segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A PUTA DA VEZ.

Após mais uma edição da já tradicional “Street Party” coxinha, a favor do golpe e contra a corrupção, chego à conclusão que em qualquer festa Rave de jovens do ensino médio se encontra pessoas mais equilibradas, mais polidas e menos embriagadas. Os manifestantes da chamada “República de Curitiba” foram os vencedores do Oscar de melhor circo dos horrores. Gente fina, elegante e sincera, ao desserviço da boa educação e da democracia. Um paradoxo patológico de fácil diagnóstico, mas que tenta se camuflar por detrás de lentes Gucci, bandanas Armani, abadás oficiais da CBF e um complexo de superioridade que chega a ser risível de tão megalomaníaco e desenfreado. 

A Atriz Leticia Sabatella foi a puta, digo, a vítima da vez. Não sabendo que não é permitido andar em via pública quando o grupo mais relevante da nossa sociedade se encontra no mesmo local, a Atriz sentiu na pele a sensação de estar interpretando Maria Madalena na vida real. A cena é constrangedora e nos remete a algumas atitudes que insistem em se perpetuar, mas que precisam ser extintas da nossa cultura. Entre elas o machismo, a intolerância e o preconceito. Não consigo conceber a possibilidade do bom caráter conviver harmonicamente dentro de uma mesma pessoa, com as três “qualidades” citadas anteriormente. É como abastecer com água um carro a gás e querer convencer a alguém de que ele vai andar. Só é possível em mentes conceitualmente deturpadas e socialmente mal intencionadas.

No vídeo em questão, entre dezenas de bananas de pijama empunhando a bandeira nacional, destacam-se uma senhora vestida a caráter para a ocasião e um senhor que certamente é um pai de família defensor da moral e dos bons costumes. Ambos hostilizam a Atriz com palavras, xingamentos e expressões típicos do dialeto da elite golpista. Vagabunda, comunista, vai pra Cuba, a mamata acabou e fora PT, foram algumas delas. Os mesmos clichês de sempre. Tenho a impressão que esses termos compõe uma espécie de mantra que visa afugentar os seres pensantes que obsidiam as suas ideias elitistas e segregacionistas. Mas o discurso é tão raso que eles acabam atraindo espíritos zombeteiros, que tentam lhes trazer de volta a razão e lhes mostrar o quão ridículo são os seus argumentos.

A tríade machismo-intolerância-preconceito formou um acorde, cuja nota destoante foi ver uma mulher chamando a outra de vagabunda, sem que a outra seja de fato uma, apenas por discordar de suas ideias, mostrando assim que o machismo não é exclusividade do sexo masculino. O tal cidadão de bem surge do nada, apenas para chamar a Atriz de puta e sair sorridente, com a sensação de ter cumprido o seu dever de machão idiota. Para ele deve ter sido como fazer um gol numa final de copa do mundo e eu tenho a certeza de que ele está orgulhoso do que fez. A sua esposa, a sua mãe e todas as mulheres que ali estavam combatendo ao seu lado, também devem estar orgulhosas dele. Não duvido. Para esse tipo de gente toda mulher é puta se não for de direita, todo pobre é bandido se não for seu empregado e todo político é comunista se não gove rnar para os mais ricos.

Naquele momento Leticia Sabatella, declaradamente contra o golpe, representava tudo o que a elite golpista detesta com todas as suas forças. Ela expressou a opinião contrária, mesmo sem ter dito nada. Essa parte da elite, dona da verdade e de todo o conhecimento supremo, não suporta ser contrariada. Ela lembrou os pobres e os projetos de inclusão social através dos quais muitos foram beneficiados, mesmo sem que ela pertença a classe menos favorecida da população. Ela materializou o sentimento da maioria da população que rejeita o governo intruso e sua política escravocrata que visa tornar o homem (pobre) servo do estado, impondo leis trabalhistas que retiram direitos dos trabalhadores e atribui a eles mais deveres. Ela retratou as mulheres de coragem que não se deixam intimidar pela cultura do machismo e dispensam o rótulo de sexo frágil.

A intolerância aliada a uma forte inclinação a insanidade, sempre deu o tom dessas manifestações ditas patrióticas. Uma gente que grita que a sua bandeira nunca será vermelha e não percebe que indiretamente são os responsáveis sociais por mais da metade do sangue vermelho que escorre a céu aberto na nossa selva urbana. Uma gente que exclui, elitiza, discrimina e que se julga superior a tudo e a todos que não fazem parte do seu meio. Uma gente que não se constrange em sair às ruas para protestar usando os seus acessórios de grife e repondo as energias a sombra bebendo água Perrier e cerveja artesanal. Uma gente que bate panela e sequer sabe lavar uma. Uma gente que defende as suas capitanias hereditárias com unhas e dentes e não abre mão da desigualdade e da injustiça social.

Às putas resta a esperança por saber que Cristo perdoou os pecados cometidos por Maria Madalena e a conduziu a um final feliz. Enquanto que para os golpistas fica o exemplo de Judas Iscariotes, o traidor, que morreu enforcado pela própria ganância e por sua sede de poder.

Pai! Perdoai-os! Embora eles saibam bem o que faze

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