quarta-feira, 5 de março de 2014

SOMOS UM PAÍS VIOLENTO.

Há um número inimaginável de brasileiros que não têm noção do grau de violência que se apossou em sua cidade. Seja nos prédios mais sofisticados ou nos ambientes de periferia. Somos um país violento. Talvez para cada dez pessoas boas tenhamos uma violenta e marginal. Ou, sendo generoso, talvez para cada cem pessoas boas uma seja violenta e marginal.
Mas há um poder de organização da marginalidade que prejudica profundamente o país. Para fazer um muro, às vezes leva dois meses, mas alguém pode pichá-lo em dois minutos. É sempre mais fácil desorganizar, demolir, detonar ou pichar, do que construir. Basta um violento para explodir um prédio que trezentos construíram. Essa é a força tremenda do mal.
Há cidadãos que não têm a menor noção do grau de sofrimento a que estão expostos. Certamente, milhões de brasileiros. E isso não vai mudar tão cedo. Começará a mudar quando de fato nos preocuparmos em lutar para que todos tenham o mínimo necessário para uma vida digna e humana. Enquanto não tivermos noção do sofrimento da maioria da população do planeta e do nosso país não podemos dizer que sabemos o que é viver.
Elas não são muito visíveis, mas nossas cidades estão cheias de grades e redomas que protegem as pessoas mais ricas e bem afortunadas. Elas acabam sem jamais ver o que se passa nas periferias e ambientes pobres da nossa nação. Não vão lá e quando vão não conseguem enxergar como eles são.
Uma senhora que teve o filho assassinado por um outro jovem rico por causa de drogas definiu com exatidão a situação de algumas famílias privilegiadas. “Eu nunca pensei que isso pudesse acontecer conosco, porque vivíamos numa redoma e achávamos que esse tipo de crime só acontecia nas periferias. Pois aconteceu no mesmo prédio onde vivíamos, alguém do segundo andar matou meu filho, que morava no oitavo, por dívidas de drogas.
Agora eu saí da redoma, tenho visto os sofrimentos de outras mães. Em memória do meu filho, que também errou, quero aprender do meu jeito a suavizar a dor de milhões de mães que já não tinham nada e perderam a única riqueza que restou: a paz. Faço parte das mães empobrecidas: perdemos os filhos e a paz”.

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