quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A SUPERAÇÃO DA DOR.

Tinha um problema na perna. Jogava-a para o lado e para frente para poder andar. Com muita dificuldade, mas andava. Depois do aneurisma, reaprendeu a andar para reaprender a viver.
Passou serena por mim naquela alegria de pessoa que venceu na vida. Superou enormes dificuldades. Venceu a dor. Pensei nos milhares de homens, mulheres e crianças que carregam no corpo um sinal de dor.
Ouvidos, olhos, diabetes, braços, mãos, pés, pernas, estômago, rins, pulmão... Algo não funciona. Então eles se armam de teimosia e dominam o corpo que tenta dominá-los.
São pessoas lindas e fortes. Como velas quebradas, provam que se pode emitir a mesma luz que as velas inteiras porque sua luz não vem de fora, mas de dentro.
Não sei o que seria do mundo sem eles. Certamente seria um mundo mais fraco, mais insensível e mais triste. Aquelas pernas, aqueles braços e aqueles olhos atingidos pela doença, mesmo na deficiência e na imperfeição, continuam úteis. Eles mostram que o ser humano é mais do que aquela máquina chamada perfeita. A pessoa que leva o corpo é maior do que o corpo que a leva!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O CHÁ VERDE DOS PAMPAS

Ultimamente, muito tem se ouvido falar dos chás do Oriente - preto, verde, branco e vermelho - por suas propriedades digestivas e protetoras do coração. Mas não é preciso ir tão longe para obter benefícios ao organismo. A erva-mate, nativa dos pampas brasileiros, e também do Uruguai, Paraguai e Argentina, é tão ou mais saudável do que o chá verde oriental. Os brasileiros têm muitas maneiras de sorver a infusão de erva-mate: quente, gelada, no chimarrão ou no tererê. Todas elas garantem benefícios à saúde, segundo estudos recentes.
Na Universidade Federal de Santa Catarina, os pesquisadores notaram que três doses diárias de 300 ml de chá de erva-mate são capazes de diminuir em 13% o colesterol ruim (LDL) e aumentar o bom (HDL). Esse efeito foi observado em amostras de sangue de 100 voluntários que incluíram a bebida nas refeições durante 60 dias. Os pesquisadores acreditam que essa ação se deve às saponinas, substâncias presentes na erva-mate que funcionam como uma espécie de detergente. Elas reagiriam com os ácidos biliares impedindo a absorção de gordura pelo intestino.
Este mesmo efeito também foi verificado em cobaias, em pesquisa realizada pela Universidade São Francisco (SP). Além da redução dos índices de colesterol ruim, as taxas de triglicerídeos e de açúcar baixaram, segundo os pesquisadores. Os animais também apresentaram queda no peso, possivelmente porque os princípios ativos da erva-mate também inibem a ação de uma enzima envolvida na digestão da gordura, a lipase.
As pesquisas com a erva ultrapassam os limites do Brasil. Na Coréia do Sul, cientistas da Universidade de Yonsei também verificaram que a inclusão de erva-mate na alimentação de ratos resultou em diminuição do peso, da gordura abdominal e da glicose. Assim, pode-se concluir que o mate é amigo do coração, agindo na prevenção de doenças cardiovasculares.
A erva dos pampas ainda tem substâncias antioxidantes que combatem os radicais livres, inibindo o desenvolvimento de males degenerativos, como câncer. Após as refeições, o chá-mate também é muito bem-vindo, já que estimula a produção da bile, substância responsável por digerir gorduras, e os movimentos do intestino, favorecendo a digestão.
O cérebro também parece se beneficiar dos princípios ativos da planta. A Universidade Federal de Santa Catarina investiga o assunto. Em ratos, pesquisadores notaram sinais de melhora na memória de curto prazo e na atividade cognitiva. O benefício estaria associado à cafeína, presente em grande quantidade na composição da erva, que bloqueia os receptores cerebrais da adenosina, uma molécula que, em excesso, prejudica o raciocínio.
Para obter todos os benefícios da erva-mate, os especialistas recomendam fazer a infusão, deixar descansar por cerca de dez minutos, coar e beber, três vezes ao dia, cerca de 300 ml por vez. A infusão pronta não deve ser armazenada por mais de 24 horas, para que não perca seus princípios ativos.

Erva deve ser evitada à noite

A cafeína presente na erva-mate tem ação benéfica no organismo, mas, como qualquer outra substância, em excesso, pode ser prejudicial. Pelo efeito da cafeína, o melhor é consumir a erva-mate, seja em forma de chá ou chimarrão, durante o dia, já que é estimulante. Principalmente quem sofre de insônia ou ansiedade, deve evitar o mate à noite.
Quem tem arritmia cardíaca também não pode exagerar, assim como as vítimas da osteoporose, pois há indícios de que a cafeína interfere na absorção de cálcio.
O chimarrão consumido pelos gaúchos merece atenção. Preparado com erva-mate e água bem quente, pode se transformar num vilão. O problema não é a erva, mas a temperatura elevada da água. Vários estudos relacionam o câncer de esôfago a este hábito dos gaúchos. O ideal é manter a bebida abaixo dos 50ºC.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

OS 12 PAÍSES DO MUNDO MAIS SEXUALMENTE SATISFEITOS

Como é o sexo em cada país? Os chineses vão para a cama mais do que os americanos? E os brasileiros? Como anda a satisfação sexual no planeta?
Um novo estudo com dados de diversos institutos, especialmente a Durex Global Research, mediu o desempenho e a satisfação sexuais de nações baseando-se em vários fatores: amor mútuo e respeito entre os parceiros; capacidade de orgasmo; boa saúde física e mental; freqüência de sexo e preliminares; e por aí vai.
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O ranking:

1. Suíça

Pode ser por causa das visões progressistas sobre a prostituição legal, da popularidade de bordéis licenciados, da postura liberal em relação à pornografia, ou de programas de educação sexual controversos que começam no jardim de infância… Mas uma coisa é certa: a Suíça é constantemente classificada como uma das nações mais sexualmente satisfeitas no do mundo. Um estudo de 2013 revelou que 21% dos cidadãos avaliam seu desempenho sexual e sua vida sexual como “excelentes”; 32% fizeram sexo em lugares públicos. No entanto, de alguma forma, os suíços ainda conseguem ter uma das mais baixas taxas de gravidez de adolescentes no planeta.

2. Espanha

Com suas praias de nudismo e alta aceitação social do casamento gay, os espanhóis recentemente encabeçaram uma lista de “melhores amantes”, elaborada com 15 mil mulheres. Um quarto da população da Espanha classifica seu desempenho sexual como excelente. Estudo recente com 9 850 pessoas no país revelou que 90% dos homens e das mulheres espanholas vivem satisfeitos sexualmente.
3. Itália

Com abundância de bons vinhos e boa comida, não é de admirar que os italianos pontuem alto na escala de satisfação sexual. A sedução na Itália começa na mesa e comida e sexo são indissociáveis. Esta pode ser a razão pela qual os italianos são considerados amantes top. Mulheres italianas também parecem contentes com sua vida amorosa – e mulheres que tomam dois copos de vinho por dia desfrutam de uma maior satisfação sexual do que aquelas que não bebem. Este ano, 64% dos homens e mulheres da Itália classificaram sua vida sexual muito satisfatória e um terço dos italianos esperam que o sexo dure mais do que 10 minutos.
4. Brasil

Os brasileiros entram na lista como uma nação altamente satisfeita sexualmente. As estatísticas variam sobre o quão frequentemente os brasileiros estão trepando — um relatório reivindica que 82% têm relações sexuais pelo menos uma vez por semana, outro diz que são 145 relações, em média, por ano –, mas o fato é que brasileiros desfrutam bastante de suas vidas sexuais. As pessoas aqui no Brasil também tendem a perder a virgindade antes de quaisquer outras.
5. Grécia

A razão pela qual os gregos são tão sexualmente satisfeito é que eles são menos tensos ao falar sobre seus desejos. Na verdade, os gregos têm falado de sexo há muito tempo. No século IV a.C., Hipócrates falou explicitamente: “No caso de mulheres… quando, durante a relação, a vagina é acariciada… uma irritação no útero produz prazer e calor no resto do corpo”. Touché! Ainda hoje, os gregos comumente discutem sexo no trabalho com os amigos e, o mais importante, com seus parceiros. Claro, o excelente clima, as belas ilhas e a dieta saudável ajudam. A Durex afirma que gregos são os que mais têm sexo no mundo (164 vezes por ano).
6. Países Baixos

A Holanda tem uma reputação de ser um dos países mais liberais do mundo, graças ao seu famoso distrito da luz vermelha, da abundância de praias de nudismo e das políticas de educação sexual. Além disso, 64% dos homens e mulheres são confiantes e mais abertas sobre sexo. Comparativamente, apenas metade dos americanos dizem que se sentem confortáveis para fazer valer os seus desejos. Notavelmente, a Holanda tem uma taxa de gravidez na adolescência de apenas 5,3 por mil, em comparação aos 39,1 por mil nos Estados Unidos. Ali, 22% da população classificam a qualidade de suas vidas sexuais como excelente.

7. México

O México tem sido classificado como um dos “países mais excitados” no mundo e tem a segunda nação mais satisfeita do mundo, com 63% afirmando ter uma vida sexual satisfatória. Em 2008, a Cidade do México distribuiu mais de 700 mil livros de educação sexual para as escolas, abrangendo temas como controle de gravidez, aborto e a homossexualidade. Pode também ter algo a ver com o fato de que a prostituição é descriminalizada e regulamentada em metade dos estados do país.
8. Índia

Apesar do fato de que os indianos esperam mais tempo para ter relações sexuais pela primeira vez ( em média, aos 22 anos de idade), o país tem sido consistentemente classificado entre os mais satisfeitos nos últimos anos. O segredo para a felicidade sexual é um pouco misterioso, mas há algumas teorias. Eles desfrutam de prazer prolongado (a viagem é mais importante que o destino). Pense no sexo tântrico. Os homens são mais propensos a passar mais tempo no processo de sedução e nas preliminares. O tempo médio gasto na relação sexual é de 13 minutos. 61% deles consideram-se satisfeitos.

