quarta-feira, 24 de agosto de 2016

MAGNÓLIAS.

A sensação de que o tempo aumentou sua velocidade parece ser coletiva. Muitos verbalizam não perceber o tempo passar. A velocidade definitivamente tomou conta da humanidade. Evidente que o tempo permanece inalterado. A cadência dos passos é uma escolha pessoal, uma opção que faz toda a diferença e proporciona qualidade à vida. Ainda bem que as lembranças não dependem do dado cronológico. Há registros que já somam muitas décadas, mas dão a impressão de instantes. Os melhores acontecimentos independem do tempo, são sempre atuais.

Foi essa a sensação que tive ao chegar próximo ao robusto pé de magnólia: parece que tudo aconteceu há pouco tempo. No entanto, as sementes foram trazidas pelos primeiros freis franceses, há 120 anos. O caule não pode ser abraçado, a altura é admirável, as flores exalam muito mais do que perfume. Um olhar contemplativo remete à velha França, de onde vieram os primeiros frades capuchinhos. Não se limitaram à evangelização. Preocuparam-se até com as sementes de uma frondosa árvore, que não produz frutos, mas que floresce de forma espetacular, com uma fragrância ímpar.

São mais magnólias no mesmo terreno e em outros recantos conventuais. Já adquiriram o status de símbolo. Falam por si próprias, remetem à história. Fazem parte do patrimônio natural. Quando os humanos experimentam o significado da vida cultivam gestos admiráveis. Transportar sementes de um lugar para outro, preparar o solo, regar as plantinhas: é muito mais do que um trabalho, é a expressão de uma missão. A interdependência com o todo da criação é expressão máxima de fraternidade. A harmonia entre todos os seres é um sonho sempre atual.

O ser humano anda um tanto esquecido de sua importante tarefa de lançar sementes. Ser semeador é missão intrínseca, condição que garante abundantes colheitas. A escassez remete à indiferença. Se ninguém está semeando, como colher? Além de magnólias, outras espécies poderiam ser perpetuadas. Poucos estão lançando ‘sementes’ de paz, de solidariedade, amor ao próximo, perdão. O perfume da magnólia recorda quão grandioso foi o gesto de lançar a semente. Quanto maior o número de pessoas lançando outras sementes, mais intenso será o perfume da vida. A história da magnólia tem muito a ensinar e a inspirar. Que haja atentos aprendizes.

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