segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CHUVA DE AGROTÓXICOS BANHA O BRASIL

Cada brasileiro ingeriu, em média, 3,7 quilos de venenos agrícolas na safra 2009/2010
O Brasil ergue mais uma taça: a de campeão mundial no consumo de agrotóxicos. Diferente de outras, como o de pentacampeão mundial de futebol, que trazem orgulho e alegria, esta dizima vidas, acaba com ecossistemas, polui águas e ar e degrada os solos do país. Cada brasileiro ingeriu, em média, 3,7 quilos de agrovenenos em 2009. O que significa dizer que as lavouras receberam chuvas de veneno.
Os números impressionam. Na safra 2009/2010, foram vendidas 789.974 toneladas de agrotóxicos, movimentando US$ 6,8 bilhões e fazendo do país o maior consumidor desse tipo de substância no planeta. São mais de 400 tipos de agrotóxicos, comercializados sob a forma de 2.195 diferentes produtos. Os dados são do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Defensivos (Sindag, entidade das empresas produtoras de agrotóxicos). Metade do valor foi gasto com herbicidas e o restante, com inseticidas e fungicidas.
Comércio - O consumo mundial de agrotóxicos cresceu 50% nos últimos 10 anos e passou de US$ 40 bilhões, conforme os dados levantados pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). O maior mercado é o da Europa, com 32%, seguido pela Ásia e pela América do Norte, com 23% e 22%. A América Latina fica em último lugar nessas contas, com 19%. Por representar 84% do comércio de venenos agrícolas na região, o Brasil aparece como maior consumidor isolado.
O Brasil ultrapassou os EUA ainda em 2008, numa diferença de 733,9 para 646 mil de toneladas, conforme a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). O consumo nacional aumentou a uma velocidade três vezes maior que a mundial.
Fusões - Há outro agravante. “A tecnologia está concentrada nas mãos de poucas indústrias”, alerta o engenheiro agrônomo Laércio Meirelles. As mais de 50 fusões e aquisições registradas na última década ajudaram a concentrar as vendas internacionais nas mãos de seis empresas. Syngenta e Bayer se revezam na primeira posição, com perto de 40% do mercado. Basf e Monsanto, que somam outros 20%, disputam o terceiro posto. Dow e DuPont estão na terceira escala, com participações de 5% a 10%. Juntas, as seis maiores indústrias têm dois terços do mercado. No Brasil, as duas maiores têm 35% do mercado, as quatro maiores somam 55% e, considerando as oito líderes em vendas, o índice chega a 78%.
Além disso, sem contabilizar o contrabando, produtos que foram barrados no exterior são usados em diferentes cultivos brasileiros. Entre dezenas de substâncias perigosas, o endosulfan, por exemplo, é um inseticida cancerígeno, proibido há 20 anos na União Europeia, Índia, Burkina Faso, Cabo Verde, Nigéria, Senegal e Paraguai. No Brasil, onde é muito usado na soja e no milho, será banido em 2013.

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