9. Austrália

Travessuras ao ar livre podem ser a chave da felicidade na terra dos cangurus pernetas. 75% dos australianos afirmam ter tido relações sexuais na estrada, no carro ou fora dele . Além do mais, 27% das mulheres australianas “não mudariam nada em suas vidas sexuais”. Mais de 20% delas pensam no menagem a trois como sua fantasia sexual favorita. Eles também são mais promíscuos que o resto do planeta. Vinte e cinco é o número médio de parceiros sexuais dos homens.Para as mulheres, 10.
10. Nigéria

De acordo com a Durex, a Nigéria é classificada como o número um em matéria de pessoas sexualmente satisfeitas, com 67% de sua população se dizendo realizada. Talvez tenha algo a ver com o fato de que os nigerianos também levam mais tempo fazendo sexo: 24 minutos por sessão, em média. As estatísticas são bastante surpreendentes, dada a visão conservadora sobre os casamentos homossexuais, recentemente proibidos, e a prevalência do extremismo islâmico, que domina o país. As mulheres nigerianas foram classificadas como as mais infieis do mundo, sendo que 62% admitiram ter traído um parceiro.
11. Alemanha

Os alemães são tidos como os “piores amantes” do mundo por causa do “mau cheiro”. Mas a Alemanha é o lar de alguns dos programas de educação sexual mais abrangentes e é conhecida por políticas públicas progressistas em relação à prostituição. O elemento de excitação também parece estar em pleno funcionamento: 32% dos alemães confessam ter tido um caso de uma noite e 30% fizeram sexo em um lugar público. À semelhança de outros países da Europa Ocidental, os alemães avaliam seu próprio desempenho como excelente. A Alemanha tem um sexto da taxa de HIV dos Estados Unidos.
12. China

A China está sexualmente satisfeita? Bem, não exatamente. Mas nenhuma lista estaria completa sem ela. Enquanto a República Popular é uma das sociedades mais conservadoras e repressivas do mundo, atrás de portas fechadas a sua população está tendo mais relações sexuais por semana do que a maioria das outras nações.78% por cento da população faz sexo pelo menos uma vez por semana. O segredo para a satisfação na China? Tecnologia. A maioria dos homens chineses utiliza emails para encontros. Além do mais, nos últimos 10 anos, os sex shops e compras online têm crescido brutalmente na China. Lembre-se: 70% dos brinquedos sexuais de todo o mundo são fabricados na China.

PARA SABER, PRECISO MORRER.

Leio livros. Entro em livrarias e vejo a quantidade enorme de livros nas prateleiras. Abro um, abro outro e fico com vontade de lê-los todos. Neles está a história da humanidade e da cultura de civilizações de todas as raças e épocas. Neles estão histórias de vidas que marcaram e transformaram a humanidade. Nos meus poucos anos de vida não consigo assimilar a sabedoria de todos eles. Preciso morrer para saber de tudo e de todos instantaneamente. Tudo estará em minha mente num aqui e agora.
Viajo por terras e cidades e tudo me parece tão grande e tão pequeno! Percebo que não conheço nada. Nada desta nossa terra e humanidade. Uma pirâmide, um monumento, um desenho numa caverna me falam de milhares de anos de história da humanidade. É o grande mistério da humanidade, cuja história são apenas algumas linhas de um livro infinito. Como penetrar na história dos maias e incas, dos chineses e africanos, que têm muitos milhares de anos? Como saber o que pensavam e faziam os seres humanos a noventa mil anos passados, a duzentos mil anos passados? Não sei nada disso e a humanidade apenas imagina, mas nada sabe da grande história da humanidade. Preciso morrer para, num aqui e agora, ter em minha frente todos os segredos da história de nossos antepassados.
Olho para o universo e fecho os olhos porque não aguento contemplar tamanha grandeza. Morando nesse grão de areia, que é nossa mãe terra, não dá para imaginar bilhões de astros, muito maiores que o sol, que formam esse universo infinito. Como conhecer os bilhões de galáxias e os buracos negros, que são de energia tão intensa que engolem em seu interior galáxias e estrelas? Não sabemos nada desse universo! Por isso, preciso morrer para estar em cada galáxia e estrela e poder ver a beleza e a grandiosidade do universo.
Vejo o pássaro voar e em minha mente a imaginação voa também. Por que o pássaro voa e eu não posso voar? Como desejo, e muito, estar dentro de um pássaro e ver do jeito que ele vê e tentar saborear a liberdade! É preciso morrer para saber porque há um urubu nas alturas espreitando uma carniça e um beija-flor sugando o néctar das flores.
Fico olhando para as crianças e os idosos e surgem em mim muito mais perguntas que respostas. O que pensa uma criança ao nascer? Cada pessoa começa ali sua história. História de frustrações e sucessos, de medos e coragem, de empreendimentos e desistências, de sonhos e fracassos, de vida e de morte. Como saber o que se passa em cada coração humano? Por que um ri e outro chora? Por que um luta para viver e outro faz tudo para morrer? Na verdade, não sabemos nada de nada. Somos apenas um começo de um grande tudo. Mas desde agora teimo e teimamos em saber e conhecer, porque sei que quanto mais alimento desejos, mais terei possibilidade de conquistá-los. Mas para saber e ter tudo em mim preciso morrer, porque esse meu corpo é um impedimento para chegar onde desejam chegar meus sonhos.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

HÁ UMA ÍNTIMA CONEXÃO ENTRE TODAS AS COISAS...

Diógenes Laércio disse um dia a Platão: “Posso ver uma mesa e uma xícara; mas não isto a que você se refere, a mesidade e a xicaridade.” O fundador da Academia retrucou: “Para ver uma mesa e uma xícara você precisa de olhos, e você os tem. Para ver mesidade e xicaridade precisa de inteligência, e você não a tem.”
Inteligência deriva de intro legere, ser capaz de ler dentro, de captar com acuidade o que há atrás das aparências, de alcançar a essência, pois todos sabemos ou ao menos intuímos que a realidade percebida por nossos sentidos é apenas a ponta do iceberg. Há uma íntima conexão entre todas as coisas. O primeiro a percebê-la foi Tales de Mileto, filósofo grego do século VI a.C. Suas obras não chegaram até nós, mas há quem lhe atribua a autoria do Guia de navegação pelas estrelas, suspeita que ele divide com Focos de Samos.
As ideias de Tales de Mileto nos são conhecidas graças aos comentários de Platão, Aristóteles, Teofrato, Simplício, Diógenes e Eudemo. Para aquele que é considerado o primeiro filósofo, “todas as coisas estão cheias de deuses.” Há uma sacralidade inerente a todo o criado. Proposição que, com certeza, era conhecida pelo apóstolo Paulo, que a cristianizou ao afirmar: “Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dentre os poetas de vocês disseram: ‘Somos da raça do próprio Deus’” (Atos dos Apóstolos).
Tales reconhecia na água a matéria-prima da natureza, o sustentáculo da Terra. Não se equivocou de todo, se considerarmos que a fórmula da água - H2O - indica que ela se compõe de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. E, na escala atômica, o hidrogênio está na origem de toda matéria.
Encantado com as ideias de Tales, Nietzsche sublinha que a água, como “útero materno de todas as coisas”, nos remete à origem do Universo, e a proposição contém “em gérmen a ideia de que Tudo é Um.” No Gênesis, o autor bíblico inclui a água como elemento primordial, citado já no segundo versículo: ”Javé pairava sobre as águas”.
No século XX, a ciência comprovou que tudo que existe pré-existe, subsiste e coexiste. Todos os seres da natureza, incluídos o homem e a mulher, são feitos dos mesmos 92 átomos resultantes da explosão inicial do Universo, o Big Bang, há cerca de 14 bilhões de anos.
Átomos e moléculas de nosso organismo sabem contar a história do que foram antes, desde que a vida emergiu do fundo dos mares e evoluiu através dos reinos mineral, vegetal e animal. Por isso, viver é dar um beijo na boca da natureza. Nossas células se alimentam do gás que ingerimos pela boca e nariz, o oxigênio, produzido pelos plânctons e pelas plantas; ao expirar retribuímos a plânctons e plantas o nutriente que os sustenta, o gás carbônico.
Nossa vida se mantém graças à capacidade de reciclar a natureza num gesto cotidianamente eucarístico. Os alimentos ingeridos no almoço eram vegetais que estavam vivos e morreram para nos dar vida, na forma de salada; grãos que estavam vivos, o arroz e o feijão, morreram para nos dar vida; animais que estavam vivos - peixe, frango ou gado - morreram para nos dar vida.
Teilhard de Chardin afirma que todas as coisas são impelidas rumo à completa sinergia, o Ponto Ômega, que a fé identifica com Cristo Ressuscitado, no qual no futuro seremos todos unificados, sem no entanto perder a nossa individualidade.
Se fôssemos capazes de seguir o conselho de Platão e perceber essa unidade entre todos os seres, a cosmofraternura que nos une, a energia vital que faz da vida esse maravilhoso milagre, com certeza seríamos menos insensíveis perante a miserável situação em que sobrevivem tantos de nossos semelhantes.

DEIXE DEUS SALVAR O MUNDO.

U m homem rico e poderoso vivia cheio de preocupações. Embora tivesse tudo o que o mundo pode oferecer, não dormia, com reflexos negativos na saúde e, sobretudo, não era feliz. Trabalhava cada vez mais e enfeixava em suas mãos todas as decisões. Num dos raros momentos de descontração, ficou alguns minutos conversando com seu jardineiro. Sabendo das preocupações do patrão, o jardineiro observou: não é verdade que Deus conduzia o mundo antes que o senhor nascesse? Naturalmente, respondeu o patrão. E depois que o senhor partir, Deus vai continuar cuidando do mundo? Também é verdade, admitiu o patrão. Então, completou o jardineiro, porque não deixa que Ele conduza o mundo enquanto o senhor está nele?
No dia-a-dia encontramos duas alternativas em relação à nossa parceria com Deus. Há os que exigem que Deus faça tudo sozinho e solicitam a intervenção divina a cada momento. Chegam até pedir que Deus determine os resultados de um jogo de futebol... E se o adversário também rezar pedindo a vitória? O outro grupo dispensa Deus e pretende salvar o mundo sozinho. Os seguidores dessa alternativa trabalham demais, têm ideias determinadas sobre qualquer projeto e atividade. Eles não apenas dispensam Deus, mas também a opinião dos outros.
A salvação do mundo é obra de Deus. Mas Ele não quer fazer isso sozinho e estabeleceu uma parceria conosco. Essa parceria é regida por normas muito claras. Não podemos ocupar o lugar de Deus, mas não podemos exigir que Deus faça aquilo que nós mesmos podemos fazer. Deus e a oração não podem servir de desculpas a preguiçosos. Depois que tivermos feito tudo o que está ao nosso alcance, aí sim, podemos pedir a força divina.
Sabemos que Deus é bom e inteligente. Muitas vezes, em nossa prece, dizemos a Ele o que fazer, caso seja inteligente como nós... Deus quer a felicidade de seus filhos e filhas. E sabe quais os caminhos para a felicidade. Os mandamentos de Deus têm este objetivo: que seus filhos e filhas escolham o caminho certo.
O bom senso aponta uma norma prática em nossa relação com Deus. Devemos trabalhar como se tudo dependesse de nós, mas precisamos confiar porque tudo depende Dele. Temos o direito de pedir o pão, a paz, a saúde, a aprovação no exame final, desde que tenhamos feito a nossa parte. E nossa prece sempre deve ser temperada pela atitude de filhos e filhas: que a vontade do Pai seja feita. Ele salva o mundo, em parceria conosco, e tudo faz para que sejamos felizes.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CASAR COM A NOIVA ERRADA.

