quinta-feira, 27 de março de 2014

VIVER MELHOR OU BEM VIVER?

Na ideologia dominante, todo mundo quer viver melhor e desfrutar de uma melhor qualidade de vida. Comumente associa esta qualidade de vida ao Produto Interno Bruto de cada país. O PIB representa todas as riquezas materiais que um país produz. Se este é o critério, então o país melhor colocado é os EUA. Este PIB é uma medida inventada pelo capitalismo para estimular a produção crescente de bens materiais a serem consumidos.
Nos últimos anos, dado o crescimento da pobreza e da urbanização favelizada do mundo, e até por um senso de decência, a ONU introduziu a categoria IDH, o “Índice de Desenvolvimento Humano”. Nele se elencam valores intangíveis como saúde, educação, igualdade social, cuidado para com a natureza, equidade de gênero e outros. Enriqueceu o sentido de “qualidade de vida” que era entendido de forma muito materialista: goza de boa qualidade de vida quem mais e melhor consome. 
Consoante o IDH, a pequena Cuba apresenta-se melhor situada que os EUA, embora com um PIB comparativamente ínfimo. Acima de todos os países está o Butão, exprimido entre a China e a Índia aos pés do Himalaia, muito pobre materialmente, mas que estatuiu oficialmente o “Índice de Felicidade Interna Bruta”. Este é medido por critérios qualitativos, como boa governança, equitativa distribuição dos excedentes da agricultura de subsistência e da venda de energia à Índia, boa saúde e educação e em especial bom nível de cooperação para garantir a paz social.
Nas tradições indígenas de Abya Yala, ao invés de “viver melhor” se fala em “bem viver”. Esta categoria entrou nas constituições da Bolívia e do Equador como o objetivo social a ser perseguido pelo Estado e por toda a sociedade. 
O “viver melhor” supõe uma ética do progresso ilimitado e nos incita a uma competição com os outros para criar mais e mais condições para “viver melhor”. Mas, para que alguns pudessem “viver melhor” milhões e milhões têm e tiveram que “viver mal”. É a contradição capitalista
O “bem viver” visa a uma ética da suficiência para toda a comunidade e não apenas para o indivíduo. O “bem viver” supõe uma visão holística e integradora do ser humano inserido na grande comunidade terrenal que inclui além do ser humano, o ar, a água, os solos, as montanhas, as árvores e os animais; é estar em profunda comunhão com a Pacha Mama (Terra), com as energias do universo e com Deus.
A preocupação central não é acumular. De mais a mais, a Mãe Terra nos fornece tudo que precisamos. Nosso trabalho supre o que ela não nos pode dar ou a ajudamos a produzir o suficiente para todos. “Bem viver” é estar em permanente harmonia com o todo, celebrando os ritos sagrados que continuamente renovam a conexão cósmica e com Deus.
O “bem viver” nos convida a não consumir mais do que o ecossistema pode suportar, a evitar a produção de resíduos que não podemos absorver com segurança e nos incita a reutilizar e reciclar tudo o que tivermos usado. Será um consumo reciclável e frugal. Então não haverá escassez.
Nesta época de busca de novos caminhos para a humanidade a ideia do “bem viver” tem muito a nos ensinar.

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