre conforme o planejado. O ministro do STF, Gilmar Mendes critica desmandos da Lava Jato., criando clima para "estancar a sangria". O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot suspende delações que envolvem políticos envolvidos no golpe, após provocação da Revista Veja. Alguma surpresa? Não.

As máscaras caíram todas. A hora é de seguir adiante. Com coragem e determinação, principal lição deixada por Dilma. O próximo passo deve ser a mobilização da sociedade em torno da luta por eleições diretas em todos os níveis, assim como a realização de uma ampla reforma política.

Quem resolve problema de crise é o povo. Se não querem entender isso pelo bem, entenderão pelo mal. Os cidadãos que nos últimos dias vem se manifestando em todo o país não abandonarão a bandeira de luta de renúncia deste presidente corrupto e sua camarilha.

Faço minhas, assim como milhares de brasileiros o farão, as palavras da presidente Dilma Rousseff em seu discurso no Senado: Não esperem de mim o silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje com a retórica jurídica, pretendem acabar com o estado de direito... Não luto por vaidade ou apego ao poder. Luto pela democracia, a verdade e a justiça.


Chico Vigilante








Chico Vigilante

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