A falta de luz em plena cerimônia de casamento levou dois noivos a se casarem com as mulheres erradas. O fato aconteceu num templo indiano, na região de Tamil Nadu. Os casamentos coletivos são comuns naquele país. Na oportunidade, participaram da cerimônia quarenta jovens casais. Justamente na hora de os noivos colocarem os mangalsutras - colares sagrados - no pescoço das amadas, no gesto culminante da cerimônia, faltou luz no templo, que estava lotado. O nervosismo, usual nos casamentos, e a escuridão causaram a quase tragédia. O erro, naturalmente, foi descoberto em seguida e levou os responsáveis do templo a improvisarem uma “parikara puja”, cerimônia corretora, que permitiu retirar os dois colares sagrados para colocá-los, desta vez, nos pescoços das noivas certas.
A literatura do casamento fornece amplo material de espanto. É o caso do casamento de meninas de quatro ou cinco anos, noivas vendidas pelos pais, maridos dados como mortos e que retornam ao lar, com a esposa casada uma segunda vez. Modernamente, acontecem os assim ditos casamentos que duram semanas. Há também os incorrigíveis que casam e descasam uma dezena de vezes. E muitos desses casamentos são badalados pela mídia, que fala do casamento do ano, do século...
Para os cristãos, o casamento é sagrado, revestido da dignidade sacramental. Mesmo assim são muitos os desencontros deste amor eterno. Para começar, um número espantoso de casamentos realizados nas igrejas não passa de bem montada encenação. Véu, grinalda, padrinhos, fotógrafos, músicas exóticas, nem mesmo a figura do sacerdote assistente, salvam o casamento. São tecnicamente nulos. Significa que o sacramento não existiu por falta de condições.
Através dos cursos de noivos, objetiva preparar os jovens para assumir esta decisão, a mais importante de duas vidas. Esse passo, naturalmente, deve ser dado com liberdade e conhecimento. Ninguém é obrigado a casar na igreja, ninguém é obrigado a receber o sacramento. Mas quem o faz assume a proposta da Igreja, que tem o compromisso de ser fiel a Cristo. O sacramento do matrimônio é reservado aos cristãos. E deve ser assumido à luz da fé. Mesmo porque não existe a possibilidade de desfazer a cerimônia, tirando de uma noiva e passando para a outra o colar sagrado

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

SAUDADE OU ESPERANÇA?

A vida é para frente. Fico muito intrigado com quem fica preso ao passado! Com quem fica com os fatos pessoais do passado, com conquistas passadas, com tradições mortas e culturas que não têm mais vida. Pessoas presas a uma árvore que já está podre, a uma casa que está ruindo, a um objeto cheio de mofo. Muito pior que as coisas são as ideias e as emoções, as atitudes e os projetos de vida voltados para o passado.
Nosso corpo é voltado para frente. Todo ele. Somente é voltado para trás o órgão que joga fora o que não presta. Os olhos são feitos para ver o aqui e os horizontes infinitos. Os ouvidos são voltados para os sons que vem de longe. Nossas mãos e nossos pés tomam a direção do futuro. É difícil caminhar para trás! Somos um corpo aberto para o futuro.
A vida não é saudade. O sentimento de saudade é doentio. Lembra fatos e quer voltar. E não há volta. Voltar a situações de conforto. É a sociedade atual. Quanta gente pensa que vamos voltar um dia ao antigo esquema de família, de vizinhança e de comunidade. Não há volta! Por mais que se façam encontros familiares de gerações, por mais que se busquem canções e culturas passadas, não há como retornar. Para hoje são “vinhos novos em vasos novos”. Tudo é em vista do futuro. Tudo é lembrar ou relembrar, tudo é celebrar agora, voltados para o futuro. No hoje e no agora eu tomo na mão o passado e faço do momento presente um trampolim para fazer a história do futuro.
A vida é esperança. Fala-se muito do “paraíso perdido”. Ninguém perdeu o paraíso. O paraíso é uma conquista. Não está no passado. Não existiu “um paraíso , de águas abundantes, de pomares e jardins, de fraternidade entre animais e a espécie humana”. Esse paraíso é um desejo de Deus dentro de nós. Um desejo a ser conquistado dia-a-dia. É a construção da justiça e da fraternidade. É a construção das relações de amor e de paz entre os corações de todas as raças. A humanidade está nesse caminho. Com muitos tropeços. Com longos caminhos para andar. Mas o sonho de Deus continua: “um só rebanho e um só pastor”. E Deus é teimoso. Sabe que isso vai se realizar. Podem ser necessários milhões de anos. Para Deus não há tempo. O tempo é agora

SOBRE O ANO INTERNACIONAL DE RECONCILIAÇÃO.

Em 20 de novembro de 2006, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu proclamar 2009 Ano Internacional da Reconciliação. A resolução 61/17 da Unesco expressa, pois, a determinação de estimular e concretizar processos de reconciliação nas sociedades afetadas ou divididas por conflitos, classificando-os como necessários para o firme estabelecimento de uma paz que se possa dizer sólida e duradoura.
A Assembleia convidou, naquela oportunidade, os governos das sociedades em conflitos, organizações internacionais e não governamentais a apoiarem os processos de reconciliação em tais regiões conflitantes. Além disso, convidou-os a implementar programas culturais, educacionais e sociais adequados para promover o conceito de reconciliação, incluindo a realização de conferências e seminários teóricos e de reflexão, assim como a divulgação e disseminação de informação sobre este assunto.
Seria cômico... se não fosse triste e muito, muito sério, termos de constatar que o Ano Internacional da Reconciliação teve início com os gravíssimos acontecimentos da Faixa de Gaza, onde mais uma vez israelenses e palestinos se enfrentam com armas letais e a contagem de mortos sobia a cada dia. O lugar é tradicional em abrigar pelejas e contendas entre os dois povos semitas que ora se confrontam em conflito, sem precedentes em termos de violência e letalidade.
Gaza é a maior e principal cidade da Faixa de Gaza, denominada às vezes de Cidade de Gaza, com 409.680 habitantes, segundo o censo de 2006. Era governada pela Autoridade Palestina, depois que Israel cedeu o controle sobre toda a Faixa, seguindo o estabelecido nos acordos de Oslo, de 1993. Porém, em 2007, a organização nacionalista Hamas tomou o poder por meio de um golpe de Estado.
Desde então, as relações com Israel começaram a ficar cada vez mais tensas, com pequenos conflitos explodindo aqui e ali, culminando neste grande conflito que marcou o final de 2008 e o início de 2009 com uma mancha sombria e triste: a da violência sem quartel. O atual conflito faz de Gaza o lugar mais acossado, sitiado e estrangulado do mundo. Ali, enquanto Israel vive no século XXI com estradas asfaltadas, modernas indústrias e instituições de alto teor educativo, em Gaza vivem mais de um milhão de pessoas, que carecem de água corrente, eletricidade e alimentos, além de padecerem cada noite o açoite dos mísseis, dos tanques e da artilharia pesada de Israel.
Quando um israelita quer insultar o outro e mandá-lo para o que em português designamos educadamente como “aquele lugar”, diz: Vai para Gaza. No vocabulário israelita, o nome Gaza tornou-se sinônimo de inferno, lugar inabitável, impossível de se viver.
Ao proclamar 2009 o Ano Internacional da Reconciliação, por situar-se ao final da primeira década do novo milênio, a Unesco acreditou proporcionar à comunidade internacional a oportunidade de impulsionar, com a participação ativa de todos os interessados, os esforços para abordar processos de reconciliação que constituem uma necessidade mais que imperiosa. E começar pelos lugares que mais os necessitassem.
Não há lugar hoje mais necessitado que Gaza. Ali devem se concentrar os esforços de toda a humanidade. O processo da reconciliação tem que ter início, ainda que com passos trêmulos e tímidos. É a humanidade que aguarda e seu futuro que está em jogo.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

FOMOS DOMINADOS PELO CELULAR?


Os avanços tecnológicos que os aparelhos celulares tiveram nos últimos anos são notáveis. São múltiplas as funções e possibilidades de uso que foram agregadas ao aparelho, são tantas que muitas vezes utilizar o aparelho como telefone chega a ser secundário.
Esse mar de conectividade dos celulares traz uma relação de dependência de seu uso contínuo. Para alguns, praticamente todos os momentos de sua vida devem ser compartilhados com todos, assim como a necessidade correlata de saber tudo sobre a vida dos outros.
O contraditório deste processo é que, se toda a vida cotidiana deve ser compartilhada a todo o instante e se a todo o instante as pessoas devem estar conectadas para saber o que "está acontecendo", logo, fica a questão: em qual momento as pessoas vivem, de fato, os momentos de suas vidas que elas compartilham? Não estaríamos todos perdendo uma parte importante de nossa vida social?
Esse fenômeno, em maior ou menor escala, está cada vez mais introjetado em nossas sociedades. Vivemos em uma sociedade dominada pelo celular.
Você duvida? As fotos abaixo talvez ajudem a mudar sua opinião...
Este grupo de formandos que saem do ensino médio após a prova final, finalmente estão livres dos grilhões da educação padronizada.
A imagem inspiradora de um torcedor por sua equipe em um jogo disputado.
Amigas saboreando a deliciosa Pizza.
Nesta imagem, velhas amigas relembrando os bons e velhos tempos com um delicioso café.
A balada realmente está imperdível, não podemos deixar de compartilhar e mostrar aos amigos que não vieram, o que eles estão deixando de aproveitar ao ficar em casa na internet, não é mesmo?
O happy hour com os amigos no bar está muito divertido e descontraído, ninguém tira o olho do celular...
Uma tradicional familia curtindo os bons momentos juntos.
Apreciar as belas pinturas de Thomas Cole, pela primeira vez, é um momento que deve ser aproveitado a cada segundo.
Nesta foto, vemos como o amor na adolescência é marcado por momentos puros e inesquecíveis.
Esta foto comovente, mostrando a dificuldade - e a recompensa - da maternidade.
Nesta imagem, um adolescente simpático a capturar um momento em que ele nunca quer
 esquecer.
O que dizer desta adorável foto de um bebê entrando em sua primeira conta de rede social?
Esta imagem de um jovem vendo o pôr do sol da forma como foi feito para ser visto: através de uma tela pequena.
Alguma dúvida?

