quarta-feira, 10 de agosto de 2016

ALGUMAS CERTEZAS

Morador num bairro da cidade paulista de Campinas, Breno Ruiz de Paula viu sua pequena empresa fechar as portas. As dívidas trabalhistas, com os bancos e fornecedores eram impagáveis. Não tinha como enfrentá-las e nem mesmo poderia garantir o sustento da própria família. Depois de algumas semanas de desânimo e depressão, a sorte sorriu para ele: foi um dos dois ganhadores da Mega-Sena. Calculou que a quinta parte do prêmio pagaria as dívidas. Sobraria muita coisa para recomeçar. Depois de uma noite de sonhos, acordou cedo para ir à Lotérica. No caminho foi atropelado e morreu.

Como nas novelas e romances, a vida está cheia de lances inesperados. O amanhã nem sempre é como nós imaginamos. Ele pode mudar para melhor ou pior. O escritor Fernando Sabino falava de três certezas: “A certeza de que estamos sempre começando, a certeza que nos resta muita coisa a fazer e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar”.

A vida transcorre sempre no presente. Ontem é uma saudade imutável, amanhã apenas uma possibilidade. Nosso tempo é hoje. Hoje é o tempo que estamos começando. São Francisco de Assis, no leito de morte, pediu aos frades: “Comecemos hoje, porque até agora pouco fizemos”.

Temos muitas coisas a fazer. Nem todas as searas foram plantadas, nem todos os poemas foram escritos, nem todos os gestos de bondade foram feitos. E não precisam ser gestos heroicos. A grandeza se constrói no cotidiano. A fidelidade de cada dia também mostra heroísmo.

É inteligente viver intensamente, mesmo porque não sabemos quantos anos, dias ou meses ainda teremos pela frente. O tempo é um dom, um presente de Deus. Vivê-lo intensamente é agradecer ao Pai. São Paulo, depois de uma vida intensa, afirmou: “Combati o bom combate, guardei a fé, resta-me agora a recompensa” (2Tm 4,7).

Vive-se uma única vez. Tudo o que eu deixar de fazer se perderá para sempre. Cada gota de amor que for espalhada ficará para sempre. Viver intensamente é dar sentido à existência. O mundo necessita ficar mais belo porque marquei meu caminho com pequenas flores de amor, beleza e fé. Podem não ser notadas, mas existem.

Iluminando as certezas de Fernando Sabino, outro escritor - Rubem Alves - esclarece: “Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira”.

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