quarta-feira, 13 de julho de 2016

UM CORAÇÃO DE CRIANÇA

Os laços de amizade provocam encontros, fortalecem a pertença, desencadeiam esperança. O tempo dedicado ao cultivo da amizade é um excelente multiplicador. Quem tem amigos, tem mais chance de estampar a felicidade, de iluminar o coração. Num dia desses, a agenda permitiu uma breve visita do pároco a uma família: casal com dois filhos e mais a amável avó. No intuito de otimizar o tempo, o encontro, para ficar dentro do padrão, deu-se ao redor da mesa. Ao ingerir os alimentos, os olhares se encontram, as palavras confirmam o vai e vem, na construção do diálogo. A mesa é sagrada. Hás tantos ganhos ao sentar à mesa. O alimento, muitas vezes, é apenas um detalhe, uma inteligente desculpa.

Lá pelo final da refeição, a filha, muito comunicativa e encantada com a espiritualidade, rezou a Ave-Maria em italiano, a pedido da avó. Algo singelo e emocionante. A felicidade dos pais estava notavelmente estampada no semblante que se iluminou. Em seguida, fui convidado a folhar o livro do Papa Francisco, uma compilação de perguntas de crianças do mundo inteiro. As respostas do Pontífice fazem daquela obra um hino à inocência, que pode e deve acompanhar as diversas idades. A espiritualidade é uma dádiva que alcança ternura e fortaleza à existência.

Enquanto o olhar continuava atento às páginas daquele maravilhoso exemplar, a inteligente menina manifestou com a palavra e com o semblante: ‘eu não entendo o que é mesmo o Reino de Deus.’ Participante da catequese, estava intrigada com essa expressão. Talvez já tivesse ouvido algo próximo de uma explicação, mas não estava satisfeita. Tomou a liberdade de me abordar, na tentativa de dirimir a dúvida. O pároco usando de analogia, explicou que Jesus veio inaugurar uma outra forma de pertença, um Reino bem diferente dos demais. A paz, a justiça, a solidariedade e o perdão são características a serem cultivadas para os membros desse Reino. Talvez o esforço da explicação possa render ainda alguns frutos. O intuito foi deixar aberta a possibilidade de outras perguntas.

Ter perguntas nunca será um problema. Pelo contrário, as indagações provocam proximidade para com a verdade. Em todos os tempos, o Reino de Deus suscitou questionamentos, provocou elaborações, estimulou a imaginação. É maravilhoso perceber que, mesmo com tantos outros atrativos e meios, a catequese dinamiza a fé e abre a possibilidade de compreender e acolher as palavras de Jesus. Saí daquele lar disse o religioso,com a certeza de que Deus continua apostando num coração de criança.

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