O QUE PENSAM OS BRASILEIROS

O Instituto Datafolha publicou uma pesquisa a respeito do posicionamento ideológico dos brasileiros. Essa não foi a primeira vez que pesquisas dessa natureza foram feitas pelo instituto, mas foi a primeira vez que questões econômicas ligadas à função do Estado, às leis trabalhistas e à importância de financiar serviços públicos apareceram. O resultado foi simplesmente surpreendente.
Se você ler os cadernos de economia dos jornais e ouvir comentaristas econômicos na televisão e no rádio, encontrará necessariamente o mesmo mantra: os impostos brasileiros são insuportavelmente altos, as leis trabalhistas apenas encarecem os custos e, quanto mais o Estado se afastar da regulação da economia, melhor. Durante décadas foi praticamente só isso o que ouvimos dos ditos "analistas" econômicos deste país.
No entanto décadas de discurso único no campo econômico foram incapazes de fazer 47% dos brasileiros deixarem de acreditar que uma boa sociedade é aquela na qual o Estado tem condição de oferecer o máximo de serviços e benefícios públicos.
Da mesma forma, 54% associam leis trabalhistas mais à defesa dos trabalhadores do que aos empecilhos para as empresas crescerem, e 70% acham que o Estado deveria ser o principal responsável pelo crescimento do Brasil.
Agora, a pergunta que não quer calar é a seguinte: por que tais pessoas praticamente não têm voz na imprensa econômica deste país? Por que elas são tão sub-representadas na dita esfera pública?
A pesquisa ainda demonstra que, do ponto de vista dos costumes, os eleitores brasileiros não se diferenciam muito de um perfil conservador. O que deixa claro como suas escolhas eleitorais são eminentemente marcadas por posições ideológicas no campo econômico.
Uma razão a mais para que tais posições possam ter maior visibilidade e estar em pé de igualdade com as posições econômicas liberais hegemônicas na imprensa brasileira.
É claro que haverá os que virão com a velha explicação ressentida: o país ama o Estado devido à "herança patrimonialista ibérica" e à falta de empreendedorismo congênita de seu povo. Essa é a velha forma de travestir egoísmo social ressentido e preconceituoso com roupas de bricolagem histórica.
Na verdade, o povo brasileiro sabe muito bem a importância da solidariedade social construída por meio da fiscalidade e da tributação dos mais ricos, assim como é cônscio da importância do fortalecimento da capacidade de intervenção do Estado e da defesa do bem comum. Só quem não sabe disso são nossos analistas econômicos, com suas consultorias milionárias pagas pelo sistema financeiro.

"VOCÊ PODE, VOCÊ VAI CONSEGUIR".

Há pessoas que povoam suas vidas com lamentações. “Tudo para mim é difícil, o mundo está contra mim, ninguém me dá valor, ninguém reconhece minha capacidade”. O coro é engrossado por muitas mães: meu filho não tem sorte, ninguém lhe dá oportunidades, quando ele está bem no emprego, ele é despedido. Até no amor não tem sorte. Ele faz tudo bem feito, mas não sai do chão.
Um desses desanimados procurou um mestre. Pretendia que sua sorte mudasse, queria melhorar na vida. Agora não tenho tempo disse o mestre. Se você me ajudar, mais adiante falamos. E entregou a ele um anel e pediu que fosse ao mercado da cidade e o vendesse. E só entregasse a quem lhe desse, em troca, uma moeda de ouro. Depois de algumas horas, desanimado, regressou. E explicou: as pessoas riam de mim, ninguém me deu a moeda de ouro. No máximo ofereceram-me duas pequenas moedas de bronze.
O mestre confiou a ele outra tarefa: vá até à esquina e peça ao joalheiro que avalie o anel e seu valor. Meia hora depois retornou: o ourives disse-me que o anel vale 56 moedas de ouro.
As coisas e as pessoas podem ser medidas pelas aparências ou pela realidade. Um perito é capaz de avaliar com exatidão uma joia e distinguir um diamante de uma pedra colorida. Já a pessoa tem uma avaliação própria. Ela estabelece seu valor. É o que chamamos de autoimagem positiva ou negativa. Isto depende, em grande parte, dos pais e da educação. A criança que é valorizada em casa está sendo preparada para o êxito. Já a criança criticada e diminuída está condicionada ao fracasso. Uma norma do bom senso garante: tudo o que é fácil hoje, já foi difícil. Vale o contrário: tudo o que é difícil poderá tornar-se fácil, desde que estejamos dispostos a pagar o preço exigido e não desanimarmos.
A criança que sempre houve dos pais: você não faz nada de certo, você nunca aprende, tua prima é menor, mas já sabe fazer as coisas bem feitas. Isto contribui para uma imagem negativa. Se dissermos a uma criança que ela é feia, passará a vida se achando feia, mesmo que o espelho diga o contrário. A tarefa dos pais é desafiar os filhos: “Você pode, você vai conseguir!”.
Se a pessoa não se der valor ninguém fará isto. Quando os filhotes estão crescidos, as aves os empurram para fora do ninho. Todos somos joias preciosas e andamos pelos mercados da vida e, muitas vezes, somos julgados de modo errado. Não podemos perder a confiança e descrer de nossos talentos. Nem todos dão para tudo, mas qualquer um pode triunfar num ponto. Nossa tarefa não é concorrer com os outros, mas concorrer conosco mesmos. Exigir de nós o máximo. Ou, para ficar nos ensinamentos do Evangelho, fazer render os talentos recebidos. A pior alternativa é enterrar os talentos.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

ONDE SE PERDEU O TEMPO...

Eu fico sem jeito e ao mesmo tempo superchateado quando vejo pessoas que não sabem o que fazer com o tempo. Sentadas no banco da praça esperando a hora passar. Ou visitando, conversando e até atrapalhando a vida de vizinhos, de parentes. Passando horas e horas sentadas em bares e botecos para “assassinar” o tempo com tragos, cervejas e jogatina.
Adolescentes namoricando horas e horas e desprezando o tempo precioso que poderia servir para o estudo e o trabalho. Gente que vai e que vem, sem saber o que fazer e sem ter o que fazer. Idosos que caem no tédio da vida, porque a vida nada mais tem a oferecer. Coloco-me no lugar destas pessoas e a sensação que tenho é de ver vidas inúteis, vidas que vão se suicidando lentamente.
Todo o tempo é ouro. Sempre me imagino com meia hora de tempo livre, um dia livre de trabalho normal, um tempo até de parar por doença ou outros motivos. Eu teria sonhos, ideias, projetos para ocupar bem esse tempo que se me oferece? Eu teria uma bagagem de leituras, trabalhos, atividades que preencheriam esse meu tempo? Infeliz, muito infeliz a pessoa que não sabe o que fazer com esse tempo disponível. Esse é o tempo mais precioso.
De todo o tempo terei que prestar contas. Não a Deus. Nem a outras pessoas, mas a mim mesmo. Devo prestar contas das batidas de meu coração que são contabilizadas desde a minha concepção. Deverei prestar contas ao meu destino de todos os desejos que meu coração cultivou ou deixou de cultivar.
Devo superar-me de ser simplesmente animal. Miseráveis os que, abafando os sonhos infinitos de seu coração e da vida, se contentam em preencher o tempo com o comer e o beber, com o dormir e satisfazer os prazeres sexuais, com o gargalhar e o rir de si mesmos porque não conseguem ser mais do que simplesmente um corpo que sobrevive.
Onde foi jogado o tempo para o cultivo da mente e da criatividade? Onde foi jogado o tempo para exercitar a espiritualidade? Onde se perdeu o tempo que poderia possibilitar o cultivo de relações de amor, onde o ponto de chegada é o outro e não o si mesmo?
Retirando o tempo para servir-se em seus instintos animais, sobra muito tempo, muitas vezes jogado na lixeira do desperdício, sem recuperação.
O ouro está em minhas mãos. O mesmo ouro que partiu das mãos do Criador e que caiu em minhas mãos, a Ele devo entregar com sonhos realizados e eternizados. Para isso é preciso desde agora sentar-se e perceber-se, estudar-se e decidir-se a ser mais do que horas que passam. Mais do que um corpo biológico que, bem ou mal, vai exercendo suas funções de reprodução. Pergunto-me e pergunto-lhe: em sua frente há uma meia hora, há um dia, há um tempo disponível. Como você vai preenchê-lo e torná-lo sagrado e eternizado? Este é o tempo precioso que está em nossas mãos!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A ESCOLA DOS MEUS SONHOS.

Na escola de meus sonhos, os alunos aprendem a cozinhar, costurar, consertar eletrodomésticos, fazer pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas, conhecer mecânica de automóvel e de geladeira, e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficinas de escultura, desenho, pintura e música. Cantam no coro e tocam na orquestra.

Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao trabalho de lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim, aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que, à superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação.

Não há temas tabus. Todas as situações-limites da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o texto dentro do contexto: a matemática busca exemplos na corrupção dos precatórios e nos leilões das privatizações; o português, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais; a geografia, nos suplementos de turismo e nos conflitos internacionais; a física, nas corridas da Fórmula 1 e pesquisas do supertelescópio Hubble; a química, na qualidade dos cosméticos e na culinária; a história, na violência de policiais a cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores-índios, senhores-escravos, Exército-Canudos etc.

Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de biologia e de educação física se complementem; a multidisciplinaridade faz com que a história do livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e de dança, e associa a história da arte à história das ideologias e das expressões litúrgicas.

Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino fala do judaísmo; o pai-de-santo do candomblé; o padre do catolicismo; o médium do espiritismo; o pastor do protestantismo; o guru do budismo etc.

Na escola dos meus sonhos, os professores são obrigados a fazerem periódicos treinamentos e cursos de capacitação, e só são admitidos se, além da competência, comungam com os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática. Porque é uma escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido sobre o que são democracia e cidadania. Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.

Ela não briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto, adquirido; sua química, analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente; a visão de felicidade; a relação animador-platéia; os tabus e preconceitos reforçados etc. Em suma, não se fecha os olhos à realidade; muda-se a ótica de encará-la.

Há uma integração entre escola, família e sociedade. A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e um mês por ano setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados e comparados às suas práticas.

Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha.  No dia da prova sobre a Independência do Brasil os alunos traziam à classe toda a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar.

Não há coincidência entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.

É mais importante educar que instruir; formar pessoas que profissionais; ensinar a mudar o mundo que a ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade corpo-espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.

Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para poderem se manter. Pois é a escola de uma sociedade onde educação não é privilégio, mas direito universal e, o acesso a ela, dever obrigatório.

Este texto é do Frei Beto. Mas a escola, também é a dos meus sonhos.

À SEMELHANÇA DO GALO...

Era um belo galo vermelho. Dotado de melodiosa voz, cultivava uma exagerada auto-imagem. Notou que, sempre que ele cantava, surgia o sol. Depois de algum tempo convenceu-se que a noite terminava e o dia começava obedecendo ao seu comando. Era ele quem determinava o aparecimento do sol. Naturalmente, supunha, os outros animais tinham inveja de seu poder. E como não recebesse os elogios - no seu ponto de vista - merecidos, mudou-se para outra localidade. No dia seguinte, um pouco inseguro, voltou a cantar o e sol apareceu. Satisfeito, o galo ficou pensando na turma que ficara na aldeia anterior. Eles, agora, estão na escuridão completa e aprenderão a me valorizar.
Porque era verdadeiramente santo, um monge tinha uma atitude oposta. Um dia um anjo ofereceu a ele o dom das curas. Deixe que Deus cure, foi a resposta humilde do monge. Mas os milagres converterão muita gente, insistiu o anjo, e muitos pecadores se converterão. A tarefa de mudar os corações pertence a Deus, desculpou-se o santo homem. Insistente, o anjo prosseguiu: seus milagres levarão muitas pessoas a imitá-lo. Não, disse o santo, eles devem imitar apenas a Deus.
E o anjo retirou-se, sem se dar por vencido. A partir daí a sombra do santo começou a curar as pessoas. O monge nunca soube, apenas alegrou-se que as pessoas tivessem deixado de lado a sua pessoa e se contentassem com a sombra.
À semelhança do galo, há pessoas que se imaginam como centro do mundo. Tudo deve passar por elas, sua opinião é única e só elas sabem fazer bem as tarefas. Suas frases sempre iniciam pelo orgulhoso pronome pessoal “eu”. Pessoas assim precisam ser alimentadas, a cada dia, pelos elogios. Caso não seja elogiado, ele já sabe o motivo: a inveja. É a psicologia do galo, que - pretensamente - faz o sol nascer. Assemelham-se aos orgulhosos pavões, sempre exibindo suas plumagens.
Esse grupo não é maioria. À semelhança do humilde monge, muitas pessoas vivem na simplicidade, têm idéias claras sobre seu objetivo e suas realizações. O escritor Georges Bernanos falava das inocências anônimas que salvam o mundo.
Em alguma aldeia remota, hoje, algum galo imagina ter o poder de fazer surgir o sol no horizonte. Em outras aldeias, muitos humildes homens de Deus continuam a curar com sua sombra. E nem eles mesmos sabem disso.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

ESPIRITUALIDADE

A comédia humana se une ao trágico no comportamento político, que faz rir e chorar. A mesma comédia e tragédia se manifestam na economia, na vida em família, na vida social, nos meios de comunicação e em todos os setores humanos. Tudo é motivo de rir e chorar. Não escapam disso nem as atitudes de manifestação religiosa e espiritual do ser humano. Cultos e celebrações, explosões religiosas com gritos e choros, com aleluias e desesperos, ritos frios, realizados sem coração e sem emoções, pregações que apelam para anjos e demônios, santos e orixás, criação de infernos e céus em mundos que não existem, tudo isso manifesta que estamos muito longe de sermos criaturas saídas das mãos do grande artista, que nos fez à sua imagem e semelhança. O desastre da espiritualidade é ter-se tornado criação de líderes religiosos de todos os tipos, que idealizam uma igreja ou um movimento religioso à sua imagem e semelhança. Ou ainda, do tamanho de seu bolso e ambição.
O DESASTRE DO ESPIRITUALISMO. Espiritualismo é a situação do viver fora do mundo. Fugindo da condição humana. Fugindo do pecado e da fragilidade humana. Quem se dispõe a aguentar pregações religiosas de pastores que, numa hora de sermão, dizem mais de trezentas vezes “a palavra do Senhor?”. Não há quem aguente um sermão onde somente se fala de Deus e da vontade de Deus. Não há quem suporte ler livros, escutar teólogos e pregadores de movimentos espiritualistas que esquecem o humano. Esquecem que temos os pés fincados no chão. Que temos raízes na terra. Que somos emoções e frustrações. Que somos grandeza e pequenez. O que dizer dos movimentos de igreja e atitudes de pregadores que não só desconhecem, mas desprezam a parapsicologia e a psicoterapia? É difícil realizar a cura divina sem a cura humana!
CULTIVAR UMA ESPIRITUALIDADE HUMANA. Temos que descer para melhor subir. Descer à nossa condição de pecadores, frágeis e limitados. Descer os degraus de nossas frustrações, medos, ansiedades, doenças, cansaços e situações humanas do cotidiano. Através de todas essas situações é possível realizar a subida. Nessa subida, feita com consciência de busca de realização, encontramos o caminho do coração. E se esse caminho se encontrar atrapalhado e sem rumos, podemos dispor da grande luz, que ilumina todos os caminhos e todos os corações, que é a pessoa de Jesus e sua Palavra. Ele, que soube descer até nós, vai nos ajudar a subir até Ele. A pessoa humana realiza sua espiritualidade a partir de dentro do seu ser, sem buscar um Deus nas nuvens e nas reflexões teológicas. Deus se deixa tocar e encontrar através do humano e do divino que está em nós. Tudo se passa dentro de nós. A busca da espiritualidade fora de nós é fuga da responsabilidade pessoal.
CULTIVAR UMA ESPIRITUALIDADE SADIA. Espiritualidade da alegria e do encontro, da esperança e do otimismo, da realização dos desejos e sonhos humanos, do amor-entrega ao Grande amor, da conquista da paz como resultado da harmonia global.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A UTOPIA NÃO SE OPÕE À REALIDADE.

No desamparo que grassa na humanidade atual faz-se urgente resgatar o sentido libertador da utopia. Na verdade, vivemos no olho de uma crise civilizacional de proporções planetárias. Toda crise oferece chances de transformação bem como riscos de fracasso. Na crise, medo e esperança se mesclam, especialmente agora que estamos já dentro do aquecimento global. Precisamos de esperança. Ela se expressa na linguagem das utopias. Estas, por sua natureza, nunca vão se realizar totalmente. Mas elas nos mantêm caminhando. Bem disse o irlandês Oscar Wilde: “Um mapa do mundo que não inclua a utopia não é digno de se espiar, pois ignora o único território em que a humanidade sempre atraca, partindo em seguida para uma terra ainda melhor”. Entre nós acertadamente observou o poeta Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis...ora!/Não é motivo para não querê-las/Que tristes os caminhos se não fora/ A mágica presença das estrelas”.
A utopia não se opõe à realidade, antes pertence a ela, porque esta não é feita apenas por aquilo que é dado, mas por aquilo que é potencial e que pode um dia se transformar em dado. A utopia nasce deste transfundo de virtualidades presentes na história e em cada pessoa. O filósofo Ernst Bloch cunhou a expressão princípio-esperança. Por princípio-esperança, que é mais que a virtude da esperança, ele entende o inesgotável potencial da existência humana e da história que permite dizer não a qualquer realidade concreta, às limitações espaço-temporais, aos modelos políticos e às barreiras que cerceiam o viver, o saber, o querer e o amar.
O ser humano diz não porque primeiro disse sim: sim à vida, ao sentido, aos sonhos e à plenitude ansiada. Embora realisticamente não entreveja a total plenitude no horizonte das concretizações históricas, nem por isso ele deixa de ansiar por ela com uma esperança jamais arrefecida. 
 Como comentava Bloch: “O verdadeiro Gênese não está no começo mas no fim”. Só no termo do processo da evolução serão verdadeiras as palavras das Escrituras: “E Deus viu que tudo era bom”. Enquanto evoluímos nem tudo é bom, só perfectível.
Anunciar tal esperança no atual contexto sombrio do mundo não é irrelevante. Transforma a eventual tragédia da Terra e da Humanidade devido às ameaças sociais e ecológicas, numa crise purificadora. Vamos fazer uma travessia perigosa, mas a vida será garantida e o planeta ainda se regenerará.

UMA CARTA AOS JUDEUS.

“Por mais que o governo de Israel e todos os que o apoiam tentem, não irei odiar a vocês, irmãos judeus. Ainda que as tropas israelenses matem centenas de crianças e pessoas inocentes, não irei desejar a morte de suas crianças nem jogar a culpa na totalidade de seu povo.
“Mesmo que manchem a Faixa de Gaza com o sangue de um povo, não irei revoltar-me contra nenhuma etnia nem julgar que há raças melhores ou com mais direitos que outras, como quer nos fazer acreditar o governo israelense.
“Embora eu também queira ouvir as vozes judaicas de protesto contra o massacre dos palestinos, não deixarei de condenar os que se calaram diante do holocausto judeu. E mesmo que tomem à força a terra do povo árabe, não irei jamais apoiar o confisco dos bens do povo judaico, praticado há tempos pelo governo nazista.
“Por mais que o governo de Israel e todos que o apoiam traiam a tradição hebraica dos grandes profetas que clamaram por justiça e paz, ainda quero manter viva a esperança que eles anunciaram. Mesmo que joguem sua memória na lata de lixo.
“Sei que muitos de vocês condenam a violência, não apoiam o massacre dos árabes palestinos, e gostariam que o governo de Israel respeitasse as decisões da ONU e o clamor da comunidade internacional pelo cessar-fogo imediato. Mas, gritem! Se sua voz não for ouvida, acreditar-se-ão com razão aqueles que ainda falam mal de seu povo.
“Mesmo que sejam deploráveis todos os anti-semitas, o silêncio dos judeus diante do massacre perpetrado pelo país que ostenta a estrela de Davi na bandeira pode ser usado como reforço para os argumentos torpes da superioridade racial.
“Há mais de 65 anos seu povo clamou ao mundo por solidariedade. Chegou o momento de retribuir, de mostrar que a solidariedade é um sentimento universal e não restrito a uma etnia. Não deixem o governo de Israel fazer esquecer o quanto vocês sofreram como vítimas, só porque agora ele é algoz e está protegido pela maior potência mundial, os EUA.
“Não permitam que a ação de Israel faça parecer que, apesar das manifestações mundiais de condenação, seu Estado se acredita o único que possui razão, pois era assim que o governo alemão pensava no tempo do nazismo.
“Estejam certos de uma coisa: independentemente do resultado da absurda campanha israelense ou qualquer que seja a posição de seu povo diante da violência e injustiça cometida por aquele país, não irei ceder à tentação do pensamento racista; não irei apagar da minha memória a catástrofe do nazismo e o sofrimento do povo judeu; não irei pensar que há povos que não merecem nação e que devem ser eliminados; não deixarei de condenar o anti-semitismo ou qualquer tipo de preconceito étnico.
“Continuarei defendendo a ideia de que todos, sem distinção, somos iguais, e temos os mesmos direitos: judeus, negros, árabes, índios, asiáticos etc. Manter-me-ei firme em minhas convicções, pois jamais quero me igualar aos governantes de Israel e àqueles que o apoiam.”

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

COMO ESCAPAR DO FIM DO MUNDO.

Chegamos a um tal acúmulo de crises que, conjugadas, podem pôr fim a este tipo de mundo que nos últimos séculos o Ocidente impôs a todo o globo. Trata-se de uma crise de civilização e de paradigma de relação com o conjunto dos ecossistemas que compõem o planeta Terra, relação de conquista e de dominação. Assim como está, a humanidade não pode continuar. Caso contrário, vai ao encontro de um colapso coletivo da espécie. É tempo de balanço face à catástrofe previsível.
Usando um discurso secular, apliquemos, analogamente, o mesmo esquema à presente situação: a humanidade rompeu a aliança de harmonia com a natureza; esta a castigou com secas, inundações, tufões e mudanças climáticas; a humanidade tirou as lições destes cataclismas e definiu um outro rumo para o futuro; a natureza resgatada favorece o surgimento de governos que mantêm a aliança originária de harmonia natureza-humanidade.
Ocorre que apenas uma parte deste esquema está sendo vivida: estamos tirando algumas lições dos transtornos globais. Muitos se dão conta de que temos que mudar os fundamentos da convivência humana e com a Terra, organismo vivo doente e incapaz de se autorregular. Essa mudança deve possuir uma função terapêutica: salvar a Terra e a humanidade que se condicionam mutuamente. Outros, no entanto, querem continuar pela mesma rota que os conduziu ao desastre atual. O fato é que precisamos escutar aqueles que com consciência da situação oferecem as melhores propostas. Eles não se encontram nos centros do poder decisório do Império. Estão na periferia, no universo dos pobres.
Uma destas vozes é de um indígena, o presidente da Bolívia, Evo Morales. Ele escreveu,  uma carta aberta à Convenção da ONU sobre mudanças climáticas. Escutando o chamado da Pacha Mama conclama:
“Necessitamos de uma Organização Mundial do Meio Ambiente e da Mudança Climática, à qual se subordinem as organizações comerciais e financeiras multilaterais, para promover um modelo distinto de desenvolvimento, amigável com a natureza e que resolva os graves problemas da pobreza. Esta organização tem que contar com mecanismos efetivos de implantação de programas, verificação e sanção para garantir o cumprimento dos acordos presentes e futuros... A humanidade é capaz de salvar o planeta se recuperar os princípios da solidariedade, da complementaridade e da harmonia com a natureza, em contraposição ao império da competição, do lucro e do consumismo dos recursos naturais.”
Evo Morales é indígena de um país pobre. Temo que ele conheça o destino da triste história narrada pelo livro do Eclesiastes: “Um rei poderoso marchou sobre uma pequena cidade; cercou-a e levantou contra ela grandes obras de assédio. Havia na cidade um homem pobre, porém sábio, que poderia ter salvo a cidade. Mas ninguém se lembrou daquele homem pobre porque a sabedoria do pobre é desprezada”(9,14-15). Que isso não se repita de novo.

ATENÇÃO À PONTUAÇÃO.

Ultimamente, no que diz respeito à língua portuguesa, temos ouvido muito falar em ortografia, por conta da reforma que,  mudou o modo de escrever no Brasil. O português está entre os idiomas mais difíceis de se aprender, devido às inúmeras regras de grafia, acentuação, concordância verbal, aos diferentes significados que uma mesma palavra pode assumir etc. Se já é difícil para os brasileiros adaptar-se a tantas normas, imagina para os estrangeiros!
Por tudo isso, muitas pessoas atrapalham-se na hora de lidar com o português. Além dessas regras, há outras, menos comentadas, mas que também costumam gerar confusão: as regras de pontuação. 
Ao elaborar um texto, onde colocar vírgula, ponto de exclamação ou interrogação, dois pontos, aspas... Quanto ao ponto final, não há muita dúvida, como o próprio nome do sinal gráfico indica, ele deve ser utilizado ao final de cada sentença. As aspas geralmente indicam que alguém está falando, mas também são usadas para destacar expressões estrangeiras, enfatizar uma palavra ou para dar-lhe sentido irônico, figurado: o genro ficou “feliz” com a visita da sogra, por exemplo. 
Já a vírgula não tem uma regra tão clara e costuma gerar muita confusão. Dependendo do lugar da frase onde ela é colocada, pode até mudar o seu sentido; sinal de que a pontuação gráfica não é bobagem; tem, realmente, importância. 
A pontuação surgiu para ajudar as pessoas a ler em voz alta. Há certos recursos da linguagem, como a pausa, a melodia, a entonação e até mesmo o silêncio, que só estão presentes na comunicação oral. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usam-se os sinais de pontuação. 
Na Antiguidade, a maioria da população não sabia ler; então, os poucos privilegiados que aprendiam tinham que ler em alto e bom som, para que mais pessoas tomassem conhecimento dos textos. Para auxiliar esses leitores, sinais conhecidos pelo nome de “pontos” eram adicionados às páginas dos textos. A palavra pontuação vem do latim punctus, que significa, justamente, ponto. Esses pontos indicavam aos leitores quando deveriam fazer uma pausa, o que enfatizar, quando questionar ou demonstrar surpresa. 
No início da Era Cristã na Europa, o uso desses pontos era muito comum, mas nem todos os utilizavam para indicar as mesmas coisas. Quando a técnica de impressão foi inventada, no século XV, os impressores queriam regras mais claras sobre qual sinal usar, onde, quando, a fim de padronizar os textos. Desde então, começaram a surgir as regras de pontuação.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

PENSAMENTOS CONSTRUTIVOS E PROJETOS DE VIDA SAUDÁVEIS...

Quem não gosta de um corpo bonito e saudável? Quem não gostaria de ter um corpo eternamente jovem: belo, ágil, atlético, saudável? Porém, a realidade social mostra que esse sonho se realiza em algumas pessoas mais privilegiadas, e assim mesmo é muito transitório. Estão ali, misturados na sociedade, corpos sadios e doentes, jovens e velhos, perfeitos e deficientes, gordos e magros, baixos e altos, pretos e brancos. Há descuidos de comportamento na hora da concepção de uma nova vida, que pode gerar corpos menos sadios e menos perfeitos. Sabe-se que a genética influencia na formação das gerações humanas, mas que, também, não é determinante. Há possibilidades de mudanças no corpo, na mente e nas emoções. Somos pessoas que vamos nos construindo e continuamente nos fazendo. A genética predispõe, mas nem sempre determina na totalidade.
SOMOS FRUTO DO QUE COMEMOS e como comemos. É sabido que um corpo saudável é resultado da alimentação abundante em sementes, frutas e legumes. É resultado da limitação dos enlatados, doces, salgados e gorduras. Cabe a cada pessoa fazer a escolha para o que vai comer.
SOMOS FRUTO DO QUE BEBEMOS e como bebemos. O estudo do corpo ensina que somos setenta por cento água. Não podemos deixar nosso corpo assinalar no vermelho da sede. Nem podemos encher o tanque com combustível deteriorado. É do conhecimento de todos que não se pode diariamente encher esse tanque com refrigerantes e álcool. Cada pessoa é livre em escolher e decidir.
SOMOS FRUTO DO QUE PENSAMOS e como pensamos. Se pensarmos negativa e derrotadamente, seremos pessoas frustradas e perdedoras. Pensamentos construtivos e projetos de vida sadios levam à vida sadia. Como se pensa se vive. Como se é no pensamento, assim será no corpo. O psicossomático é que comanda a vida.
SOMOS FRUTO DO QUE SENTIMOS e como sentimos. Somos nossas emoções. Nosso corpo reflete nossas emoções. Emoções sadias resultam em vida alegre e satisfeita, em vida de boas relações. Emoções doentias levam ao fracasso da vida e a um corpo doente.
SOMOS FRUTO DO QUANTO DORMIMOS e como dormimos. Como fica a vida das pessoas que trocam o dia pela noite? Qual o resultado de um corpo e de uma mente que contrariam as leis do universo e da natureza? A noite é para dormir e o dia para trabalhar. O corpo quer oito horas de sono e um sono no silêncio e no sossego. Essa é a melhor atitude ou será melhor incentivar a indústria dos psicotrópicos?
SOMOS FRUTO DO QUE FAZEMOS e como fazemos. A escolha da atividade certa é fonte de saúde. Envolver-se cem por cento no que se faz é viver sem conflitos e satisfeito. “Faça poucas coisas, mas faça-as bem” é a regra da sabedoria do trabalho. Cabe a cada um escolher e construir um corpo saudável, sentir-se de bem com a vida.

PODE ATÉ PIORAR...

O diretor de um jornal confiou ao seu melhor jornalista uma matéria sobre como consertar o mundo. Deu-lhe três dias de folga para refletir. Ao chegar em casa, o jornalista disse à esposa que ganhara três dias de folga e iriam passear. No final do terceiro dia, o jornalista foi para seu escritório, em sua casa, para redigir a matéria. Estendeu o mapa do mundo buscando inspiração. Nisto entrou na sala sua filhinha de cinco anos. Havia encontrado uma flor de diversas cores e queria saber a causa desta diversidade. Para livrar-se da menina, o pai pegou o mapa, rasgou-o em dezenas de pedaços e mandou que a filha montasse de novo o mapa, depois daria a explicação.
Passaram-se alguns minutos e, para espanto do pai, a filha voltou com o mapa completamente restaurado. Surpreso, quis saber como a filha havia conseguido, com tanta rapidez, reconstituir o mapa. É que atrás do mapa, explicou a filha, havia o desenho de um homem. Eu consertei o homem e acabei consertando o mundo.
Todos temos a preocupação de consertar o mundo. O problema é onde começar. Uma velha discussão apresenta duas alternativas. Para alguns, basta mudar o homem e as estruturas mudarão. Para outros, é preciso mudar as estruturas, assim o homem mudará. Ambas as teorias falham. Para mudar o mundo, devemos começar por nós mesmos. Sem esse ponto de partida, o mundo vai continuar como é. Pode até piorar.
Facilmente acusamos os outros pelos desacertos do mundo. Eles são os responsáveis. Mas quem são eles? E acabamos fazendo uma lista: os políticos, os comerciantes, os padres, os policiais, os omissos... Eles, sempre eles. E o mundo continua precisando mudar. E continua cheio de lamentações porque ele não muda... É que eles não ajudam.
A mudança é um processo. E a pessoa precisa acolher esse processo. A mudança tem um ponto de partida e um horizonte sem fim para chegar. Mas esta distância enorme tem sempre um ponto de partida. Aquele que começa periga acabar, lembra o povo. E o começo funciona melhor a partir de pequenas coisas. Um edifício é feito de tijolos, a praia é composta de milhões de partículas de areia e é com gotas que se forma o mar.
A experiência de cada dia nos diz que a vida corre sempre para frente, nunca volta atrás. Algumas coisas não se recuperam: a pedra depois de lançada, a palavra depois de proferida, a ocasião, depois de perdida, o tempo depois de passado. Tudo isso precisa ser contabilizado na soma da vida. A cada dia é possível recomeçar, mas recomeçamos a partir do dia anterior. A palavra, depois de proferida admite uma correção. Mas a pedra lançada, a ocasião perdida e o tempo passado não voltam atrás.
Diante desse panorama, é inteligente adotar algumas medidas. O mundo precisa ser reformado, mas a partir de nós mesmos. Mas a vida não volta atrás. O tempo é limitado e por isso não podemos perder qualquer ocasião. É com elas que se faz uma vida. É com ela que se pode perder o brilho de uma vida.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

SORRIA!!!

Dom de Deus, a alegria é também uma conquista humana. Ela não tem sua origem numa piada ou no fundo de um copo. É uma maneira de viver e conviver. A pessoa alegre é um raio de sol que ilumina a todos quantos se aproximam dela. Alegria é um tempero que dá sabor a todos os dias. Algumas normas ajudam a afugentar a tristeza e manter a alegria:
Dê maior importância às coisas positivas. Ignore o pessimismo, os insultos, as críticas negativas. A vida é curta demais para ser maltratada com estes sentimentos menores. A maneira mais inteligente de responder a uma crítica injusta é ignorá-la. Se a crítica for procedente, leve-a em conta, mas não perca a alegria.
Evite julgar os outros. A pessoa é sempre um mistério e carrega consigo razões por nós desconhecidas. Prudentemente, o Evangelho nos pede: não julgueis. É virtude e sabedoria, uma vez que conhecemos tão pouco as pessoas que nos cercam. Julgar é colocar-se como juiz e referência da verdade.
Aprenda a perdoar. Para os gregos, a vingança era o mais refinado dos prazeres. O Evangelho nos ensina uma maneira inteligente de vingar-se: é perdoar. Perdoar é não aceitar que o mal tenha a última palavra. O bem é a única maneira de superar o mal. E o perdão torna feliz, principalmente, àquele que o concede. E esta alegria vem acompanhada pela paz. Guardar mágoas e ressentimentos é ingerir, continuamente, doses de veneno, imaginando que este veneno vá prejudicar o ofensor.
Faça coisas que teme. Ao evitar fazer alguma coisa ou assumir um desafio, pergunte-se o porquê desta atitude. As resistências que experimentamos, quase sempre, indicam um problema mal resolvido ou que não queremos encarar. Olhar os sentimentos e os fatos de frente é a atitude de pessoa madura e integrada. Os sentimentos que rejeitamos são como meninos de rua. Quando menos esperamos, eles nos assaltam.
Sorria mais. É o melhor cartão de visita. É uma ginástica para o rosto e para a alma. O sorriso significa que a pessoa é importante, inteligente e merece ser amada. O sorriso é também indulgência, é um incentivo a recomeçar. A pessoa também tem o direito de chorar, mas não tem o direito de se tornar amarga. O coração nos pertence e pode chorar, mas o rosto pertence aos outros e por isso deve sorrir.

É POSSÍVEL CONTROLAR A VIOLÊNCIA?

A cultura dominante, hoje mundializada, se estrutura ao redor da vontade de poder que se traduz por vontade de dominação da natureza, do outro, dos povos e dos mercados. Essa é a lógica dos dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra. As festas nacionais e seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência. Os meios de comunicação levam ao paroxismo a magnificação de todo tipo de violência, bem simbolizado pelo ''exterminador do futuro''.
Nessa cultura, o militar, o banqueiro e o especulador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo. Nos processos de socialização formal e informal, ela não cria mediações para uma cultura da paz. E sempre de novo faz suscitar a pergunta que, de forma dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é possível superar ou controlar a violência? Freud, realisticamente, responde: ''É impossível aos homens controlar totalmente o instinto de morte. Esfaimados, pensamos no moinho, que tão lentamente mói que poderíamos morrer de fome antes de receber a farinha.''
Sem detalhar a questão, diríamos que por detrás da violência funcionam poderosas estruturas. A primeira delas é o caos sempre presente no processo cosmogênico; a evolução comporta violência em todas as suas fases. Possivelmente a inteligência nos foi dada também para pormos limites a ela e conferir-lhe um sentido construtivo. Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que instaurou a dominação do homem sobre a mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de violência como o Estado, as classes, o projeto da tecnociência, os processos de produção como objetivação da natureza e sua sistemática depredação. Essa cultura patriarcal gestou, em terceiro lugar, a guerra como forma de resolução dos conflitos. Sobre essa vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a competição e não a cooperação; por isso, gera permanentemente desigualdades, injustiças e violências. Todas essas forças se articulam estruturalmente para consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos. A essa cultura da violência há que se opor a cultura da paz. Hoje ela é imperativa.
É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando, por todas as partes, o pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto humano. Ou limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no limite, o destino dos dinossauros.
Onde buscar as inspirações para a cultura da paz? Ao lado de estruturas de agressividade, temos capacidades de afetividade, compaixão, solidariedade e amori-zação. Hoje é urgente que desentranhemos tais forças para conferir rumo mais benfazejo à história. Toda protelação é insensata.
O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e co-pilotar a marcha da evolução. Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de reengenharia da violência mediante processos civilizatórios de contenção e uso de racionalidade. A competitividade continua a valer mas no sentido do melhor e não de destruição do outro. Assim todos ganham e não apenas um.
Há muito que filósofos da estatura de Martin Heidegger, resgatando uma antiga tradição que remonta aos tempos de César Augusto, vêem no cuidado a essência do ser humano. Sem cuidado, ele não vive nem sobrevive. Cuidado representa uma relação amorosa para com a realidade. Onde vige cuidado de uns para com os outros desaparece o medo, origem secreta de toda violência, como analisou Freud. A cultura da paz começa quando se cultiva a memória e o exemplo de figuras que representam o cuidado e a vivência da dimensão de generosidade que nos habita, como Gandhi, Dom Helder Câmara, Luther King e outros. Importa fazermos as revoluções moleculares (Gatarri), começando por nós mesmos. Cada um estabelece como projeto pessoal e coletivo a paz enquanto método e enquanto meta, paz que resulta dos valores da cooperação, do cuidado, da compaixão e da amorosidade, vividos cotidianamente.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ESTA NOITE 200 MILHÕES DE CRIANÇAS DORMIRÃO NA RUA.

Ilude-se quem imagina significar a renúncia de Fidel o começo do fim do socialismo em Cuba. Não há nenhum sintoma de que setores significativos da sociedade cubana aspirem à volta ao capitalismo. Nem os bispos da Igreja Católica. Exceção a uns poucos que, em nome dos direitos humanos, não se importariam que o futuro de Cuba fosse equivalente ao presente de Honduras, Guatemala ou Nicarágua. Aliás, nenhum dos que se evadiram do país prosseguiu na defesa dos direitos humanos ao inserir-se no mundo encantado do consumismo...
Cuba não é avessa a mudanças. O próprio Raúl Castro desencadeou um processo interno de críticas à Revolução, através das organizações de massa e dos setores profissionais. São mais de 1 milhão de sugestões ora analisadas pelo governo. Os cubanos sabem que as dificuldades são enormes, pois vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética; bloqueada há quase de 50 anos pelo governo dos EUA.
Malgrado tudo isso, o país mereceu elogios do papa João Paulo II por ocasião de sua visita, em 1998. No IDH da ONU, o Brasil comemorou o fato de figurar em 70º lugar. Os primeiros setenta países são considerados os melhores em qualidade de vida. Cuba, onde nada se paga pelo direito universal à saúde e educação de qualidades, figura em 51º lugar.
O país apresenta uma taxa de alfabetização de 99,8%; conta com 70.594 médicos para uma população de 11,2 milhões (1 médico para 160 habitantes); índice de mortalidade infantil de 5,3 por cada 1.000 nascidos vivos (nos EUA são 7 e, no Brasil, 27); 800 mil diplomados em 67 universidades, nas quais ingressam, por ano, 606 mil estudantes.
Hoje, Cuba mantém médicos e professores atuando em mais de 100 países, incluído o Brasil, e promove, em toda a América Latina, a Operação Milagros, para curar gratuitamente enfermidades dos olhos, e a campanha de alfabetização Yo si puedo (Sim, eu sou capaz), com resultados que convenceram a presidente Dilma a adotar o método no Brasil.
Haverá, sim, mudanças em Cuba quando cessar o bloqueio dos EUA; forem libertados os cinco cubanos presos injustamente na Flórida por lutarem contra o terrorismo; e se a base naval de Guantánamo, ora utilizada como cárcere clandestino - símbolo mundial do desrespeito aos direitos humanos e civis - de supostos terroristas for devolvida.
Não se espere, contudo, que Cuba arranque das portas de Havana dois cartazes que envergonham a nós, latino-americanos, que vivemos em ilhas de opulência cercadas de miséria por todos os lados: “A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana.” “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana.”

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DEUS AINDA É IMPORTANTE NA SUA VIDA?

Você liga o rádio em cinco, dez, vinte emissoras; liga seu televisor nas duas, três ou sete estações de sua cidade; compra seu jornal e sua revista... apresentadores, artistas, filósofos, sociólogos, escritores, cantores, jornalistas, políticos, modelos, líderes comunitários, sindicalistas, educadores, psicólogos, psiquiatras, médicos, strip-teasers, banqueiros, industriais e comerciantes todos, todos estão lá, democraticamente dizendo suas verdades.
O que acham da vida, do país, do sexo, do amor, dos outros. A nossa é uma época voltada para a palavra. Se tais programas têm audiência, se tais livros são lidos, é porque há quem deseja ouvir e há quem deseje falar.
Se você prestar atenção verá que um dos assuntos mais incômodos e que mais paixões suscita é o tema religião. No Brasil, ainda mais. Há pregadores entusiasmados que gritam, berram, gesticulam, teatralizam sua fé, salvando fiéis, orando por eles, chorando por eles, intercedendo lacrimosos a Deus em nome do povo sofrido. Há os intelectuais solenes e catedráticos que falam bonito, mas não chegam ao povo, pois não acharam a linguagem.
E há os que criticam. Não perdem uma chance de atacar a tudo e todos.  No mundo dominado pelos grandes meios de comunicação alguns  estão tímidos, assustados, sem saber o que fazer. Alguns grupos que acharam a verdade verdadeira estão agressivos, fanatizados. Querem impor a sua fé nos outros. Todos os dias  ouvimos rádio, lemos jornais e revistas onde sua Igreja não está e não fala. Alguém está fazendo a cabeça do povo neste início de século.
Como crer serenamente no meio de tantas crenças, credos e opiniões? Apesar de tudo o que entra na sua casa vale à pena continuar crendo como crê? Onde você busca suas convicções? A palavra de Deus que lhe chega através da sua Igreja ainda é mais forte que a palavra do mundo? Em outras palavras: Deus ainda é importante na sua vida?

IDEIAS, 0BJETIVOS E PROJETOS SÃO ESTRELAS.

Há uma necessidade de ter estrelas. Há muita ilusão na busca de estrelas. Pior ilusão é querer ser estrela. Brilhar. Os meios de comunicação são especialistas em criar e apagar estrelas. Cantores. Jogadores de futebol. Pilotos. Modelos. Artistas. Criadores de igrejas. Quanta ilusão! Celebridades. Gente que brilha. Estrelas que desaparecem na noite da fragilidade e da condição humana.
ESTRELAS TÊM LUZ PRÓPRIA. Nenhum ser humano tem luz própria. Nenhum ser humano pode dizer-se: eu sou estrela. A condição humana é ser lua. É apenas refletir. Refletir menos ou mais. Ser lua cheia ou lua nova. Depende do comportamento diante do sol, a grande estrela. A pessoa que sonha ser estrela pelo poder e pelo ter, pela aparência e função social, fatalmente um dia cairá na desilusão do sonho não conquistado. O sonho de brilhar é bom. É normal, mas tendo consciência da limitação do sonho. É necessário deixar-se conduzir por estrelas. Estrelas são caminhos e direções.
DEIXAR-SE CONDUZIR POR ESTRELAS-IDÉIAS. Idéias formam ideologias. Formam ideais. Ter ideais é ter objetivos claros. É saber onde se está e onde se quer chegar. Objetivos, ideais e projetos são estrelas que vão indicando caminhos. Essas estrelas não aparecem no céu de graça. São resultado de estudos, reflexões e decisões. São indicadores que dão sentido e direção à vida.
DEIXAR-SE CONDUZIR POR ESTRELAS-SONHOS. Sonhos que não são emoções soltas e vazias. Sonhos são estrelas que povoam o coração humano. Fazem parte do céu estrelado do coração. Estrelas do coração são os sonhos de amar e ser amado, de alegria e festa, de paz e felicidade, de convivência e harmonia, de vida em plenitude. Mesmo na noite escura da dúvida e da descrença, elas continuam brilhando teimosamente para serem seguidas.
DEIXAR-SE CONDUZIR POR ESTRELAS-PESSOAS. Há pessoas que seguiram estrelas que deram certo. Pessoas que viveram de tal maneira que realizaram os sonhos-estrelas de seu coração e se tornaram para outras pessoas ponto de referência. Olhar e espelhar-se nessas pessoas, cuja vida deu certo, é deixar-se alimentar pelas mesmas estrelas que foram guias em suas vidas.
TUDO É CAMINHO PARA UMA ÚNICA ESTRELA. Há uma única e eterna estrela, que é fonte de luz e energia de todas as outras. É a estrela que dirigiu os reis do Oriente, que foram em busca da Grande-Estrela-Jesus. No momento da chegada, a estrela desapareceu. Essa é a função de todas as estrelas: conduzirem para a Eterna-Estrela. No universo tudo é caminho. Tudo é estrela. Mas nada é ponto de chegada. Há um único ponto de chegada, que o coração humano, sempre insatisfeito, anda em busca. Realizar-se como pessoa é seguir estrelas, sabendo que todas passarão. É chegar e habitar a grande estrela da Vida e do Amor.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

CARNAVAL...UMA FESTA PARA O GÁUDIO DOS SENHORES DO PODER.

Somos um povo encerrado numa história de espelhos movediços, história sem linearidades, anticartesiana, barroca e, sobretudo, mágica.
O rei de Creta encomendou a Dédalos o labirinto - palácio de intrincados percursos, onde as pessoas se perdiam, exceto Teseu, graças ao fio de Ariadne, que o conduziu à saída.
Menos de uma semana antes de morrer, a 10 de dezembro de 1830, Bolívar reagiu quando seu médico recomendou-lhe confessar-se antes de receber os sacramentos: “Que significa isto? Estou assim tão doente que vens me falar de testamentos e confissões? Como poderei safar-me deste labirinto?”
Num labirinto se entra e, depois, tudo é mistério e surpresa: curvas, bifurcações, retorno ao mesmo ponto quando se imagina avançar, encruzilhadas, ocultamento de saídas, caos aparente, linhas distorcidas, vias que conduzem a lugar nenhum e obrigam a refazer o caminho, busca incessante de alternativas.
Gabriel García Márquez escreveu “O labirinto” para tentar decifrar o que Bolívar quis dizer ao citar esta metáfora. Jorge Luis Borges não fez outra coisa na vida senão imaginar labirintos perfeitos, lineares, retangulares e circulares, espaciais e temporais, materiais e espirituais. Imaginou um labirinto de labirintos que abarcaria o passado e o futuro, e até mesmo as estrelas.
Octavio Paz, em seu “O labirinto da solidão”, descreve os espanhóis perdidos num labirinto de nostalgia e introspecção. De fato, a tela “Las meninas”, de Velásquez, de 1656, é o espelho do espelho do espelho...
Miró pintava labirintos para intrigar e entreter. Buñuel tinha uma visão labiríntica do mundo. Porém, o grande inspirador de todos os labirintos foi Cervantes, perdido nos corredores da razão e da loucura, das luzes e das trevas, entre Erasmo e Maquiavel. Dom Quixote somos todos nós, latinos, que nos recusamos a fazer distinção entre sonho e realidade, ilusão e fato, quimera e concretude, utopia e história. La Mancha, com seus moinhos de vento, é a nossa pátria espiritual.
Nossos heróis são figuras míticas impregnadas dessa dubiedade. Manipulados pelo poder, esvaziados de sua rebeldia, figuram polidamente em nossos livros didáticos ou congelados em estátuas públicas como o avesso do que foram. Assim, os revoltosos mineiros são chamados de “inconfidentes”, que significa delatores, indignos de confiança. A rebelião é taxada de Inconfidência... Em expressão atualizada seria Deduragem Mineira. E os bandeirantes, hoje consagrados em monumentos, vias e rodovias, não estão longe da versão barroca do esquadrão da morte rural. Que o digam os povos indígenas.
Estes versos de Irmã Juana Inês de la Cruz, a primeira poeta latino-americana, retratam bem o nosso caráter: “Confusa, minha alma / divide-se em duas: / uma é escrava da paixão, / a outra serve à razão.”
Nós, brasileiros, nos movemos em dois fantásticos labirintos: o primeiro, a burocracia estatal, que tememos e da qual não podemos escapar. Dela dependemos, embora horrorizados: infindáveis papéis, solicitações e requerimentos, taxas e filas, tributos incessantes. O direito concedido como favor; o burocrata travestido de sultão, dotado de poderes mágicos.
O segundo labirinto é o carnaval, a festa em que nos escondemos atrás das máscaras, e vestimos a fantasia do que não somos. Ali nossa identidade se desintegra e se reconstitui naquele outro ser que se esconde nos recônditos de nossa alma - ela também labiríntica, andrógina, complexa e cordial.
O carnaval é o grande ritual no qual ofertamos a Momo, no altar da alegria, no panteão dos carros alegóricos, a nossa rebeldia travestida em festa para gáudio dos senhores do poder que, de cima de seus camarotes de luxo, estampam cervejas em suas camisetas e estouram champanhas, felizes porque o ritual sublima o confronto direto, o povão lá em baixo disfarçado em reis e rainhas, enquanto lá em cima eles de fato reinam; o povão de casaca e cartola, enquanto eles mandam; o povão ridicularizando o poder, e eles, inebriados; além de deter o controle sobre as almas, desfrutam dionisiacamente da beleza dos corpos desnudos, naquele espaço em que o sangue se transmuta em suor, e a sensibilidade atinge o ápice como expressão fortuita de uma liberdade que é negada fora do confinamento orgiástico, prisão de todas as nossas pulsões libertárias. Ali são virtualmente rompidas as fronteiras de raça e sexo, classe e poder.
Os espelhos movediços do labirinto refletem a dádiva de Momo; advertem que são apenas uns poucos dias. Depois, sem máscara e fantasia, a realidade coloca cada um em seu devido lugar. E que ninguém tente ultrapassar os limites. Nem ouse estender o fio de Ariadne e encontrar a saída do labirinto.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

EIS O SEGREDO DA LIBERDADE.

Talvez uma das coisas que mais se prestam a enganos e equivocadas interpretações hoje em dia é o entendimento da liberdade. Todo o processo da modernidade, com o crescimento da autonomia do sujeito e o império da razão, parece haver colaborado neste sentido. Assim é que se entende liberdade como fazer o que se tem vontade, o que dá na telha, o que se está a fim de fazer, o que me deixa bem, o que me faz “feliz”.
O resto, os outros, importam pouco. O importante é que eu possa consumir aquilo que tenho vontade, namorar quem e quantos tenho vontade a todo minuto que tenho vontade, fazer e desfazer relações, compromissos e pactos de acordo e ao ritmo do meu direto interesse neles. A sociedade de consumo, a ideologia neoliberal, a cultura de sensações seduzidas onde nos encontramos incita a isso.
O saldo extraído dessa atitude e deste tipo de comportamento é, inegavelmente, negativo. Na verdade, pretendendo ser livres, estamos cada vez mais escravizados: a nossas paixões, nossos desejos e gostos imediatos, a nossas compulsões várias, sexuais, consumistas. E vamos gerando para nós mesmos uma sucessão de múltiplas e sufocantes frustrações que nos atam e agrilhoam e nos levam longe, muito longe, no extremo oposto de onde está a tão decantada liberdade, que tanto nos vangloriamos possuir.
 Lembramos que a vida é um dom, sim, mas é também uma escolha. E o único caminho que pode nos levar à liberdade pela qual tanto suspiramos e à qual tanto aspiramos é escolher, a cada momento e em cada situação, aquilo que leva à vida.
Para a Revelação judaico-cristã, a vida é o outro nome de Deus. Criador de tudo que existe, fonte inesgotável de toda vida que existe, a natural, a humana, Deus é igualmente Senhor da história onde essa vida é chamada a desenvolver-se e chegar à sua plenitude. É seu hálito soprado nas narinas de Adão, feito do barro, que transformará esse que é semelhante aos outros seres vivos pela mortalidade em alguém capaz de auto transcender-se e fazer escolhas que o aproximam do Criador, sem deixar de ser criatura.
Assim é que a escolha mortal do homem e da mulher pela soberba e pela negação de seu estatuto de criatura vai levá-los para longe do paraíso. Assim é que as escolhas que o povo de Israel vai fazendo ao longo de seu caminho ora o aproximam da vida e da liberdade, pela prática da justiça e o culto ao único e verdadeiro Deus que lhe propõe uma aliança; ora o afastam da vida, pela injustiça praticada contra o pobre, pela idolatria que os faz dobrar os joelhos diante dos ídolos vazios e mortos que só podem levá-los à frustração e à morte.
Oferecida como dom, a vida deve ao mesmo tempo ser escolhida, a cada momento e em todo tempo e lugar. Escolhida na contramão da morte, que a cada dia decide pela falta de futuro de milhões de seres humanos condenados à morte prematura e a uma existência sem horizontes. Escolhida a contracorrente de uma sociedade que só valoriza o dinheiro e o sucesso, e marginaliza como perdedores todos aqueles e aquelas que não conseguem entrar em sua avassaladora avalanche. Escolhida na resistência firme e serena ao poder, ao prazer e ao ter que se apresentam como únicos ideais que podem trazer a felicidade e a realização.
 Para que a natureza não seja destruída e o mundo continue sendo habitável para essa geração e a futura. Para que a violência e as drogas não dizimem a juventude em louca corrida em direção a viagens passageiras. Para que a vida não seja interrompida antes sequer de começar, pela prática do aborto, nem interrompida antes de terminar, pela eutanásia irresponsável. Escolher a vida. Eis o segredo da liberdade. Eis o único caminho para que a existência humana seja digna deste nome.